ARREPENDIMENTOS 🗝

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POV GIZELLY BICALHO

A neve acumulava ao longo do percurso, Tiago dirigia devagar pela estrada. Chegamos ao hospital, e demos entrada nas papeladas.

As contrações vinham mais rápido e com menos espaçamentos entre uma e outra. A obstetra que me acompanhava, disse que eu já estava com sete centímetros de dilatação, e se continuasse nesse ritmo, logo Liz estaria entre a gente.

Tiago segurava em minhas mãos, toda vez que eu sentia dor. Sabia que seus braços estavam arranhados e eu apertava com muita força seus dedos, mas o mesmo não reclamou.

- Você sabe que tá sendo uma terapia para mim.- Tiago me olhou erguendo a sobrancelha.- Poder te arranhar e apertar suas mãos, usando a desculpa do parto, para descontar toda minha raiva de você e do seu dono.

- Eu ainda preferia que você estivesse quebrando a porta do meu escritório. - ele bufou.- Espero que esse mini furacão seja mais calmo do que a furação da CPI. Fico imaginando o estrago que dois furacões podem causar juntos.

- Nem queira descobrir.- logo em seguida veio outra contração, onde gritei mais uma vez.

As horas iam se passando, e as contrações aumentavam. A obstetra avisou que os 10 centímetros de dilatação chegaram. Já havia perdido a noção das horas, parecia que estava há dias no hospital.

Esse momento do parto é uma sensação única. Comecei a chorar com tudo que estava acontecendo. Era uma emoção, misturado com medo e ansiedade.

Estava embaixo do chuveiro, com a água escorrendo nas minhas costas, agachada e Tiago a minha frente, só de calça, todo molhado, passando as mãos nas minhas costas enquanto eu fazia força. A obstetra e doula acompanhavam tudo de perto. 

- Eu estou sentindo a cabeça dela. - gritei.

- Tiago, bote a mão lá embaixo. Na próxima vez que Gizelly empurrar, talvez Liz nasça.- Tiago fez o que foi pedido.

- A cabeça tá aqui! - disse animado. - Coloca o furacão no nível 5 e força. Você consegue.- mais uma vez empurrei e senti minhas entranhas se abrirem, como se eu fosse explodir a qualquer momento. - Ela chegou. - Tiago a pegou no colo. A obstetra se aproximou de nós.

- Parabéns. - logo em seguida arrumou Liz no colo de Tiago.- Quer se levantar? - fiz que não com a cabeça, me sentindo confortável naquela posição. - Você papai, quer cortar o cordão? - Tiago balançou a cabeça positivamente, colocando Liz junto a seu peito. A menina começou a chorar, e meu coração voltou ao ritmo cardíaco normal. Já não controlava as lágrimas. A obstetra entregou uma tesoura na mão de Tiago, mostrando a onde deveria cortar.

Quando o cordão finalmente foi cortado, senti que uma parte de mim se foi. Logo a doula me ajudou a levantar da posição que estava, e seguimos para a cama ali perto, para terminar o processo final do parto.

Tiago estava sorrindo, e chorando ao mesmo tempo. Vi de rabo de olho que estavam fazendo todos os procedimentos em Liz. Queria ter a menina junto ao meu peito. Queria sentir aquele pequeno serzinho junto a mim.

A partir daquele momento eu renasci. Quando dizem que ser mãe muda tudo, não sabia que seria tanto. Ao ouvir o choro de Liz pela primeira, minha vida começou a fazer sentido.

7 chaves 🗝 - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora