Capítulo 2

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Estou esperando Martins na portaria do prédio. Ele me dará uma carona até minha casa.

Não é a primeira vez.

Eu não possuo o hábito de dirigir e, por isso, não tenho carro. Apesar de ter carteira de motorista, sempre tive pessoas que não se importavam em dirigir por mim.

O Ford Mustang branco de Martins se aproxima da calçada onde espero e, ao entrar no carro, logo noto que ele vestiu uma camisa branca.

Já percebi que tudo em volta de Martins é sempre em tons de branco, cinza ou preto. Cabelo, roupas, carro, objetos pessoais... Tento lembrar quando o vi com cores diferentes dessas, e não vem à mente.

— Qual a sua cor preferida? — Me ouço perguntando.

Mais uma vez, vejo traços de surpresa em sua face. É outra pergunta que não se espera de mim. Não costumamos ter conversas pessoais. Nos 2 anos em que trabalhamos juntos, limitamo-nos a conversas profissionais e comentários superficiais.

— Branco — ele responde.

Eu tenho vontade de rir por sua obviedade, mas me controlo porque não gosto demonstrar reações com frequência. É uma defesa minha. Ser transparente, às vezes, faz as pessoas adquirirem munições contra você.

Tento afugentar os motivos de minha posição olhando para rua, através da janela no carro. Estamos saindo do quarteirão do prédio do sargento Rodrigues. Há outros prédios ao redor e as ruas estão vazias e escuras.

com fome — Martins joga no ar e minha atenção voltasse para ele, que me observa de canto de olho.

— Eu também com fome.

Eu, realmente, estou! Fiz minha última refeição às 16 horas. Desde então, só bebidas e petiscos.

Em um acordo silencioso, Martins segue para a loja do Burger King que fica na rota para meu prédio. Espero ele fazer caminho para o drive thru, mas ele para no estacionamento e sai do carro.

Eu o sigo.

O local está quase vazio, a não ser pelos três funcionários e uma dupla de clientes em uma mesa na extremidade da loja. O que não é estranho, já que são quase 2 da manhã. Nos dirigimos ao atendente, fazemos nossos pedidos e aguardamos, sentados em lados opostos de uma mesa.

Ficamos nos encarando, um sorriso se forma no canto da boca de Martins e eu não sei por quê. Permanecemos em um silêncio confortável até que o atendente nos chama para receber os pedidos. Ele se levanta para pegá-los e eu aguardo.

Nós temos esse tipo de sinergia.

Um segue o fluxo do outro, sem quaisquer conversas prévias. Quando surge alguma questão, confiamos na decisão que o outro toma e a seguimos, sem que isto nos deixe desconfortável, porque se fizesse, nós deixaríamos claro. Talvez, isso é o que nos faça uma ótima dupla de instrutores.

Martins se aproxima equilibrando uma bandeja em cada mão. A cena é cômica e eu pressiono os lábios para não escapar um riso.

Comemos em silêncio.

Ele termina primeiro e fica envolto no celular até que eu acabe meu lanche.

Depois, seguimos para o estacionamento onde seu carro está solitário. Me direciono para a porta do passageiro e quando estou preste a abrir, sinto alguém pressionando meu corpo por trás.

Eu sei quem é, então, não me assusto ou uso meus conhecimentos em defesa pessoal. Viro-me e o rosto de Martins está perto.

Bem perto.

Estamos frente a frente e ele apenas me encara. Talvez, me dando espaço para repelir sua investida, mas eu não tenho qualquer pretensão de fazer isso.

O ar se preenche de expectativa.

Sinto sua respiração crepitar no meu rosto e seu olhar desce para minha boca. Martins coloca uma mão em minha nuca e aproxima nossos lábios. Me encara uma última vez e me beija.

Seu beijo é do tipo exploratório, apenas com toques de lábios. É preciso e bom.

Abro minha boca para puxar ar e ele aproveita para aprofundar o beijo, introduz a língua e faz uma pressão sútil em minha nuca com a mão.

E o beijo fica poderoso.

Sinto vontade de diminuir todas as distâncias entre nossos corpos. Começando pelas roupas que me impedem de sentir o calor de sua pele.

— Quer ir pra minha casa? — Martins diz, resfolegando, ao interromper abruptamente o beijo, que tão pouco começou, terminou.

Parece até que fez de propósito para me deixar ansiando por mais e ser compelida a aceitar seu convite, que não me surpreende. Sei que não sou a primeira da corporação a recebê-lo. Eu escuto os comentários.

O que me surpreende é a forma como meu corpo reagir ao contato com o corpo dele. A pulsão entre minhas pernas, a temperatura elevada e a respiração e coração acelerados. Eu degusto essas sensações.

Faz meses que não faço transo. Entretanto, fazer sexo com Martins envolve outras implicações, que ele não se importa, por ser um pouco inconsequente.

Noto que ele aguarda minha resposta, que demora o bastante para transpassar um pouco de preocupação em seu olhar.

— Pode ser — repondo sem abrir mais espaço para ponderações.

SINERGIA (Conto Erótico) - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora