Capitulo 03

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Fiquei ali imóvel na mesma posição, fitando o teto, durante toda a noite, não conseguindo conciliar o sono. Com certeza nunca havia passado uma noite maior em toda minha vida, vi Claudio voltar da rua de madrugada, trocou de roupa deitando-se ao meu lado sem olhar para mim e nem falar nada, em poucos minutos ele estava ressonando o que deduzi está dormindo um sono profundo, sem dar importância de minha presença na cama dele, uma dor angustiante tomava conta de mim.

No outro dia cedo conheci de verdade sua família, eram pessoas alegres barulhentas mesmo, já amanhecia o dia a todo vapor, cada um falando para outro o que ia fazer durante o dia, descobri que Mavia sua irmã mais velha trabalhava em um supermercado da cidade, o melhor eu acho, a outra, Marcia trabalhava em uma lanchonete no centro, a caçula Leninha ia para a escola junto com o irmão Beto. Cada um tinha uma ocupação, cada um tinha uma responsabilidade, cada um tinha o que fazer, era uma família de pessoas negras lindas, muito bem instruídas, falavam de política, falavam da revolução pelo qual o mundo atravessava, cada um dava sua opinião, e todos tinham o mesmo desejo de um dia o nosso país ter leis que punissem pessoas que ofendessem pobres e negros, eu não acreditava nisso, achava tudo bobagem, não sabia nem do que eles estava falando, nunca conversava sobre aquilo com ninguém, em minha casa o assunto quando tinha, era sobre a roupa da fulana, o que saiu na moda, o que tinha de novo na butique de Marilda, que era a butique mais famosa da nossa cidade, quem não tinha uma peça comprada na butique dela.__Era pobre, era excluído do nosso meio, eu e as meninas com quem andava selecionávamos as pessoas, as meninas de menor poder aquisitivo, não faziam parte de nossa turma, a gente nem falava com essas pessoas, os rapazes esnobavam elas, quando resolviam ficar com uma dessas meninas era escondido, e só para usar as coitadas, depois fingia que nem as via, mesmo que fossem meninas lindas, ali eu estava diante de um quadro totalmente diferente, eles cuidavam de suas próprias coisas, sem pedir nada a ninguém, cada um ajudando o outro, entre eles não havia discórdia, ninguém era melhor do que ninguém, todos veneravam D. Santa a mãe deles, beijavam seu rosto quando iam sair dizendo:__Benção mãe, e ela os abençoava, desejando que Deus os protegessem, eu ouvia as conversas ainda dentro do quarto sem coragem de sair e encara-los, eu não me sentia bem vinda naquela casa, naquela família, não sabia nem o que dizer... Entendi que a posição de Luiz Claudio era de um pai, a última palavra era sempre a dele. Mais também entendi que entre eles havia muito amor, e muita cumplicidade, vi que estava no lugar totalmente desapropriado e sozinha.

Saí do quarto sem saber ao certo o que dizer:

__Bom dia, falei com um sorriso amarelo, e todos me responderam simultâneos, menos Luiz Claudio que se quer olhou para mim.

__. Senta aqui e tome café, D. Santa me convidou. Mas Luiz Cláudio levantou-se dizendo:

__. Ela não vai sentar-se mamãe, ela vai trabalhar e já está atrasada, vamos.

Saiu me puxando pela mão, enquanto seus irmãos ficavam me olhando, demostrando pena por me ver naquela situação, claro que todos sabiam que eu estava ali só para ter o filho dele, e todos deviam saber que eu o tinha chamado de.... Não queria nem pensar mais nisso.

A casa dos amigos dele ficava na mesma rua e por coincidência o rapaz chamava-se Pedro, casado com Rejane, que nos receberam com um sorriso, enquanto ele fazia as apresentações.

__Essa é Tereza Cristina.... Me apresentou para o casal que esperava de pé no meio da sala, o rapaz segurava um bebezinho todo embrulhado. Eu não sabia o que dizer muito menos o que fazer...E logico todos percebiam o meu embaraço total. Mas para meu conforto ele beijou o bebezinho entregando para a mãe, Luiz Claudio foi lá brincou com ele no colo da mãe saindo junto com o pai me deixando sozinha com moça.

DOIS EM UMOnde histórias criam vida. Descubra agora