(Mila)
— Agora estou morrendo de dor de cabeça. — Reclamei no carro. — E meu chefe ainda vem com uma história de que nos conhecemos. Eu não lembro disso.
— Eu lembro dele. — Peter disse chamando minha atenção. Estava apenas sentado no banco do motorista, com as mãos apoiadas na perna, me observando.
— Como?
— Ele gostava de você. Na universidade.
Franzi o cenho e senti a martelada no lado direito da minha cabeça.
— Não lembro disso. — Cobri os olhos com as mãos e suspirei.
— Eu não iria te contar, mas... — Descobri os olhos para vê-lo, mas apenas peguei o momento em que ele ligou o carro. — Deixa para lá. Vamos passar no supermercado? Está tão cedo e eu sinto fome.
— Contar o que, Peter? — Insisti.
— Não, não é nada importante. Seus olhos estão pequenos, vai começar a ter enxaqueca. — Ele sorriu tranquilo.
— Eu já estou. — Resmunguei massageando minha cabeça.
— Você precisa relaxar, Mila. Se levar tudo sempre tão a sério, nunca terá paz.
Não consegui comer a comida do Peter quando chegamos na minha casa depois de passar no supermercado, porque estava muito enjoada. Fiquei no sofá abraçando minhas pernas e com a cabeça mergulhada entre os joelhos.
— Mila, toma. — Peter disse cutucando minha perna. Ele me ofereceu um comprimido e um copo de água. — Vou ficar com você hoje.
— Tudo bem. — Tomei o remédio e soltei o ar incomodada pelo latejar contínuo da minha cabeça. — Está tarde para dirigir a Surrey de qualquer jeito.
— Deita um pouco.
Assenti e fui ao meu quarto tentando evitar que a luz chegasse aos meus olhos. Mesmo no escuro o desconforto da enxaqueca não diminuiu. Talvez o momento de sofrimento físico me fizesse remoer ainda mais meu sofrimento emocional, só para deixar tudo mais doloroso e conceitual. Vejamos: eu não gostava do meu trabalho; meu chefe dizia me conhecer e não lembrava disso; eu amava meu melhor amigo; o homem que eu amava não me via como mulher; meus pais me deixaram sozinha; eu não tinha mais ninguém.
— Garota bonita. — Peter sussurrou entrando no quarto. — Está dormindo?
Sentei na cama sentindo tudo girar. Ele acendeu a luz e me entregou uma xícara com chá.
— Camomila. — Peter colocou a xícara nas minhas mãos e sentou-se na cama para me observar beber o chá. — Essa história do chefe deixou-a estressada de verdade? Não deveria ficar ansiosa por algo do tipo.
— Sei lá. — Falei esperando o chá esfriar um pouco. — Talvez só não esteja num bom dia.
— Sei. — Ele disse tocando minha nuca, onde começou a massagear. — Eu não gosto de te ver assim.
Sorri sem jeito e me desvencilhei de sua mão com o pretexto de que iria derramar o chá.
— Ninguém faz chá igual a você. — Murmurei depois de experimentar.
— É apenas um chá. — Peter disse preocupado.
Acordei ainda com enxaqueca na manhã seguinte. Eu sabia que precisava relaxar para me livrar daquilo, era um irritante aviso de que meus nervos estavam excedendo. Mesmo assim, tomei café da manhã com meu melhor amigo e fui para o trabalho. Peter até podia achar que David estava me preocupando, mas a verdade é que eu não senti nada muito importante. Fiquei mais curiosa para saber o Peter "não me diria" a lembrar de fato quem era David na universidade.
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Melhores amigos
Roman d'amourO príncipe encantado do meu conto de fadas era meu melhor amigo, o único problema era que ele parecia não saber disso e talvez revogasse sua posição em minha vida quando descobrisse meus sentimentos. Plágio é crime!!! Quarto livro da saga "Entre am...