[ I ]⠀† ⠀ 𝗮𝘀 𝗯𝗿𝘂𝗺𝗮𝘀 𝗱𝗼 𝗺𝗮𝗿 𝗻𝗲𝗴𝗿𝗼, primeiro ato.

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"Pois, que adiantará ao homem ganhar
o mundo inteiro e perder a sua alma?

Ou, o que o homem poderá dar em troca
de sua alma?"






CAPÍTULO  1
(Aviso de cenas com gatilhos)


[ O sol do meio-dia começava a aquecer as
águas caliginosas do Mar Negro, surgindo por

trás de nuvens carregadas que anunciavam a promessa da chuva.

Ondas agitadas percorriam a costa litorânea e iam se desmanchando em diminutas porções de espuma.

O porto da cidade Búlgara nomeada Varna, no entanto, estava silencioso e desértico.

O único som audível era o balançar de barcos que permaneciam atracados ali.

Até que um redemoinho irrompeu na água,
trazendo consigo a figura de uma mulher. ]




Jennie — conhecida como Lúcifer — surgiu no meio do oceano, seu aspecto demoníaco e pele muito pálida harmonizando com o entorno.

Ela flutuou nas águas turvas, perdida entre os resquícios de uma névoa, o clima aprazível e seus pensamentos distoantes. Num piscar de olhos, suas enormes asas enegrecidas foram se esvaindo como se o mar as tivesse levado.

Os olhos retornaram ao seu antigo castanho-mel e a fisionomia ganhava mais cor, como se acabasse de ser bronzeada pelo vislumbre do sol.

Agarrando-se à uma embarcação desgastada, Jennie observou a cidade cuidadosamente, se assemelhava a uma ilha paradisíaca que havia sido esquecida em um recanto do mundo.

Ou talvez as pessoas daquele deserto gelado estivessem muito ocupadas para dar passeios pelo Porto.

Nunca em toda a sua bela imortalidade tinha vivenciado uma época tão caótica. Os seres humanos apenas estavam habituados à uma vida árdua e difícil. Mas o que eles poderiam fazer?

A inércia é muito mais problemática do que o caos, pois é nela que pensam em sua situação miserável e sentem pena de si mesmos. O ato de pensar traz o vazio e a realidade à tona, e ninguém em plena sanidade gostaria de viver em constante consciência de sua própria desgraça.

E assim é o ser humano: tão absurdamente vazio que se preenche com qualquer coisa, por mais insignificante que seja.

Erguendo-se no píer, Jennie começou a caminhar vagarosamente em direção as casas mais à frente. Seus pés estavam descalços e as roupas respingavam por todo trajeto, mas não sentia frio e tampouco se incomodava com sua aparência diante das pessoas.

Se é que iria encontrar alguma alma naquele mausoléu. De preferência, viva.

Após algumas longas passadas, ela encontrou o centro comercial — surpreendentemente não era habitado por mortos — e um grande fluxo de veículos que se ouvia na rua mais distante, somado ao tumulto de vendedores e cargas de navios.

Era tudo muito diferente do que o diabo havia presenciado há anos antes. Isso só comprova a frase de que nada é imutável.

Jennie absorveu toda a tecnologia, todas as informações úteis contidas naquelas mentes agitadas e frágeis cujas quais podia entrar com facilidade. Sua presença logo foi notada por um comerciante muito interessado em estranhos perdidos e ingênuos.

 † Hellfire †Onde histórias criam vida. Descubra agora