02 - Amigo

11 1 2
                                    

-- vou pegar algo pra comer. -- diz assim que o sinal toca todos da sala saem em direção ao refeitório, ele levanta. -- Quer?

-- bem, umas batatinhas não fariam mal. -- sorrio com os lábios tentando parecer o máximo fofinha.

-- está, vai para o refeitório buscar.

-- eu não quero sair.

-- então passa fome. -- diz curto, isso doeu.

-- ou você pode muito bem voltar com um pacote pra mim.

-- bem que podia mais me falta vontade então vai lá buscar, com seus pezinhos e suas mãozinhas. -- diz, ele anda até a porta e desaparece.

Reviro os olhos. Ele não ia mesmo levar um pacote de batatas pra mim.

A sala está vazia. Uma paz única, mesmo com o povo passando pelos corredores e conversando super alto como se fosse pra alguém escutar.

Suspiro desfrutando ao máximo do silêncio. Tiro da pasta meu caderno de palavras profundas e diárias, um caderno que eu faço pequenas anotações. Não é um diário para sentimentos e coisas do gênero, não. É só um pequeno bloco de notas que eu escrevo algumas notas.

-- hmmm, bem hoje pra variar foi só pó. -- falo pra mim mesma, tiro minha caneta do estojo.

Erik deixou seu material espalhado por toda carteira. Ele não é lá muito de arrumações, vive jogando a tampa de caneta para um canto e quando procura nunca acha, sua pasta está no chão. Ele é desarrumado.

Meto suas canetas no seu estojo, um estojo preto com pequenas caveiras espalhadas. Fecho seu caderno, e ponho seu estojo por cima.

-- ora ora se não é a filha do Barack Obama. -- olho pra cima, Lucas qualquer coisa, eu não sei seu apelido. -- Vejo que você fez um amiguinho neguinha.

-- o que você quer Lucas? -- pergunto seca, eu tenho vontade de arrancar os olhos dele.

-- olha só, a pretinha aprendeu a falar. -- diz num tom irônico, o garoto parado na porta solta uma risada. -- Sabe o que eu quero? -- bate com a mão na carteira, eu não sei se ele não sentiu um ardor por conta da força que ele exerceu. -- Eu quero você, eu quero casar com você e ter pequenos filhos negros andando por aí.

Debocha.

-- você pode até ter se safado com essa história do pó, mas pra próxima não será assim. -- engulo seco, recuo devagar.

-- eu não te fiz nada. -- minha voz sai trêmula, meu coração bate rápido. Chego ao fim da carteira, minhas costas tocam na parede.

-- é, você não me fez nada. -- põe a mão na boca como quem está chocado. -- Você é só uma garota.

-- ele tá vindo. -- grita o garoto parado na porta cortando a fala dele.

-- deixa ele entrar. -- diz para o garoto, ele assente e se esconde atrás da porta. -- Quer me ver acabar com seu amiguinho?

-- não, Lucas não faz isso. -- peço baixinho, meus dedos tremem de medo, esse garoto é um monstro ambulante. Ele ja fez tantas coisas más.

Olho pra porta, escuto passos. Ele dá um sinal ao garoto atrás da porta.

-- Lucas. -- chamo baixinho, ele não merece ser machucado só por ter me ajudado. -- Lucas ele não te fez nada.

Ele me ignora. Erik aparece na porta, seu olhar é confuso, ele olha para o garoto a minha frente identificado por Lucas e de seguida pra mim.

-- se não é o Erik comediante. -- ele vai a passos lentos até ele, igual aos vilões dos filmes quando começam um discurso antes de matar alguém, que na verdade nunca chegam a matar.

E Como Fica O Coração Dela? | Em Revisão| Divulgação. Onde histórias criam vida. Descubra agora