Capítulo 1

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(Mila)

Às vezes me perguntava se estava realmente vivendo ou apenas existindo.

— Mila, você já terminou seu relatório? — David perguntou passando a mão pela minha mesa.

Eu estava há horas naquele relatório infernal. Olhei levemente para cima e ele sorriu para mim. O pessoal do escritório falava mal do chefe, e não sei exatamente porquê, já que eu o considerava bom com todos. David era tão jovem quanto eu, e talvez precisasse melhorar um pouco sua abordagem de liderança, mas era nítido seu esforço. Certa vez paguei seu café, pois o mesmo estava na fila da cafeteria e descobriu na hora que havia esquecido a carteira, ele sempre foi grato por aquele momento como se fosse grande coisa.

— Talvez, bem provavelmente... — Olhei para o relógio. — Não dê para terminar hoje.

— Não faça isso comigo. — Ele colocou a mão no peito encenando uma cena trágica. Ser engraçado não parecia ser o tipo dele, já que visualmente David era um nerd arrumado, que apesar de usar ternos e o cabelo corte executivo, a essência de um nerd tímido não saía de si. — Que tal umas horas extras?

— Ah, desculpe, já tenho um compromisso. — Sorri depois de dar enter no teclado. — Preciso terminar com meu ficante.

Apesar de ter dito num tom de brincadeira, a informação era real.

— Então, quer dizer que está solteira agora? — Ele perguntou colocando as mãos nos bolsos de sua calça.

— Solteira sim, disponível já não sei. — Respondi concentrada em desligar o computador. — Prometo entregar o relatório amanhã no primeiro horário. — Levantei pegando minha bolsa.

— Tudo bem. — Ele assentiu tranquilo. — Quer uma carona?

— Não, obrigada. — Passei por ele enquanto os demais funcionários já estavam saindo do escritório. — Até amanhã.

Eu acordei decidida a não beijar mais aquele cara. Tudo começou para esquecer uma pessoa, mas já tinha percebido que ficar com outro não estava resolvendo. A verdade não parava de gritar dentro de mim, e por mais que eu tentasse desviar os caminhos, sempre voltava para aquele... Peter.

O som do meu salto ficou ainda mais alto no piso de madeira da cafeteria, onde marquei de encontrar Thomas para encerrar a possibilidade de encontros futuros. Ele parecia ser legal quando pediu meu número no metrô, foi gentil, educado e muito inteligente no nosso primeiro encontro. Mas depois de algumas conversas as divergências ficaram muito gritantes, e eu não estava tão interessada em apenas curtir ficar com ele, me sentia entediada e pouco motivada.

— Eu não gostei muito daquele seu amigo atendendo o seu celular. — Thomas disse enquanto eu bebia café. — Você nem me convida para ir na sua casa, mas ele sempre está lá.

— O Peter? — Falei cortando um pedacinho de bolo.

— Você não está nem aí para mim, Mila. — Thomas suspirou jogando os fios castanhos e levemente ondulados para trás. — Vamos pular toda essa burocracia e que tal você passar a noite lá em casa?

— Então, não vai dar. — Falei colocando meu celular na bolsa. — Eu acho que quero ficar sozinha.

— Hoje?

— Hoje, amanhã, depois de amanhã... Estamos terminando.

— Como assim? — Ele abriu a boca surpreso, mas começou a rir de repente. — Você está falando sério? A gente nem... Aishh. Perdi meu tempo com você.

— Pois é. — Sorri e depois de encher meus pulmões de ar, levantei-me. — Também perdi o meu.

— Homens não gostam de mulheres do seu tipo, Mila. Seu rosto até parece inocente, mas você é muito má.

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