Helena não se lembrava de ter saído do recinto onde viu Amanda perder a vida, não conseguia formular qualquer pensamento lúcido enquanto encarava as próprias mãos manchadas pelo sangue da garota, não conseguia sequer convencer-se de que salvar a garota, estava além de qualquer solução possível.
Movendo-se debilmente, forçada apenas pelas mãos de Diogo, a princesa despia-se em lágrimas de incredulidade enquanto a cena da morte de Amanda se repetia incontáveis vezes em sua mente. Quase caiu duas ou três vezes enquanto caminhava, mas em todas, foi amparada pelas mãos firmes de seu acompanhante que não parava de falar, da forma mais gentil possível, para que ela continuasse em frente.
O clarão do sol e a cacofonia de ruídos inesperada, foram o gatilho necessário para que Helena volta-se a si e tomasse controle de suas emoções fazendo-a estagnar no local como um animal teimoso. Olhou a sua volta e sentiu novamente as emoções ameaçarem a sua sanidade. Inúmeras pessoas caminhavam de um lado para o outro vestidas com as mais diversas roupas que em nada se pareciam com as que os lordes usavam na Corte ou tampouco os plebeus em seus subúrbios. Vários deles pareciam alheios ao mundo ao seu redor, com cabeças baixas e olhos vidrados em aparelhos como o que Amanda usava.
― Hey, precisamos ir, preciso te levar pra delegacia.
A voz de Diogo funcionou como uma âncora em meio ao caos mental de Helena, trazendo-a de volta a si enquanto ela buscava os olhos do homem parado diante dela. De repente, a princesa notou que ele segurava seu rosto com as mãos de forma tão afetuosa que pareciam velhos amigos, a aspereza das mãos de Diogo não surpreendeu Helena, mas o gesto sim, e ela afastou-se rápido demais enquanto falava:
― Fica longe de mim. Para o seu próprio bem.
Para surpresa da princesa, Diogo sorriu.
― Olha moça, não sei no que você se meteu, mas agora você é minha responsabilidade e vou te proteger.
― E por que você faria tal coisa?
Diogo ergueu uma sobrancelha interrogativa fazendo a princesa lembra-se de Hector instintivamente. A lembrança foi como uma mão de ferro apertando-lhe o coração e trazendo uma saudade tão intensa a ponto de manifestar-se em dor física quase palpável. Helena uniu os punhos fechados acima do coração e sentiu algumas lágrimas rebeldes tentarem forçar o caminho por seus olhos, porém, a princesa conteve-se enquanto Diogo apoiava a mão em seu ombro direito e prosseguia:
― Porquê eu sou policial e tenho um bom instinto. Você não é uma má pessoa e está claramente sendo caçada pelo que quer que sejam aquelas coisas. A propósito, qual seu nome?
Por alguns momentos a jovem princesa pensou em esconder seu nome, virar e sair correndo, se afastar o máximo possível de Diogo que continuava sendo totalmente gentil e sincero apenas por puro instinto de benevolência. Lembrou-se do sangue de Amanda, da expressão atônita e confusa que a garota havia estampado na própria face poucos segundos antes de perder a vida, estava pronta para desistir de tudo e seguir o próprio caminho em busca do que quer que fosse que os Sacerdotes do Gênesis esperavam que ela conseguisse naquele mundo estranho, porém, algo nos olhos de Diogo a fizeram-a se desarmar. Suspirando pesadamente, ela respondeu:
― Helena, meu nome é Helena.
Um leve sorriso se desenhou lentamente nos lábios de Diogo ao ouvir o nome de Helena e por algum motivo, ela notou que aquele gesto significava muito para ele.
Enquanto ponderava sobre a melhor forma de explicar que era uma princesa de um reino de outro mundo, Helena viu seu inusitado parceiro retesar-se totalmente alerta e fixar os olhos em um ponto distante atrás dela. Instintivamente a garota virou-se e percebeu que, no meio do mar de pessoas, a mais ou menos dez metros, outras cinco criaturas idênticas as que haviam lhe atacado, marchavam pesadamente em direção a eles em formação diamante, Helena reconhecia dos estudos com seu pai, sabia que era um grupo de ataque e sentiu um arrepio em sua pele.
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Entre Reis e Demônios - A Filha do Tempo
FantasyHelena é a princesa de um reino mágico coberto e permeado pelo fantástico, porém, ao contrário de todos os seus ancestrais, ela jamais esboçou qualquer magia em seus dezesseis anos de existência. Acostumada a fugir do castelo para se reunir com seu...