Concentro me no barulho das ondas se quebrando quando se chega na praia, a água banhando a areia que se espalha em minis grãos que são arrastadas para dentro do mar, se perdendo na imensidão azul e sendo levadas em pequenas partículas pela água e depois se desintegrando e voltando de novo a pequenas pedrinhas.
A calmaria do mar me anestesia, levando todos meus pensamentos ruins juntos. Imagino me sendo carregada pelas ondas, apenas sentindo a água fria batendo contra minha nuca, o sol se reluzindo em meu rosto e o vento fazendo cócegas em meus pés. Imagino me sorrindo, com a mente em paz, sem nenhuma preocupação ou pessoa, apenas eu e o mar.
Quando eu era criança, um pouco antes de meu pai partir para New Hampshire, ele me trouxe a essa mesma praia em um dia pouco quente. Lembro que sentamos na areia, um ao lado do outro e por um bom tempo, observamos o mar lavar a areia em silêncio, e então, ele me disse que iria se mudar, embora eu já suspeitasse pela reação da mamãe antes, mas ouvir da boca do meu pai que não amava ela mais como antes, doeu mais do que uma ferida que fora magoada e agora o sangue sai pelas fendas abertas.
Naquela época, eu não sabia como assimilar que meu pai não amava mais minha mãe, eu me sentia traída e ressentida, pensei que nunca entenderia os sentimentos dele, até mesmo na época que fui morar com ele e sua nova esposa, percebi que ainda não sabia a resposta para aquela pergunta.
Quanto tempo um amor pode durar?
Lembro que chorei quando meu pai me falou sobre o divórcio, mesmo sendo uma criança, senti que meu coração tinha se partido em pedacinhos que nunca se ajeitariam novamente. Depois que meu pai foi embora, passei a odiar filmes de princesas onde o príncipe faz juras eternas para suas amadas, principalmente a Pequena Sereia, um dos meus filmes favoritos de quando era criança. Meu pai assistia toda vez comigo, e eu sempre achei lindo o sacrifício da Ariel, mesmo sendo contra, que ela fez para conseguir se encontrar com o príncipe. Eu nunca mais consegui assistir novamente.
Finais felizes não existem, casais felizes o tempo todo também não e eu demorei para perceber isso. Não é que o amor acaba, pois eu sou a prova do amor que havia entre eles. O amor apenas esfriou e se tornou um carinho imenso, nunca desaparecia pois esse tipo de amor nunca morre, entretanto é preciso mais do que amar alguém para segura-lá.
É preciso primeiro o auto respeito.
— Desculpe te ligar a essa hora, mas preciso que você me escute, eu só tenho que falar antes que perca a pouca coragem que reuni — Sussurro. A respiração de Adam se torna audível do outro lado da linha, meu coração pula pela garganta.
Meu quarto parecia tão pequeno comparado a imensidão de sentimentos dentro de mim, porém na escuridão da madrugada, tudo parece tão enorme comparado ao dia, deixando me com um enorme sentimento de vazio por dentro.
— A Julie veio me procurar, dizendo que estava grávida. Isso faz algumas semanas e eu sei que deveria ter te contado, mas eu não consegui — Minha voz sai estrangulada, as lágrimas quentes rolando pelas minhas bochechas — Eu sei que deveria ter dito, me desculpe, mas sabe? Por um momento eu queria ser egoísta, te segurar perto de mim e não soltar mais, eu só queria ser mais forte, então fiquei adiando o inevitável. Mas sabe o engraçado? Pâmela me procurou e disse que a gravidez é mentira — Rio, sem nenhum humor.
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20 Segundos para o clichê
Romance"O sapato certo te leva ao lugar ideal. No entanto, o melhor sapato te leva ao lugar desejado" London Smith é uma colecionadora nata de sapatos. De todas as cores e formas possíveis, ela os seleciona de acordo com a ocasião. Mas tem um em especial...