Capítulo 1

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Quando respondi que sabia fazer caipirinhas, não projetei que isso me coibiria em ficar responsável pelas bebidas.

Estou atrás do balcão, no precioso minibar do sargento Rodrigues, regulando suas garrafas. Ele é um colecionador ou algo assim e, antes de me colocar aqui, fez um pequeno monólogo sobre a importância dessa função. Aparentemente, ele me acha centrada para a tarefa.

Eu gosto de estar aqui, então, não me opus. É reservado... como eu. Localiza-se no canto da sala e fornece uma visão ampla do apartamento.

Uma festa acontece e todos estão espalhados pelo local, visíveis pelos poucos pontos de iluminação. Há alguns oficiais sentados no sofá ou em pé conversando, outros dançando ao som de um eletro dance que desconheço. A maioria bêbada ou drogada, nitidamente.

No meio disso, está meu parceiro de instrução Martins. Ele é o responsável pelo treinamento dos cadetes ao meu lado.

Seu cabelo social, bagunçado, e tingido por uma cor entre branco e cinza é ousado para uma corporação fincada nas tradições. Talvez, nossos superiores façam vista grossa porque prestigiam sua competência profissional e pela cor se passa, facilmente, por um cabelo com perda de melanina.

Ele dança sem camisa junto a outros colegas. O movimento do seu corpo não soa cômico como em outros caras. A imagem do seu peito branco, definido e molhado pelo suor, numa calça justa e coturno preto, é apreciável. Surpreendentemente, ele não carrega tatuagens. Ostenta o tórax e braços limpos como uma tela a ser pintada.

Em uma primeira olhada, ninguém diria que Martins integra a Polícia Militar. Mas em sua defesa, ninguém diria que alguém nessa sala faça parte da corporação, dado as bebidas, drogas, música alta e meu vestido tubinho preto indecente.

Quando o olhar de Martins encontra o meu, desvio e volto-me para o copo em minha mão. Preparo uma dose de Jack Daniel's para mim.

Em minha visão periférica, percebo-o vindo em direção ao minibar com a graça de um felino. Ele não para em frente ao balcão, mas dá a volta nele e posiciona-se por trás de mim.

Por estar suado, ajusto meu cotovelo entre nós para manter uma pequena distância. Meu movimento chama a atenção dele, que observa o encontro do meu cotovelo com seu abdome.

Eu o olho de perto. Martins possui a barba rala, sobrancelhas grossas e brilhantes olhos castanhos. Características nada excepcionais, mas o conjunto da obra é atrativo. De perto, seu cabelo parece mais branco do que cinza, o que me sucinta uma questão.

— Qual a cor do seu cabelo? — minha pergunta atrai sua atenção para meu rosto.

Não é o tipo de pergunta que se espera vir de mim e os rápidos traços de surpresa que consigo captar em sua reação, demostra isso.

— Cinza claro.

Ele espera que eu continue. Faça outra pergunta ou comentário, e como não vem, se posicionando ao meu lado, com o cotovelo apoiado no balcão, vira-se para mim e preenche o vazio.

— Eu não sabia que você manjava de bebidas, Mendoza — Ele fala meu nome de forma arrastada e sedutora.

— Eu não manjo — minha sinceridade o faz sorrir.

— Prepara uma caipirinha pra mim. Forte. Quero conhecer seus dotes.

Não parece que ele está se referindo a minha habilidade ou, no caso, não habilidades com bebidas, na última parte.

— Você não dirigindo? — Eu o confronto.

Ele rir com desdém e me olha como se não acreditasse na ingenuidade da minha pergunta.

Deixe-me contar algo: nós fazemos a lei ser cumprida, mas isso não significa que seguimos a lei.

Exemplos disso estão nessa sala, como: um oficial aspirando pó de cocaína na mesinha de centro e não há qualquer surpresa para as pessoas aqui. Eu também não estou surpresa. Desapontada, eu diria.

Então, a reação de Martins também não me surpreende. Principalmente, porque

Eu preparo suabebida.


SINERGIA (Conto Erótico) - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora