Nem mais um minuto

11 0 0
                                    

Rosalia quase não acreditava em quem estava de pé em frente ao seu portão, parecendo mais um cão caído de um caminhão de mudança.

Shura estava lá, parado com sua pequena mochila nas costas, uma colher de absinto e uma foto antiga nas mãos.

Quando conseguiu se recompor do susto e limpar os olhos que já estavam cheios d'água, ela correu até o pequeno portão para abri-lo e ficar de frente para o cavaleiro. Não sabia nem por onde começar o diálogo, mas preferiu ir pelo óbvio.

- Shura, o que você está fazendo aqui?

- Eu...bem...você havia esquecido a sua colher. Eu achei também a foto que você esqueceu com o seu endereço, então eu achei que devia te devolver e...

Shura estava dando voltas de novo, ele não iria se permitir isso depois de ter arrumado toda aquela viagem às pressas e ter mobilizado todos os seus amigos para concretizar este feito. Sentia-se estúpido por não saber o que dizer, ou o que fazer, mas logo passou a mão pelos cabelos, tomou um pouco de ar e olhou sério para aqueles olhos verdes, que ele tanto havia sentido tanta falta.

- Quer saber? Esquece tudo o que eu falei. Não vim aqui para te devolver a colher ou a foto, eu vim porque minha vida fica miserável sem você e nada mais faz sentido! Eu sei que você está feliz aqui, perto da sua família e dos seus amigos. Não vim te pedir para abandonar nada mas eu preciso dizer que te amo. Eu te amo demais e eu não posso viver sem te dizer isso! Eu te amo, Rosalia!

Shura estava ofegante, nervoso e aflito aguardando por qualquer reação da mulher a sua frente, mas ela parecia nem respirar. O cavaleiro já estava quase desistindo daquilo tudo, quando notou que, apesar das lágrimas, ela estava rindo baixinho.

- Você demorou demais para vir me buscar, querido.

Ela tinha razão, ele havia demorado demais mas não perderia nem mais um minuto. O cavaleiro rapidamente foi até ela, para tomá-la em seus braços e beijá-la como deveria ter feito antes. Poder sentir os lábios dela nos seus e aqueles dedos finos lhe acariciando os cabelos era indescritivelmente bom, queria que aquele beijo profundo e apaixonado não acabasse nunca, e só para ter certeza disso, passou a mão lentamente pelas costas dela para segurá-la ainda mais junto de si.

As duas almas apaixonadas finalmente estavam juntas. Tudo estaria perfeito se não fosse um barulho de 'click' que os chamou a atenção.

- Hei, cagón! Fica longe da minha filha.

Shura reconheceu o senhor que estava na porta, era o mesmo homem da foto de Rosalia apesar de ter alguns cabelos brancos e rugas a mais. O problema é que ele não parecia feliz como na foto, muito pelo contrário, aparentava estar furioso com sua escopeta velha de dois tiros carregada em mãos.

Pobre Shura, não tinha causado uma boa primeira impressão.

- Pai, calma! Eu conheço ele, é meu amigo.

Rosalia se virou na mesma hora e bem que tentou acalmar o pobre pai, mas não surtiu muito efeito. Apesar de ter abaixado a arma, o velho parecia ainda querer matar o homem que estava em seu portão.

- Sei, eu tinha uma amiga assim na sua idade, chamava Dulce, sua mãe.

- Pai!

Rosalia parecia refletir a cor das maçãs que estavam caídas pelo chão de tão vermelha, tanto de vergonha quanto de raiva. Shura por outro lado não ousava mover um músculo, já que ele era o único ali que corria algum perigo real.

Depois de olhar o homem que estava no seu portão da cabeça aos pés, o velho Romeo decidiu que não tinha mais nada para fazer ali e se colocou a caminhar para dentro de casa, não sem antes responder a filha.

AbsintoOnde histórias criam vida. Descubra agora