5* Não faça dela sua

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*Oliver Frederico Duarte.

Havia uma hierarquia rígida sob o edifício Duarte&Alcantra, a liderança passada da nossa matriarca para meu pai e assim por diante, deixava claro suas exigências para manter a ordem e eficiência natural do empresa.

Era uma lógica clara que como herdeiro da maioria das ações, manter o status da empresa e elevar o nível de eficiência era o meu trabalho, assim como supervisionar os destaques evidentes nela. O que poderia ser uma tarefa fácil se a segunda melhor funcionária da área, não me causasse tanta dor de cabeça.

Uma maluca com tendências a odiar o chefe.

Não via motivos para isso, mas Melissa havia tornado me tirar do sério um objetivo de vida.

Que idiota sacaneia o próprio chefe?.

Uma vez durante a confraternização anual, Melissa havia me informado que o tema daquele ano  seria " a fantasia", e por mais que meu lado nerd suplicante exigisse que finalmente usasse minha fantasia muito bem elaborada de Joh Snow, meu lado profissional optou por pequeno príncipe ( sim, havia uma capa com estrelas bordadas e uma coroa, acabaria de vez com a vitória anterior de Catarina que havia ido fantasiada de Princesa Leia, Pelo amor de deus, ela sequer se esforçou para fazer os coques direito), mas então, mesmo não suspeitando que confraternizações como nossas filias na maioria são formais, apareci com minha segunda melhor fantasia.

Porém o tema foi "alterado de última hora", como Melissa mesmo disse ao aparecer com seu vestido vermelho de cetim e máscara a lá o fantasma da ópera, não pude sair no começo da festa, passando metade do tempo no banheiro escondendo minha vergonha.

A fantasia e conseguencias de ver Melissa usando um vestido de Cetim justo demais.

Sou feito de carne, sem julgamentos.

Semanas depois descobri que não havia ocorrido uma alteração de última hora, e que Melissa havia sido a responsável por enviar os convites.

Pequeno príncipe 0 x Melissa 1.

Uma maluca completa.

E por mais que sua conduta muitas vezes anti profissional e forma de se expressar exagerada gerasse dúvidas, só um cego não notaria que ela era propensa ao sucesso, uma maluca varrida que tinha total capacidade para comandar, e isso me assustava, após minha avó Francisca Duarte se aposentar e deixar o cargo para meu pai responsável pela fusão com a empresa Alcantra, a forma de comando foi totalmente alterada, o antigo senhor Borges Alcantra mantinha pensamentos machistas sobre o posto das mulheres na empresa, mantendo o número de acionistas masculinos acima do estimado, apenas duas mulheres se sentavam na cadeira de acionistas, e uma delas estava ali somente pelo falecimento do marido.

Nona até hoje chamava a fusão que manteve a empresa em pé após a crise na política brasileira de "contrato com o diabo". E nunca discordei, os Alcantra eram os donos do retrocesso.

Com o passar dos anos e a transferência de cargos para herdeiros o comando não mudou, mesmo que mantivesse um grande número feminino em minhas área de comando, o filho e herdeiro de Borges,  Miguel Alcantra mantinha os pensamentos do falecido pai vivos, e por caras como ele, fui levado a tomar certas atitudes contraditórias.

Só duas coisas importam para caras como ele, dinheiro e manter a pose de conversador, enquanto cheira mais que um aspirador de pó, tinha que manter meu pessoal protegido.

Nona chamava de "casamento social", o contrato que havia proposto para a maioria dos funcionários, a ideia era simples, Miguel não demitiria funcionários que ele considerasse fora de seus pensamentos e ideologia idiota se tivesse que pagar uma enorme multa de recisão, isso o mantinha longe dos meus contribuintes que Miguel declarava como "inferiores", ( negros, gays, mulheres e pessoas de origens étnicas variadas).

Justa CausaOnde histórias criam vida. Descubra agora