SONHOS E MEDOS 🗝

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POV RAFA KALIMANN

Desembarquei em São Paulo com uma mala rosa gigante que meu pai havia comprado para mim. Assim que vi aqueles prédios e pessoas correndo de um lado para o outro, pensei que seria o início de todo uma carreira próspera. Ledo engano.

Aos 14 anos eu não sabia que as coisas seriam tão difíceis assim. Duas semanas em busca de uma agência para modelar e até então eu só havia recebido "não".

Depois de algumas portas na cara consegui finalmente ser agenciada pela antiga Lang, e comecei a dividir um minúsculo apartamento com mais 3 meninas que também eram modelos da mesma agência.

Foi uma experiência única, o apartamento tinha dois quartos e um banheiro, sala e cozinha tudo junto. Apesar de todas as dificuldades, as meninas eram muito unidas, passamos bons momentos naqueles 40 metros quadrados.

Fiz meu ensino médio em São Paulo, consegui me adaptar rápido ao ambiente e as pessoas. Ao mesmo tempo em que corria atrás do meu sonho. Foram tempos difíceis, mas guardo as lembranças como algo bom e necessário para a Rafa Kalimann de hoje.

Como eu já havia modelado desde os meus 6 anos, achei que quando viesse a São Paulo as portas iriam se abrir e tudo iria acontecer num passe de mágica.

Inicie meu curso de teatro, porém foi mais um sonho não realizado. Não conseguia me dedicar as aulas e correr atrás de trabalho como modelo, precisava pagar o aluguel e tinham semanas que eu passava sem comer nada. Minhas olheiras só aumentavam. A cada dia a esperança ia morrendo dentro de mim e me via mais longe de realizar tudo o que acreditei, quando embarquei em Minas Gerais.

Não queria deixar meus pais preocupados, então toda vez que me ligavam, inventa uma história feliz. Tentava falar o menos possível sobre os trabalhos frustrados, os choros calados, o psicológico tolamente abalado e a vontade de correr para o colo deles.

Meus pais e meu irmão Tato, foram os maiores incentivadores de tudo. Meu pai chegou a vender o nosso carro para me bancar em São Paulo, e mostrar que me apoiava nos meus objetivos. Os três nunca deixaram de duvidar da minha capacidade, e aplaudiam todas as minhas pequenas conquistas.

Depois de 6 anos vivendo dia a dia as frustrações, tive que voltar para Uberlândia e morar com meus pais. Jamais vou esquecer as lágrimas em deixar São Paulo e saber que meu sonho morreu ali. Me senti regredindo, como se aquele passo para trás não resultaria em um impulso para frente.

Sou otimista, mas naquele momento não conseguia pensar positivo. Foram tantas coisas deixadas para trás, tantos sonhos frustrados.

Dona Genilda e Seu Sebastião fizeram de tudo para me animar e não me deixar abater por não ter dado certo. Passei dias na cama me culpando por ter falhado. Gerei ansiedade num nível muito alto. Foram dias intensos, jamais vou esquecer a sensação. Eu sabia que seria um caminho longo e difícil, mas ninguém nunca está preparado para as  decepções.

Foi no mesmo ano que eu conheci a ONG missão África, e tenho certeza que foi esse projeto que me fez reerguer. Tava passeando pelo Instagram e entrei em contato com o pessoal, perguntando como poderia conhecer melhor a missão, ajudar e talvez conhecer o continente africano. A viagem para a África era mais de 5 mil reais, obviamente eu não tinha esse dinheiro, mas naquele momento eu senti Deus me guiando por esse caminho. Primeiro passo foi o apadrinhamento de uma criança, depois disso comecei arrecadar dinheiro para ir nessa missão.

Meus pais mais uma vez me incentivaram, e fizemos um bazar beneficente com as minhas roupas, da minha mãe e das minhas primas, para viajar em maio de 2013.

Assim que pisei na África, meu coração acelerou, como se Deus tivesse falado dentro de mim "aqui é seu lugar, essa é sua missão". Ao mesmo tempo meu coração apertou por ver toda a situação que aquelas pessoas passavam. Não tem como descrever sensação mais gratificante do que senti naquele momento, podendo ajudar. Tudo em mim vibrava, e me agarrei aquela sensação, agradecendo a Deus e me desculpando por ter me sentindo frustrada com tão pouco, sabendo que em alguns países daquele continente, as pessoas mal tinham condições de sonhar.

7 chaves 🗝 - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora