3 de janeiro

31 2 0
                                    

     Sábado

     "Miriam! Miriam! O teu pai acabou de falecer no hospital! Tu prometeste-lhe que ele ia ficar bem e que ele ia sair dali! Tu prometeste que iriam voltar a passear de bicicleta como antes! Porque é que tu não compriste a tua promessa? Porque é que tu não fizeste nada para o salvar? Não faças promessas que não possas comprir! Porque é que tu não lhe disseste que o amavas? Agora nunca mais lhe vais poder dizer isso!" - uma voz gritava-me repetidamente isto, eu não conseguia ver nada estava tudo escuro à minha volta. Sinto uma sensação horrível, como se tivesse a cair e...

     De um pulo sento-me na cama, abro os olhos repentinamente, com receio do que podesse ver, inicialmente não conseguia ver nada, mas aos poucos os meus olhos foram-se habituando à escuridão e apercebi-me que estava no quarto.

     Aquelas voz que tinha ouvido não passava de um sonho, ou melhor um pesadelo, que infelizmente era real, aquilo era o meu subconsciente a gritar-me o que eu sentia, aquelas perguntas e afirmações são o maior peso que eu carrego na minha consciência, ou como eu chamo, são os meus fantasmas.

    Olhei para o telemóvel e eram cinco da manhã, tentei voltar adormecer mas aquele sonho que tinha acabado de ter não me parava de assombrar. Após uma hora a tentar vencer os meus fantasmas desisti, levantei-me é fui até à cozinha beber um chocolate quente, na esperança que aquilo me podesse aclamar e que fizesse com que os meus fantasmas desaparecessem, mas eles nunca me deixam, pois por mais que eu tente entender que eu não podia fazer nada e que eu fiz aquelas promessas quando era muito novinha, esta culpa que sinto nunca desaparece...

     Quando eu tinha apenas dez anos, deram-me a gigantesca notícia de que o meu pai tinha falecido, nessa altura eu fiquei triste como é óbvio, mas na minha inocência de criança acreditei que tudo acabaria por ficar bem. E foi assim por uns tempos...

     Até eu começar a crescer, apercebendo-me que o mundo não é assim tão cor-de-rosa como o pintava, e à medida que ia crescendo a minha tristeza crescia, pela falta que sentia do meu pai e principalmente pela promessa que não cumpri.

     Apesar de já se terem passado sensivelmente seis anos, lembro-me perfeitamente do dia da promessa. Eu fui visitar o meu pai ao hospital, e estava a falar com ele e ele estava constantemente a sorrir para mim, com a maior felicidade do mundo, enchendo-me de uma alegria imensa. No fim da visita eu estava-me a despedir do meu pai e com imenso receio prometi-lhe "tu vais ficar bem, vais ver! E vais sair daqui e nós vamos passear de bicicleta como antes. Prometo-te".  

     Aquelas palavras que lhe tinha dito encheram-me de confiança que aquilo aconteceria mesmo e a verdade foi que o meu pai começou a melhorar e ele já estava praticamente bem, mas a vida não é um mar de rosas, e aquilo que nós achamos que só acontece aos outros, acaba por também acontecer a nós, o meu pai faleceu. E eu não pode cumprir a promessa.

     Neste momento, lágrimas escorriam pelo meu rosto, e eu não as conseguia controlar, uma tristeza profunda controlava o meu corpo naquele momento, ao relembrar-me daqueles momentos.

    Obriguei-me a ir lavar a cara à casa de banho, com o intuito de me acalmar, a verdade é que me acalmou exteriormente, mas no interior eu ainda me debatia e me contabilizava por tudo. Será que algum dia esta dor desaparecerá?

     Passei o resto do dia enfiada na cama, a ler e a ouvir música. Mas constantemente os meus pensamentos ora iam para as memórias que eu tinha com o meu pai, o que me dava uma vontade incontrolável de chorar, ora relembrava-me do Rui, dando-me uma imensa vontade de lhe mandar uma mensagem.

     Mas eu fui forte não derramei nenhuma lágrimas, nem mandei nenhuma mensagem ao Rui!

Olá! Espero que tenham gostado!
Este capítulo retrata uma parte mais triste da vida da Miriam...
Digam-me o que acharam, se achavam que devia ter feito um capítulo um pouco mais alegre ou se gostaram dele assim.
Bjs.

Querido diário,Onde histórias criam vida. Descubra agora