[ II ]⠀† ⠀ 𝗼 𝗽𝗼𝗿𝘁𝗼 𝗱𝗮 𝗰𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲 𝘁𝘂𝗿𝗰𝗮 𝗱𝗲 𝗜𝘀𝘁𝗮𝗺𝗯𝘂𝗹, segundo ato.

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Não rogo que os tires do mundo,
mas que os protejas do Maligno.








CAPÍTULO DOIS

[ Um feixe de luz cintilante atravessou as pesadas janelas do cômodo 49,

adentrando o ambiente c repousando nas pálpebras delicadas do diabo. ]

A mulher havia dormido apenas três horas desde que embarcou no navio LePetit. O chacoalhar da embarcação fazia sua mente girar no vazio. Sem pensamentos, sonhos ou pesadelos em seu despertar. Apenas aquela pequena luz, um raio de sol que aquecia sua pele bronzeada e fazia seus sentidos retornarem.

Suas mãos ainda exalavam o cheiro do sangue de James, o que pouco lhe importava. Não é como se não estivesse habituada ao odor da morte.

Jennie não tinha medos com os quais se preocupar, apenas dormia tranquilamente sem remorso ou algum peso na consciência. Se não possuía sentimentos, não havia espaço para culpa ou remorso. Apenas a tranquilidade silenciosa de uma assassina. Ela caminhou em direção ao corredor da sala de jantar, ouvindo o leve ressoar de uma música vinda de algum quarto.

Camarões fritos ao molho branco, vinho tinto e peixes cozidos com salada de figos ao mel e queijo gorgonzola foram servidos na mesa em que o diabo repousava. O navio estava indo em direção a Rostov, mas no momento fazia uma pausa no Porto da cidade turca de Istambul. Era uma cidade interessante, com todo aquele aspecto antigo e a sensação de calmaria.

Jennie experimentou um dos camarões, afundando-o no molho branco enquanto se servia de uma taça de vinho. Teve que se contentar com o vinho, já que não tinha mais nada para beber. Que tipo de navio oferecia apenas vinho aos seus passageiros? Seria um tanto cômico se não fosse tão trágico.

O problema era que Jennie não sentia tanto prazer com as refeições da Terra, apenas as bebidas alcoólicas faziam seu interior aquecer e vibrar de satisfação. O cheiro do sangue também enlouquecia seus sentidos, roubando os resquícios de sanidade que ainda possuía. Não gostava de beber o sangue de ninguém, mas isso era comum para os demônios de nível inferior.

O chacoalhar da embarcação por vezes chegou a incomodar, mas o diabo tinha o destino certo. Teria que aguentar o ambiente repleto de crianças barulhentas e casais felizes que velejavam nesse cruzeiro romântico e propício.

Na pausa que fizeram em Istambul, Jennie sequer teve vontade de sair do navio e conhecer a cidade. O pensamento lhe causava vertigem. Ainda mais quando estava na balaustrada do convés e observou balões sobrevoarem a região. Em um dos balões, havia um casal que desembarcou do navio e comemoravam a lua de mel viajando pela Ásia e Europa.

O amor é um sentimento tão raso.

O diabo tinha certeza de que o marido ia trair a mulher no próximo inverno, essa relação seria conturbada e infeliz.

Seus olhos se fecharam em desgosto, então caminhou para qualquer lugar longe daquela vista enjoativa. Um homem esbarrou nela quando tentou correr desesperadamente pela porta. O corpo de Jennie sequer se moveu, tendo em vista que sua força era muito superior à humana. Ela apenas encarou o rapaz que estava sendo seguido por soldados logo atrás.

— Você! Não deixe que ele fuja! — Gritou um deles, parecia ser o comandante ou alguma patente mais importante.

— Senhor, ele foi para o quarto do capitão! — O outro esbravejou, as mãos segurando os cabelos enquanto corria.

 † Hellfire †Onde histórias criam vida. Descubra agora