Ato III : "Calmaria"

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Fecho a janela, escondo a paisagem
Pintada na fresta da porta — 
E de minhas pálpebras: e tudo é alheio
Como a lembrança vaga e pálida
De sonhos póstumos no paraíso;

A insegurança me pega pelo braço
E, apontando para meu rosto,
Mantém seu silêncio frio e confuso;
Apática, como tudo que para o tempo,
Me enche de pensamentos azuis
E de nimbos eclipsando alvoradas;

Cochilo numa tarde incerta,
Onde as horas não sabem passar,
Banhadas num "devaneio", uma amência,
Trazendo dormência a tudo outrora festivo

Não há alívio! Me banho no rio Lete
E que vida viverei depois?
Ora. Não me faça pensar!
Que eu me perca no azul anil,
E longínquos afins,
De pensamentos que toquem altitudes
Onde aves de rapina não voem;
Que o Amor, em meus olhos turvos,
Não veja céu neste mundo,
E o fundo do oceano seja meu lar.

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17/05/2018

Serenata à SaudadeOnde histórias criam vida. Descubra agora