7.Cicatrizes

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Seguiu-se um tempo tranquilo e feliz dentro daquele sobrado, Shura havia pedido uma licença para Atena, assim poderia ajudar melhor Rosalia com sua recuperação e toda aquela papelada infinita do seguro daquele bar.

Ir atrás de laudos, autorizações, certificados e documentos que Shura nem fazia ideia que existiam deixavam ele quase louco, fora reuniões com a corretora. O cavaleiro quase preferia tentar subir as doze casas, como os cavaleiros de bronze fizeram, do que ficar no meio daquele mar de papéis.

Rosália também havia feito amizade com Fatma, a melhor enfermeira do Santuário, que a ajudava com os curativos, e Tétis, que já conhecia devido ao bar. A ex-marina inclusive deu um novo ar para seus cabelos negros.

A famosa fada verde também era amiga dos outros cavaleiros, na verdade os conhecia bem até demais. Havia servido todos eles no antigo bar pelo menos uma vez, então sempre que tinha um tempo gostava de ir ao santuário para conversar e respirar um pouco.

Mesmo com todos os problemas, eventualmente surgia um tempo para Rosalia e Shura desfrutarem juntos de alguns prazeres da vida. Os passatempos preferidos sempre eram ler, conversar, assistir TV, aguar as plantas e cozinhar.

O que o cavaleiro mais gostava com certeza era de ficar fazendo absolutamente nada, enquanto aproveitava sua espreguiçadeira confortável e o calor gostoso do sol nos finais de tarde. Curiosamente, Rosalia não se juntava a ele nestes momentos. O cavaleiro não entendia o porquê mas com certeza iria descobrir, já que nesta tarde se cansou de ser observado de longe por ela.

- Rosa, você não quer se sentar aqui ao invés de se esconder na cozinha? Um pouco de sol faria bem pra você. - Apesar dos olhos fechados Shura conseguia sentir claramente a presença dela e aqueles olhos verdes sobre si.

- Ha! Claro, porque não? - Rosalia tinha se assustado quando ouviu seu nome, não imaginava que ele poderia saber que estava ali na cozinha, já que estava quieta como um rato.

Passado o susto, ela caminhou e sentou-se na espreguiçadeira que estava ao lado dele. Apesar do calor, ela usava sua saia mais longa e uma camiseta também com as mangas longas.

Shura não entendeu a escolha já que ele mesmo vestia apenas uma bermuda para aproveitar o sol, mas parando para pensar ultimamente ela havia se vestido assim mesmo estando quente.

Não era a Rosa alegre e confiante que Shura conhecia.

- Você não prefere vestir algo mais leve? Não vai aproveitar o sol assim.

- Obrigada, mas estou bem assim, sério.

Não estava bem assim e Shura sabia disso, só não entendia o porquê.

Percebeu logo o problema quando olhou para a mão dela. Imediatamente ele se levantou e sentou de frente para ela lhe ofereceu o próprio braço, ela não entendeu o gesto mas também se virou para ele.

- Está vendo? Eu também estou cheio de cicatrizes, todo mundo tem, e está tudo bem.

Shura não era um homem de muitas palavras mas foi abençoado com uma sensibilidade tremenda. Rosalia não falava sobre isso, mas a verdade é que não se sentia confortável depois que havia tirado as ataduras e curativos, devido às cicatrizes que ficaram do acidente.

O cavaleiro não só percebeu isso como mostrou que ela não precisava carregar esse sentimento ruim com ela.

- Obrigado, você tem razão.

Rosalia falou com uma voz embargada como se estivesse prestes a chorar, ninguém nunca havia reparado assim nela, ninguém nunca teve tanto cuidado assim com ela.

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