7 chaves 🗝 - Girafa

HISTÓRIAS 🗝

POV RAFA KALIMANN

Tiago foi parando de chorar aos poucos. Sabia que havia guardado aquilo tudo por muito tempo, e que só naquele momento, conseguia desabafar. Eu conhecia esse sentimento. Conseguia ver nele tudo aquilo que se passou dentro de mim. Era como reviver uma ferida.

- Tudo bem.- deixei um copo de água a sua frente.- Eu te entendo. - ele respirou fundo. Gizelly o analisava.

- Acho que vocês já sabem bastante coisa dessa história. Sei que Bernardo me procura, sei que ele ainda me ama. Não sei até que ponto contou sobre tudo isso. - seus olhos eram tristes.- Bom, nos conhecemos quando eu estava na faculdade. Não me apaixonei imediatamente, e não foi amor a primeira vista, nossa relação foi construída com o tempo. Nossa amizade se fortaleceu, não tínhamos segundas intenções. Pelo menos, não da minha parte. Bernardo foi insistente até que eu cedi, e aos poucos fomos construindo nossa relação. Fui muito resistente no início, por não saber o que sentia. Não entendia muito bem o que estava acontecendo entre nós e quais eram meus sentimentos. Até hoje, não sei definir minha sexualidade e também não acho que devo. Por um tempo decidi não pensar no assunto e apenas viver, sem tentar me encaixar em alguma coisa.

- Imagino.- concordei com a cabeça.

- Bernardo sempre teve ambição de ser ator, e do lugar que ele vinha, era muito difícil. As coisas não são fáceis para quem vem do interior, não temos muitas perspectivas.

- Ele nos contou.

- Sua carreira começou a crescer só alguns anos atrás, sempre soube que ele tinha talento e era muito esforçado. No começo, sabíamos que ele não podia assumir sua sexualidade, então, várias vezes flertava com as atrizes da sua idade, o que acabava gerando boatos nos sets de gravações. Isso nunca me incomodou. - concordei com a cabeça.- Sempre soube e inclusive, deixei claro para Bernardo, que não conseguiria falar sobre minha sexualidade tão abertamente, e isso sempre foi muito claro no nosso relacionamento.

- Entendo. - falei sincera.

- Conforme o tempo passou, me via cada vez mais envolto num sentimento de culpa, por amar outro homem. Vim de uma cidade vizinha, de onde Bernardo morava, e interior as coisas são muito diferentes. Sua ascensão finalmente chegou, e ele estava conquistando tudo o que queria. Sua proposta de ter um relacionamento falso com uma menina surgiu um pouco antes de terminarmos. Óbvio que eu tive uma parcela de culpa nisso, sempre falei para que ele não se assumisse gay, porque sabemos como o meio artístico ainda é, apesar de já termos evoluído.

- É muito difícil, eu sei bem disso.- olhei para Gizelly. Tiago concordou com a cabeça.

- Eu nunca quis aparecer, ou ter fama, só queria ser arquiteto, ganhar meu dinheiro com minha profissão e viver uma vida normal. A mídia é algo que me assusta muito. - suspirou pesado.- Enfim, chegou um tempo que não conseguia mais lidar com a culpa, não aceitação sobre minha sexualidade, e a carreira de Bernardo. Para ele as coisas se resolveriam facilmente, mas não é bem assim. Preferi me afastar do que continuar vivendo com tantos sentimentos ruins.

- E você ainda o ama? - foi a vez de Gizelly falar. Ele a olhou.

- Amo. Mas nem sempre o amor cura tudo. - ele olhava pela varanda, pensando.- Vivi dias infernais dentro do nosso relacionamento, com crises de pânico, ansiedade, e Bernardo não estava lá, pois trabalhava muito. Passava dias fora, viajando. E tudo que eu queria era viver uma vida normal, com alguém que pudesse estar comigo nos dias bons e ruins. Chegar em casa e ter ele ali comigo, para conversarmos sobre nosso dia, levar uma vida normal, sem fama, sem holofotes, sem mídia. Ser famoso sempre foi um desejo de Bernardo, não meu. Não consegui mais suportar tudo, brigamos feio muitas vezes antes de terminar definitivamente.