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Acordei mais cedo que o comum naquela manhã, justamente para cumprir com o compromisso que estipulei na noite anterior. Nada poderia sair do planejado, afinal minha meta era apenas ajudar minha família com o que fosse necessário. Neste caso, era comida.

Vesti uma das poucas roupas apropriadas para o frio que ainda me servia, botas e luvas. Ajustei em minhas costas o coldre responsável por armazenar as fechas e meu arco, feito pelo meu pai. Também peguei algumas cordas, que me ajudariam a amarrar e arrastar minha caça. Logo em seguida, preparei minha saída, me alimentando apenas de uma bebida quente.

Era muito cedo, não havia ninguém fora de suas casas e isto também foi proposital, para que evitasse futuros desconfortos na minha família ou, para que não rendesse ladainhas desnecessárias pelo vilarejo. 

A recepção da floresta era uma entrada apertada, densa, repleta de galhos que mais pareciam espinhos.
Assim que cheguei o mais próximo deles, senti um calafrio percorrer toda a extensão da minha espinha. O que fez com que todo o meu corpo tremesse, mas não hesitei em adentrá-la. 

Não há o que temer. Tudo não passa de histórias.

Eu tentava me convencer com afirmações em minha cabeça, a cada passo que dava. Tudo para que não me fizesse voltar, apenas por medo de seu visual um tanto assustador.

O silêncio tomou conta no momento em que me localizei totalmente dentro da floresta, o lugar era três vezes mais frio do que estava acostumada lá fora. Mas mesmo nevando, não havia sinal da mesma percorrendo o seu chão. 

Procurei acreditar que aquilo se dava por se tratar de uma mata fechada. 

Vamos atrás do que interessa.



Malévola POV

Senti um calafrio assim que aquele cheiro invadiu as minhas narinas. O cheiro de humano. 

Fazia no mínimo sete décadas que aquele odor não me era apresentado. Me encontrava inclusive, admitindo um novo estado de calmaria na floresta.

Havia muito tempo que não sentia aquele cheiro. O cheiro, que me trazia a lembrança - ainda fresca - de toda a dor e sangue derramado. 

Todos os séculos que passei utilizando de todas as minhas forças para proteger este lugar. Todos os eforços, todos os feitiços e todas as cabeças que por mim foram arrancadas. 

Até que aconteceu o que aconteceu.

Logo, a raiva tomou conta de meu corpo, me fazendo estremecer e adentrar a floresta o mais rápido possível, atrás de minha visita não desejada. Aliei-me as sombras, passando pelas árvores para enfim encontrá-lo.

Um caçador.

A fúria me alcançou ao vê-lo puxar
uma fecha ao encontro de seu arco, mirando o que parecia ser um Veado. Ao pensar na estratégia que iria utilizar para matá-lo, seu corpo virou lateralmente, me fazendo avistar uma garota, jovem, que aparentava não ter chegado ainda em sua meia idade. Não parecia muito ágil com sua arma, o que me fez questionar sua coragem. 

O animal escolhido estava abatido, ainda que estivesse vivo, parecia ter sido alvo de algum outro predador. Mesmo que o animal não fosse sobreviver por muito tempo, não a podia deixar voltar para seu habitat, trazendo uma caça de minha floresta. Do contrário, minha calmaria não duraria mais por tanto tempo. 

Agi rapidamente. 

Pedi a floresta que lhe fizesse escutar os gritos que ali haviam sido projetados, anos atrás. 

Logo ela assustou-se e baixou o arco. Olhou ao seu redor, procurando a origem dos sons.

Continuei andando a espreita das árvores, devagar, utilizando de uma estratégia mais pacífica que o normal.

Mas ela ignorou o aviso. 

O sangue em minhas veias voltou a aquecer quando a vi levantar a arma outra vez, ainda para o animal que abatido, mal se movimentava. 

Decidi caminhar fazendo o barulho das folhas sendo pisadas no chão ficarem audíveis. Então ela me procurou. Esperei o momento certo para aparecer mais a sua frente, contra a luz, para que a minha silhueta a assutasse por trás das arvores. 

Mesmo assim, mais assustada que antes, disparou a flecha contra o animal, fazendo-o cair com o recém disparo em seu pescoço.

Então, esgotada, reduzi rapidamente o breve caminho que nos separava por meio de um pequeno e ágil voo. As minhas asas, ao bater, levantaram em uma ventania forte as folhas secas caídas no chão. Obtive em minhas mãos seu pescoço e precionei fortemente aquele lugar, a empurrando contra a árvore mais próxima.

- Se não quiser ter o mesmo destino que o animal, fuja e nunca mais volte.


Em seus olhos, vi o pavor escrito nas suas pupilas. Sabia que ela não conseguia ter minha completa visão pela falta de luz, mas mesmo assim foi o suficiente. Soltei seu pescoço e a vi correr, completamente desnorteada deixando para trás sua arma e sua caça.

Esperava ter feito no fim das contas, uma boa escolha em não matá-la, mas não entendia o motivo para tal.



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Em correção de erros

Uiui, primeira aparição dela por aqui...

O que vocês acharam?

Behind the Darkness [Aurora/Malévola] (LGBT FANFICTION)Onde histórias criam vida. Descubra agora