Capítulo IV

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- Eu não quero saber que você tem que cuidar da sua espos...O que? Trabalho de parto? Eu não ligo, se sua vida pessoal está acima da profissional, terei que demiti-lo e você não terá como alimentar sua cria.- Loren não parava de gritar no telefone com um dos pobres coitados de seus empregados.

- Não precisa gritar no celular. Só ele precisa te escutar e não o aeroporto todo.- Ela me olha de canto de olho, como se entendesse meu recado, mas não responde.

-Só arrume a agenda e o livro de fotos para amanhã sem falta.- Ela está com o tom menos elevado.

Uma garota está correndo na nossa direção bem apressada. Talvez mais uma empregada que veio fazer companhia a ela. Não deve conseguir ficar sozinha comigo.

-Senhora Carter, me desculpa pelo atraso, o vôo passou por muitas turbulências e...

-Tá tá, eu não ligo. Quero que cuide daquele cara que tem uma esposa.- Loren continua olhando o celular.

-Mas qual deles? O Carlos, Betson ou o...

-Ainda está falando? Não me importa como, cuide dele.

Ela nunca deixa ninguém falar, isso realmente me irrita muito mas não vou me meter, não quero dar problema para a garota.
Uau, olhando bem para essa garota dá pra sua semelhança em roupas com Loren, como se ela tentasse imitar. Ouço o nome dela de tanto Loren falar, "Gerda".

-Oi, você deve ser a filha da senhora Carter.- Ela senta do meu lado. Olho em volta antes de responder. O aeroporto está estranhamente vazio.

- É, infelizmente.- Digo e a vejo soltando um sorrisinho.

Vejo a Loren indo para longe falando em seu celular e sua secretária indo junto com ela.
Minha cabeça parece flutuar dessa vez. Quero fugir daqui, lá não é meu lugar, Nova York não é meu lugar. Com meu pai é meu lugar, no Texas... Prometi que iria tentar.

- Filha, vamos, temos que embarcar.

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Nunca havia estado na primeira classe. Talvez eu seja estranha, mas as coisas simples sempre me chamaram mais atenção.

- Pode deixar a garrafa aqui.- Loren enche sua taça com o "Espumante Chandon".- Servida?

- Não quero, valeu.- Coloco meu fone de ouvido e encosto as costas no assento reclinável.

-Você pode falar comigo se quiser, sobre qualquer coisa.- Eu a ignoro e a mesma não tenta mais puxar assunto.

Talvez quem veja de fora não entenda o porquê eu sou tão ruim com ela, com a mãe perfeita, mas é tão óbvio.

Meus pais se conheceram na faculdade, clichê né? Pronto para ser uma linda história de romance, mas não foi bem assim que aconteceu. Ela decidiu que era boa demais para ele, afinal uma mulher rica de Nova York e um cara que era apenas um caipira intercambista (mas muito bonito) não daria certo. Loren queria apenas se aproveitar de seu belo companheiro e seu caso enquanto ele estava lá. Mas quando deu errado (quando eu digo errado quero dizer, eu), ela sumiu por um ano e quando apareceu, apenas o entregou um bebê de três meses. Ela é o que se pode chamar de vadia, daquelas bem venenosas, mas em respeito não digo a ela isso.

Não sei o que aconteceu naquele bar em Texas, mas ela simplesmente mostrou que tinha sentimentos e preferiu esconder a dividir com sua filha, ela sabia que eu precisava disso, mas ela quis retirar o que falou.
Meu pai sempre foi bom comigo, mesmo que talvez eu lembrasse ela. Ele nunca deixou isso afeta-lo. E eu vou ser feliz como eu prometi, mas nesse momento não consigo ver isso acontecendo.

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