"E agora como vai ser, meu Deus?"
"Será que consigo mesmo lidar com tudo isso?"
"Que besteira! Claro que consigo! Consigo, não é?"
Essa e outras perguntas resumiam bem a agitação da minha mente desde que ouvi a famigerada notícia: “Teófilo está voltando do Equador para cá”. Desde então meu trabalho para manter as emoções sobre controle triplicou.
Eu me sentia dividida entre ignorar completamente aquele assunto e pensar em quais eram as chances e como tudo poderia dar errado quando eu reencontrasse aquele velho conhecido novamente.
Qual era o meu problema?
Por que não conseguia ficar feliz com as novidades?
Ah, sim, talvez porque eu não só fui perdidamente apaixonada, como também, não intencionalmente, fiz com que Teófilo soubesse disso! Ou seja, meu leve abalo estava totalmente e absolutamente justificado.
De um momento ao outro, toda a nossa história juntos veio à tona e, surpreendentemente, eu ainda lembrava com detalhes de tudo.
Vi Teófilo pela primeira vez acompanhando sua avó em um culto da família na igreja onde fui praticamente criada. Ele tinha quinze e eu, onze anos, pirralha demais para se interessar por alguém, sei disso. Em minha defesa, eu não me interessei logo de cara, afinal, apesar de ser bonitinho, Téo era também sinônimo de mistério, não se mostrando a pessoa mais desinibida e conversadeira do mundo. Entretanto, quando se tornou, de fato, um membro da congregação e passou a frequentar a mesma classe de escola dominical na qual eu também havia sido matriculada pude ter uma nova perspectiva daquele ser.
Até então eu não acreditava em príncipe encantado. Minha mãe sempre me ensinou a não confiar em desenhos infantis de princesas, pois até mesmo o mais belo homem da realeza não passava de um pecador. Contudo, foi impossível não enxergar Téo como meu príncipe quando o ouvi contando com um misto de coragem e timidez ao professor da nossa classe que nunca havia beijado uma garota e nem pretendia, pois fora ensinado pela avó e seu antigo pastor que deveria guardar esse gesto para sua esposa.
"Preciso me casar com ele" foi o primeiro pensamento vergonhoso que me veio a mente quando ouvi as convicções dele.
Nem mesmo preciso dizer que depois disso, eu entrei de cabeça naquela paixão platônica e o resultado não foi nada agradável.
Tentei resistir aos sentimentos, mas Téo também não ajudava. Além de muito bonito e gentil com todos, ele era, sobretudo, um cristão de verdade e demonstrava fé e temor a Deus em seu modo de agir. Com isso, minha expectativa de viver um romance ao lado dele só aumentou, mesmo sabendo todos os impedimentos óbvios existentes entre nós. Além de eu ser muito nova e imatura em tudo, nem mesmo o ensino médio eu havia começado. Sendo assim, como raios ele se interessaria por mim?
Vendo minha crítica situação, algumas amigas mais próximas da igreja se compadeceram de mim e me apoiaram naquela causa. E com apoiar, quero dizer que, na verdade, elas colocaram lenha na fogueira dos meu coração sem se preocupar com os riscos de alguém sair queimado. Mas, pra ser sincera, eu sequer pensava nas chances de me machucar ou ferir outra pessoa e achava até divertido me ajuntar com aquelas meninas mais tolas do que eu, com objetivo de fantasiar e bolar planos mirabolantes para que assim, Téo me notasse.
Minha falta de noção foi tão grande que quase cedi quando me proporam declarar meus sentimentos a ele de uma vez. Não fiz isso, graças a Deus e apesar de tentada, mantive-me firme às minhas convicções, tendo certeza que desespero nenhum nessa vida me levaria a passar por uma humilhação tão grande. Seria mais seguro esperar no Senhor, mesmo que demorasse anos.
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Do Grão à Perola - Livro 3 (EM PAUSA)
Spiritual(EM PAUSA) Bianca Maia tinha todas as bênçãos que a maioria das garotas cristãs almejam: era bela, afortunada, cresceu cercada de amor e da proteção de um lar cristão, estudara nas melhores escola, possuía dons e atributos invejáveis, estava sempre...