Capítulo II

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- Ela ainda está em choque, senhora. Mas sua neta é muito forte, ela vai melhorar.- Me encontro novamente na minha cama fixando meus olhos para frente.

- Minha flor, você acordou.- Vovó Esmeralda me abraça.- Está tudo bem, eu não vou a lugar nenhum.

Ainda não estou sabendo como reagir a tudo isso. Só sei que se eu não tivesse saído escondido, isso não teria acontecido.

Minha avó se retira dizendo que ia comprar algo para ela comer.
O rosto do cadáver do meu pai, não sai da minha cabeça. Sua face estava toda arranhada, com alguns pontos. Era quase irreconhecível, estava desfigurado. Não estou pronta para deixar a pessoa que mais me entender partir.
Ouço meu celular tocar.

- Filha? Sua avó me ligou falando o que aconteceu. Como você está?- Última pessoa que eu esperava me ligar.

- Oi Loren, eu estou bem. Acordei agora pouco, me apagaram. Pelo o que eu me lembro eu surtei ao ver o corpo do meu pai e me sedaram, sabe quem é? A única pessoa que estava comigo sempre.- Digo num tom irônico é percebo seu silêncio, minha mãe me liga apenas no dia do meu aniversário.

- Katherine, conversei com a sua avó e decidimos que eu vou para o Texas amanhã para o enterro.- O enterro já é amanhã? Ele morreu ontem, é tão fácil encerrar os assuntos para eles?- E você vai vir comigo para Nova York, eu e sua avó concordamos que será o melhor para seu futuro agora que o Jonh morreu.- Quanta sensibilidade...

- Você não decide meu futuro e eu não te quero no enterro do meu pai.- Falo como se cuspisse as palavras.

- Já falei, Katherine Smith, eu vou pegar o próximo vôo e vamos voltar juntas. - Era impossível mudar sua mente.

- Não posso deixar minha avó sozinha...- Meu tom muda de raiva para tristeza.

- Ela vai ficar bem, tem que pensar em você, como todos nós estamos pensando.- Vejo minha avó entrando no quarto.

- Até amanhã então.- Desligo rapidamente sem nem esperar uma resposta e olho pra minha avó.- Seu filho morreu e você quer se livrar de mim? É isso?

- Katherine, nunca mais diga isso, está me ouvindo?- Ela fala franzindo a testa e bastante brava.- Eu só penso no melhor para você, afinal, o que te prende aqui? Eu? Minha flor, eu vou ficar bem. Você tem a vida toda pela frente, não desperdice a chance que você esperava, Texas é pequeno demais para uma garota como você.

Eu tento falar mas fico completamente sem palavras ao escutar aquilo, minha avó sempre foi super protetora e agora ela está abrindo mão de continuar cuidando de mim para eu ter uma vida melhor?

- Desculpa, vovó...- Falo com a cabeça baixa e minha voz falha.

Ela não diz nada e só me abraça, precisava aproveitar aquele momento pois eu tinha certeza de que essa seria uma das últimas vezes que eu sentiria seu cheiro.

Passamos o resto do dia vendo apenas Reality Show que passava na televisão do meu quarto. Não conversamos muito, talvez porque sabíamos que íamos chorar demais, melhor guardar lágrimas para amanhã.

Ela dormiu na cadeira, mas eu não pegava no sono de jeito nenhum. Peguei apenas uns trocados na bolsa dela. Eu me levantei, segurando o suporte do meu soro e abri a porta e andei pelo longo corredor até a recepção e vejo a máquina de doce. E coloco 2 dólares ali.
Minha mão fica trêmula após dois socos que eu dou com toda minha força naquele aparelho.
Preciso me controlar se eu não quiser levar outro sedativo. Olho em volta e percebo que nenhum enfermeiro ou médico me observa.

- Eu posso usar agora?- Olho para o lado e vejo um garotinho negro com uns olhos grandes e brilhantes que aparentava ter 10 anos,com uma roupa hospitalar igual a minha.- Porque você quer quebrar a máquina? Qual seu nome, destruidora de doces?

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