Um: Expectativa

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Expectativa...

“Do latim exspectare, o sentimento de expectativa só pode existir na ausência da realidade, ou seja, quando o objeto que motiva a expectativa ainda não se tornou viável e real, sendo apenas uma condição presente no desejo de posse do indivíduo.”

Ok, eu definiria de um modo mais simples, algo como: “ato de fazer planos, confiando que nada e ninguém poderá frustrá-los”.

Não, não sou contra as expectativas, planos e sonhos. De modo algum! Certas expectativas deveriam ser mantidas no coração, como a esperança do retorno de Jesus e todas as outras promessas celestiais, por exemplo. Outras, no entanto, podiam ser bem nocivas e toda jovem cristã deveria fugir delas o mais rápido possível. Falo com a experiência de uma jovem tola que se deixou levar pelo coração corrupto e aprendeu com os próprios erros.

Aliás, foram anos dedicando-me ao estudo da Palavra, lendo bons livros, me aconselhando com amigas mais velhas e sábias e me acostumando a deixar meus planos do futuro nas mãos do Senhor. Enfim, o tempo foi passando e quando dei por mim, julguei ter alcançado o ápice do tal contentamento.

E como duvidaria disso? Eu realmente me sentia contente com a minha vida.

Aos vinte e dois anos eu havia seguido os passos de meus pais e parti para o campo missionário após me formar em pedagogia. Fiz um curso no Instituto de Missões Jim Elliot em Manaus durante alguns meses e ali ganhei a oportunidade de exercer minha profissão amada em prol da obra de Cristo, atuando como professora, alfabetizando adultos. Além disso, eu também estava extremamente feliz com minha solteirice e até mesmo já havia aceitado com alegria a possibilidade de permanecer nessa condição para sempre.

Contudo, meus planos estavam prestes a mudar por completo.

— Bibi? O que está fazendo aí? — Levei um baita susto e deixei meu celular cair ao ouvir a voz de Naiara.

Ela, além de ser uma incrível professora de música, também era uma de minhas amigas mais queridas, quem esteve comigo desde o meu primeiro dia na base missionária.

— Misericórdia, Naiara! Isso lá é jeito de chegar? — Coloquei a mão sobre o peito, sentindo o coração acelerado.

— Desculpe. — Ela pegou meu celular que foi amortecido pela grama e me entregou. — Só cheguei sorrateira porque queria saber qual motivo te fez acabar sua aula, deixar a classe e vir se esconder debaixo dessa árvore ao invés de voltar para a base.

Ergui as sobrancelhas e tentei disfarçar meus intentos, mesmo sabendo que seria desmascarada em breve.

— Eu, me escondendo? Ora, essa! Não é nada disso. Apenas estou aqui porque o sinal é melhor e eu precisava enviar uma mensagem para o meu irmão. Soube que ele vai pastorear uma igreja em São Paulo e... — Fiz uma pausa ao ver o olhar cético dela. — Certo, você me pegou, eu estava me escondendo do Micael.

Ela abriu a boca e cruzou os braços em frente ao busto. Eu não queria ter tomado aquela atitude radical mas, não pude evitar. A situação era catastrófica.

— A-há! Então agora acredita em mim? — declarou a jovem morena de cabelos pretos com seu olhar divertido.

— Ele é um dos líderes da base, como poderia prever que estava interessado na minha pessoa? Na verdade, duvidava até ontem, mas ele veio me buscar aqui no instituto e me trouxe uma flor — sussurrei sentindo as bochechas arderem. — Quase morri de vergonha com meus alunos vendo tudo aquilo!

— Por isso, você se escondeu? Temeu que Micael viesse buscá-la, mas dessa vez te pedisse em casamento ou pior, te roubasse um beijo? — Ela riu e eu lancei um olhar estreito em sua direção. — Estou brincando, ele não faria isso. Todos aqui sabem quão radical você é com esses assuntos.

Do Grão à Perola - Livro 3 (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora