One; Dear Adora

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Andando pelas ruas geladas pela frente fria repentina, a mulher buscava aquecer as mãos mantendo-as dentro dos bolsos do casaco grosso, seus olhos heterocromáticos fitavam a calçada e as vitrines ao seu redor. Ela definitivamente odiava o frio. Em especial quando ele se fazia presente naquela data.

Catra nunca foi uma pessoa romântica. Na verdade, detestava melosidades. Mas sim, ela podia sentir a aura romântica e “fofa” que o dia apresentava. E, querendo ou não, isso lhe trazia um sentimento melancólico. Sua irmã mais velha, Entrapta, tinha acabado de noivar, e sua melhor amiga se casaria no próximo mês.

Ela se sentia ficando pra trás. Scorpia e sua irmã eram as únicas pessoas que aturavam seu gênio forte, as únicas que ela deixava se aproximar. Mas agora elas estavam cuidando das suas próprias vidas, formando as próprias famílias.

Suspirou, tirando os cabelos de cima dos olhos. Droga, não devia tê-los cortado tão curtos. Sentia falta dos cachos longos. Depois de mais um suspiro pesado, seu olhar se desviou para um estabelecimento. A fachada apresentava tons pastéis, com letras douradas mostrando o nome de um café. As vitrines exibiam bolos, doces e pâtisseries de aparência deliciosa.

Sentiu “água na boca” e decidiu entrar. O ambiente devia ser aquecido, e, bem, uma xícara de chocolate quente com um pedaço de bolo não faria mal a ninguém.

Foi então que aconteceu.

Outra pessoa vinha do lado oposto, parecia discutir com alguém pelo telefone. Foi rápido o impacto, mas no instante seguinte Catra e a pessoa estavam caídas sentadas no chão. Ela franziu a testa, irritada, e logo levantou os olhos coloridos para olhar quem a derrubou, tendo cinco ou seis insultos bem na ponta da língua... só não pode desferi-los.

A beleza arrebatadora da mulher na sua frente a fez tremer e hesitar.

Seus olhos eram do azul mais puro e límpido que já tinha visto. Cintilantes e expressivos. Era o tipo de olhar que dominava a situação, qualquer que fosse ela.

Se Catra se encantou apenas com os olhos da mulher, ao fitar seu rosto por completo, seu coração errou uma batida. Cada traço jovial e forte dela a deixaram boquiaberta.

Os cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo alto e firme, o que a deixava ainda mais linda.

Zeus existia mesmo e tinha deixado uma filha andando por aí?

Era a única explicação.

— Me desculpe — a voz da loira a tirou do seu torpor. Era um tanto rouca. — Você se machucou?

— Não... eu estou bem — Catra piscou, tentando parecer menos um zumbi. — E você?

— Não, não — a outra riu de leve. — Me desculpe mais uma vez, sou muito desastrada.

— Acontece...

Quando a loira a ajudou a se levantar, com um puxão firme — embora delicado —, Catra percebeu que ela era vários centímetros mais alta, e o físico provavelmente era forte e robusto, mas era difícil saber por conta dos casacos.

— Será que eu poderia lhe pagar algo, pra compensar esse desastre? — pediu ela. — Aqui fora está congelando, e eu realmente estou com fome. Seria legal ter uma companhia.

A mais baixa arregalou os olhos. Aquela deusa grega estava lhe convidando para acompanhá-la?

Ela já podia ter um surto de gay panic agora, ou ainda era cedo?

— Eu ia justamente entrar pra tomar chocolate quente — sorriu de lado. — Eu odeio frio mais do que qualquer coisa.

— Principalmente quando o frio vem no dia dos namorados — a loira concordou, suspirando com ar risonho. Aquilo só fez a morena admirar ainda mais aquele anjo. — A propósito, sou Adora.

— Catra — a baixinha apertou a mão que lhe foi oferecida.

As duas sorriram uma para a outra, e entraram no café lado a lado.

Aquele dia dos namorados, anormalmente frio, se tornou divertido e quentinho como um cobertor delicado.

[...]

5 anos depois...

— Adooraaa... — o resmungo fez a loira sorrir, enquanto mexia nos cachos bagunçados da namorada.

Por Deus... amava tanto aquela mulher.

Os olhos heterocromáticos se abriram preguiçosamente, a fitando sem muito foco.

— Bom dia, gatinha adormecida — ela disse, risonha.

— Bom dia... — a morena suspirou satisfeita com o carinho. — Que horas são?

— Dez e doze — Adora respondeu, mirando o relógio no criado mudo. — Dormimos demais.

— A gente mereceu — Catra sorriu, se arrastando na cama pra se aconchegar no peito da namorada. — Comemoração adiantada... ainda não acredito que você me enrolou seis meses, só pra me pedir em namoro no dia dos namorados...

— Como se você não tivesse gostado — a maior murmurou, beijando o topo da sua cabeça. — Hoje estamos completando quatro anos de namoro. E eu amo você.

Catra sorriu, se erguendo da cama pra beijar seus lábios. Depois disso ela se sentou na cama, sorrindo travessa.

— Tenho algo a te dizer — disse, levando a mão até o próprio criado mudo.

— Eu também — Adora sorriu.

Elas não pareceram entrar num consenso sobre quem diria primeiro.

A inseminação deu certo.

Casa comigo?

As duas arregalaram os olhos.

O quê?! — indagaram juntas. — Adora, você está mesmo grávida? A inseminação artificial deu certo? Nós vamos ter um bebê?

— Catra, calma — a loira riu, buscando um exame de baixo do travesseiro. — Fiz ontem o exame. Queria te fazer uma surpresa.

— Porra, eu te amo tanto — Catra pulou sobre a mulher, a beijando e abraçando de forma calorosa e cheia de carinho.

— Eu também te amo — Adora riu, depois que se separaram pela falta de ar. — E, a propósito, eu aceito me casar com você.

A morena sorriu e a beijou novamente.

Afinal, desde que sua querida Adora aparecera na sua vida — literalmente a atropel ando na frente de um café —, o dia dos namorados havia se tornado sua data favorita.

↱∂єαя α∂οяα↲Onde histórias criam vida. Descubra agora