Chego em casa e tiro toda minha roupa e finalmente aquela máscara para que possa respirar melhor.
Que saco! Esse vírus infeliz.
Depois de passar novamente o álcool em gel nas mãos, corro para o banheiro e tomo um banho bem gostoso. Me sinto nova!
Coloco a lasanha para esquentar enquanto vou a procura de Léo.
Gatos geralmente me detestam.
Tudo começou na infância quando ganhei um gatinho de presente, mas queria um cachorro. Eu, uma garota de cinco anos que esperneou e gritou com o pobre gatinho e durante a noite se arrependeu, mas ele já tinha fugido.
Desde então não me dou bem com gatos. E eles parecem saber o que eu fiz no passado, porque não gostam de mim.Então não. Ele não é meu.
Ele é de Lissa. Minha melhor amiga e companheira de apartamento. Com seu corpo magérrimo, cabelos loiros, rosto perfeito e olhos cor de jade, decidiu seguir a carreira de modelo. Tinha feito seu primeiro grande desfile em Paris, mas não conseguiu voltar pra casa por causa da quarentena.
Aí sobrou pra quem cuidar daquela bola de pêlos?Sim. Euzinha aqui.
No começo não percebi seus sumiços, pois ele só vivia deitado em sua cama no quarto dela e quando eu chegava do trabalho a comida estava mexida, e a areia - eca! - estava lá para limpar.
Trabalho no supermercado perto de casa. E o resto do tempo eu estava fazendo os trabalhos e atividades da faculdade.
Eu deveria estar no estágio durante esse período, mas com toda a pandemia foi impossível, então tive que ficar mais alguns meses trabalhando pra guardar dinheiro.Mas quando em alguns dias a comida e a areia começaram a ficar intactas, sabia que tinha acontecido algo. Na primeira vez me desesperei, mas logo ele estava de volta.
Então, houve uma vez que ele ficou uma semana sem aparecer. Já estava morrendo de preocupação, e eu nem podia sair para procurar. Lissa ia me matar!
Aí eu chego em casa no dia seguinte e o gato está como?
De banho tomado, cheiroso, unhas aparadas e uma gravatinha de petshop no pescoço.Gato safado, que aparentemente tinha duas famílias.
E eu pensei que só humanos safados faziam isso.
Foi aí que tive a ideia de fazer um pequeno bilhete e prender em sua coleira, para que a segunda família visse.
Eu iria acabar com a festa do safado!
Não estava esperando que alguém respondesse. Então qual foi minha surpresa ao ver um pedacinho de papel vermelho preso em sua coleira - já que o que tinha mandado era amarelo.
O cara me respondeu, e eu o respondi. E ele respondeu novamente e estamos assim a mais ou menos quatro meses.Dimitri, é o seu nome. Ele é um cara legal. Vinte e sete anos. Um metro e oitenta, cabelos lisos e olhos castanhos. Gosta de ler, especialmente livros de faroeste. E é solteiro. Trabalha na parte jurídica de uma empresa.
Como eu sei de tudo isso? Eu perguntei, e ele me respondeu.
Nós achamos engraçado a forma que nos conhecemos e começamos a nos corresponder assim.
O que antes eram pequenos bilhetes de três centímetros passaram a aumentar com o tempo. Eu o contava sobre meus dias e ele os seus. Tínhamos desenvolvido uma amizade.
Nenhum de nós tinha passado número de celular ou redes sociais. Entramos num acordo de só falarmos assim, mas eu estava tentada a quebra-lo.Isso porque seu último bilhete tinha chegado todo molhado e rasgado que nem consegui ler direito.
E se eu perdesse o contato com ele de uma hora pra outra? E pior se alguém pegasse Léo e fizesse mal?
Meu coração doía só de pensar. Eu não queria admitir em voz alta que eu estava gostando de Dimitri e nem tão pouco do gato.
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Gato Mensagem
FanfictionResponsável por cuidar de Léo, gato de sua melhor amiga e companheira de apartamento, Rose logo percebeu que o gato tinha outra pessoa que também cuidava dele. Preocupada com o que aconteceria se o gato sumisse de vez, ela resolve mandar um bilhete...