8.Beira mar

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Shura não demorou muito para se arrumar, não que tivesse muito o que arrumar. Apenas tomou um banho, fez a barba e escolheu usar uma camisa vinho, que era a melhor que tinha e não por coincidência foi um presente que ganhou de Afrodite, colocou uma calça jeans escura, um sapato e dobrou as mangas da camisa.

Estava pronto agora e esperando sentado em seu sofá, distraído com seus pensamentos ele nem percebeu que Rosalia já havia descido as escadas. O cavaleiro se assustou quando a encontrou na porta mas com certeza não se surpreendeu quando a viu, tinha plena certeza que ela estaria maravilhosa, como já era a todo momento na visão dele.

Shura só constatou o que já sabia quando a viu com os cabelos soltos e vestindo aquele vestido verde musgo de alças finas que ia até acima de seus joelhos. Estava satisfeito por ter insistido tanto em comprar aquela roupa pra ela, junto com aquelas sandálias abertas e claras de salto baixo e daqueles delicados brincos de esmeraldas.

Felizmente ela já não se importava mais com as cicatrizes.

- Vamos?

Dizendo isso, ele logo se levantou e lhe ofereceu o braço, era um cavalheiro acima de tudo e tinha colocado na cabeça que faria daquela noite a melhor da vida daquela mulher. Ela com certeza merecia depois de todo aquele inferno que havia passado.

- Claro, mas para onde vamos? - Rosalia aceitou prontamente o braço de Shura para que pudessem ir.

- É segredo, por enquanto.

Shura abriu a porta do carro para que ela pudesse entrar e logo estavam a caminho de sabe-se lá onde. Rosalia bem que tentou, mas não reconheceu o caminho que o cavaleiro fazia, apenas sabia que estavam indo em direção ao mar.

Quando chegaram, Rosalia entendeu o porquê de Shura chamar aquele lugar de mágico.

Entraram em um pequeno e aconchegante restaurante à beira-mar. O lugar era construído em madeira e as luzes fracas dos lampiões nas mesas, junto da música calma e o barulho das ondas, faziam com que Rosalia quase se sentisse em um conto de fadas, já que estava sendo acompanhada por príncipe encantado agora, ou quase isso.

Nunca havia visto Shura tão bonito e bem arrumado desde quando o conheceu a anos atrás.

Assim que chegaram e se sentaram, Shura fez questão de pedir o melhor vinho do lugar acompanhado de tudo o que Rosalia quisesse comer. Ficaram conversando um pouco sobre a vida enquanto terminavam a refeição e o vinho mas assim que a música A Nightingale Sang in Berkeley Square de Vera Lynn começou a tocar, Shura juntou toda a coragem que tinha para fazer uma pergunta muito importante.

Ele se levantou rápido da cadeira para oferecer a mão a sua acompanhante antes de dizer:

- A senhorita me daria a honra desta dança?

Rosalia respondeu apenas com aquele sorriso que Shura conhecia bem e pegou sua mão para que ele a guiasse ao centro do pequeno bar para começarem a dançar. Enquanto uma de suas mãos ia de encontro a dele, a outra já estava em seu ombro, assim como ele já a puxava mais para perto com a mão sobre suas costas para que pudessem começar a girar lentamente.

Shura simplesmente não conseguia não ficar hipnotizado todas as vezes que se pegava olhando para aqueles olhos verdes tão perto dos seus.

- Eu ia dizer que você está linda hoje mas pensando melhor seria injusto com os outros dias, você está sempre linda.

- Você diz isso para todas as outras, não me faça sentir especial.

- Você sabe que eu não falo.

- Realmente, você não precisa nem falar. Eu me lembro bem como as mulheres se jogavam ao seus pés no bar.

- Isso não conta. A maioria das vezes eu estava bêbado demais para fazer qualquer coisa, elas que se aproveitavam de mim.

- Então você é a vítima da história? Não é bem assim que eu me lembro.

- Você reparava tanto assim em mim no bar? É bom saber disso.

Riram e rodopiaram mais um pouco pelo bar e mesmo que a música tivesse acabado eles não sentiram vontade de se afastar, muito pelo contrário, ficaram abraçados observando a lua e o mar noturno daquela varanda magnífica.

Estavam em silêncio até Rosália decidir iniciar aquela conversa que Shura tentava evitar a todo custo.

- Agora que tudo acabou acho que preciso recomeçar, não é?

- Eu não estou te mandando embora, você pode ficar no sobrado o quanto quiser.

Na verdade nem precisa ir embora se não quiser.

Era isso que Shura estava pensando mas absolutamente não tinha coragem para verbalizar.

- Eu não posso simplesmente morar na sua casa pra sempre.

Claro que pode!

- Você precisa reconstruir o bar, se estabelecer. Tome o tempo que precisar, tudo bem? - mais uma vez Shura não conseguiu verbalizar o que realmente queria.

- Obrigada de novo, Shura, você é incrível.

Rosalia apertou um pouco mais aquele abraço antes de soltá-lo para que pudessem ir embora. O caminho de volta foi tranquilo e logo eles já estavam em suas respectivas camas mas por algum motivo aqueles olhos verdes não se fecharam com facilidade. Precisava tomar uma decisão, precisava dar um novo rumo a sua vida e já havia decidido o que iria fazer.

Mal ela pregou os olhos e já era de manhã.

Como era de costume, Shura acordava mais cedo, seja para ver o sol nascer ou só para aproveitar o silêncio da manhã. Sempre que Rosalia descia, o café já estava pronto e posto a mesa, nessa manhã não foi diferente.

A moça se sentou à mesa assim que desceu e ele se juntou a ela.

- Bom dia, querido.

- Bom dia, Rosa. Então, agora que está tudo certo, qual o próximo passo? Reconstruir o bar? Vai mudá-lo de lugar?

- Shura, eu não vou reabrir o bar. Eu vou voltar pra Girona.

Pela segunda vez, o mundo de Shura parecia ter parado e se destruído instantaneamente.

Continua...

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