Verônica Vincenza

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Moral da História

Hoje eu estava na Universidade e em um dos questionamentos e incertezas que propositalmente "tiram o chão" dos alunos de pós-graduação, para deixá-los mais questionadores e malucos sobre literatura, e sobre o curso, foi: os livros infantis devem ou não ter a moral da história explícita? Depois de um consenso em sala de que uma obra literária de "calibre" deve deixar o leitor entender a moral por si, lembrei-me automaticamente aos livros que eu escrevi e; para a minha surpresa, uma das obras que eu mais gosto de trabalhar tinha sim a moral da história explícita. Seu enredo era sobre amizade e no seu final estava escrito: "Cada um é único e especial á sua maneira e quando temos amigos podemos aprender muito com eles". Gelei. Dois minutos de silêncio para a morte acadêmica de minha obra recém-lançada. Mas aí, quando estava retornando á casa já achando que tudo que eu havia escrito talvez nem fosse literatura e meu esforço para apresentar textos que acrescentassem algo na vida das pessoas fosse mera soberba, me veio à memória uma contação de histórias que fiz deste mesmo livro. Era para crianças que estavam acostumadas a ouvir: "por que você não é igual a fulano? beltrano é que é bom! ciclano, ah, esse sim é um excelente aluno!..." aquelas que nunca haviam sido valorizadas por suas qualidades e por serem diferentes e especiais por isso, eram sempre comparadas com algo ou alguém que possuía aquela qualidade. E recordo-me do rosto de desprezo destas crianças que chegaram impacientes para ouvir aquela moça, a tal escritora, falar e contar uma história fantástica sem ter muito "a ver" com a realidade deles, rosto de espanto, quando foram chamados para o palco para ajudar a contar a tal história, para serem únicos e especiais e aprenderem uns com os outros. Rosto de surpresa, quando descobriram que sim, era possível e fantástica a realidade de dar-se conta de suas próprias qualidades. Rosto de alegria, o meu, de ver todos aqueles meninos e meninas batendo palmas e saindo de nossa experiência confiantes e sorrindo. Respirei fundo. Havia sim descoberto a não tão explícita moral história.

Escritor SolidárioOnde histórias criam vida. Descubra agora