(Mila)
— Vá para o trabalho. — Murmurei enxugando o rosto com as costas das mãos.
— Está chorando por minha causa? — Peter continuou ajoelhado me observando.
— Estou!
Ele pressionou os lábios, mas não disse nada, devia estar tão desamparado com aquela situação. Desejei que as coisas pudessem ser diferentes, mas eu suportei até onde consegui suportar.
— Faz muito tempo? — Peter murmurou.
— Faz. — Respondi de volta sem coragem para encará-lo. — Desde o inicio da faculdade.
— Mila... — Peter franziu o cenho. — Mas... Então quer dizer que venho te magoando todo esse tempo?
— Não foi culpa sua.
— Por que não me disse antes?
— E será que continuaríamos juntos se eu tivesse dito? — Funguei percebendo o choro voltar.
— Mas talvez não estivesse chorando agora.
Peter levantou-se e andou pela varanda parecendo pensar. Ele estava casual num jeans e uma camisa de botão azul, certamente iria vestir o uniforme no trabalho.
— Vá. — Levantei do banco e andei até a porta planejando mentalmente me afogar em minhas lágrimas. — Você está atrasado.
Peter tocou meu pulso e se aproximou sem me encarar. Meu coração latejou mais forte só com aquilo.
— Eu preciso pensar sobre isso. — Disse olhando para minha mão. — Confesso que não sei o que estou sentindo agora. Quero saber se tudo não passa de carência da minha parte...
— Sempre me perguntei o quão difícil seria você querer ficar comigo... Agora vejo que parece ser muito difícil.
— Não é nada disso.
— Não é? — Murmurei sentindo meus lábios tremerem. — Você sempre disse que sou linda, mas nunca me desejou. Nunca recebi seu olhar apaixonado e sempre questionei o que tanto falta em mim.
— Não falta nada em você. — Ele suspirou e abaixou a cabeça. — Não é nada difícil desejar você, Mila.
Arfei, e Peter desviou o olhar me deixando ansiosa. Eu sabia que aquilo não era uma declaração, caso contrário ele já teria feito, mas talvez eu só quisesse continuar me iludindo com algo.
— Mas eu não sei. — Falou. — Não quero ser um homem descarado que vai aprender isso na prática e te iludir. Eu te conheço, sei que não merece isso, e nunca me perdoaria.
— E o que você quer então?
— Quero pensar sobre isso. Bom, eu preciso.
Pressionei os olhos tentando afugentar as lágrimas que ali acumularam.
— Ok. — Respondi. — Você tem o direito de pensar sobre isso. Mas...
— Mas? — Ele ergueu a cabeça e me encarou tenso.
— Eu não quero estar perto enquanto isso. Acho que não vou suportar. — Sussurrei a última frase. — Vou seguir minha vida, Peter.
Mesmo que eu já tivesse tentado várias vezes, quis completar. Sempre que eu tentava superá-lo, parecia impossível só de ver seu sorriso mais uma vez.
— Então, você não quer mais me ver? — Ele murmurou. — Desculpa, Mila. Eu nunca desejei magoá-la, e é por isso que não quero...
— Você não quer, Peter! Você não gosta de mim desse jeito. Eu já entendi. — Tentei soar racional, mas o choro acabou sendo envolvido na frase. — E tudo bem, não é culpa sua. Não estou querendo me afastar porque te odeio, muito pelo contrário... Só... Sinto que nunca vou superar se continuar te vendo.
— Por que isso ta acontecendo com a gente?
— Eu não vou culpá-lo por não gostar de mim, então não me culpe por amá-lo, por favor.
Ele abriu a boca para dizer algo, mas eu sabia o quão desamparado estava só de ver sua expressão.
— Se não quer me fazer chorar, não venha me ver. — Falei já abrindo a porta. — Eu estou cansada, preciso entrar.
— Como vou saber se estará bem? Meu Deus, eu...
— Tchau. — Murmurei sentindo a despedida machucar meu peito. Queria dizer mais do que aquilo, queria poder acalmá-lo, queria me acalmar.
Fechei a porta e suspirei ainda no escuro.
— Mila. — Peter bateu do outro lado, mas apenas desatei a chorar. — Não chora! Perdoe-me! Eu estou decepcionado comigo. Vamos resolver isso juntos, eu...
— Vá embora, Peter! — Reclamei com a voz trêmula. — Por favor.
— Me desculpa. — Foi a última coisa que eu ouvi.
Eu tomei banho e me recolhi no sofá sem conseguir parar de pensar naquilo, no quanto estava doendo, e no quanto eu queria continuar tendo esperanças. Poderia ter ficado ali sozinha com meus pensamentos, mas resolvi ligar para a vovó.
— Ele não me ama. — Falei assim que ela atendeu. — E eu estou muito ferida... Não sei se consigo.
— Você consegue. — Ela disse firme. — Eu amo você.
— Vovó... — Murmurei já enxugando as lágrimas. — Agora que Peter se foi, estou completamente sozinha. Venha morar comigo, por favor.
— Mila, você é mais amável do que meu filho de sangue, e eu a amo, por isso não suportaria te dar tanto trabalho. Minha querida, você não vai ficar sozinha.
— Não vai me dar trabalho. Você cuidou tanto de mim, por que não posso retribuir?
— Porque não quero cortar suas asas. E eu estou aqui, sempre quiser vir me ver, sempre que quiser me ligar...
— Mas a casa é tão vazia.
— Foi uma tragédia ter perdido seus dois pais, e não ter ninguém da família para confiar. — Ela disse me fazendo soluçar. — Mas você é forte, Mila.
— Não sou. E sem Peter...
— Peter te ama, ele só está confuso... Ele vai voltar.
— Ele não me ama.
Ela suspirou do outro lado da linha enquanto eu chorava no meio da casa vazia.
— Escute, Mila. — Vovó disse. — Geralmente quando as pessoas estão passando por momentos difíceis, muitas delas preferem curtir a dor do que tentar fazer de tudo para se sentir melhor. Não desista de você mesma. Decida se recuperar. Decida se amar acima de qualquer pessoa. Vai doer, não vai ser fácil, mas a pessoa que tem que cuidar de você, é você mesma.
— Posso ir te visitar amanhã?
— Venha, estarei te esperando.
Ela tentou me animar um pouco até eu julgar ser muito tarde para perturbar a noite dela.
Tomei um susto quando a campainha tocou. Quando abri a porta vi que era um entregador.
— Mila Davies? — Ele perguntou ainda com o capacete.
— Sim. — Me aproximei com o portão ainda fechado. Talvez ele se assustasse com meus olhos vermelhos de tanto chorar, ou pensasse que eu estava terrivelmente doente.
Ergui as sobrancelhas quando ele tirou uma sacola da caixa de entregas na moto.
— Eu não pedi nada. — Falei.
— Apenas me mandaram entregar aqui, já está pago.
O rapaz insistiu e passou a sacola por uma fresta do portão. Peguei sentindo a sacola ainda quente.
O cheiro da comida impregnou a casa quando desembrulhei. Era o macarrão com o molho que eu mais gostava. Respirei fundo tentando conter o choro.
Tinha até uma mensagem escrita na sacola com caneta, e reconheci rapidamente a caligrafia de Peter.
"Não deixe de comer. Você é muito importante."
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Melhores amigos
RomanceO príncipe encantado do meu conto de fadas era meu melhor amigo, o único problema era que ele parecia não saber disso e talvez revogasse sua posição em minha vida quando descobrisse meus sentimentos. Plágio é crime!!! Quarto livro da saga "Entre am...