𝐅𝐄𝐀𝐑 - 𝟎𝟑.

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Bicha. Bicha. Bicha.

Neil empurra a porta em um estrondo alto, fazendo Billy pular da cama de abrupto, tropeçando em seus pés no intuito de manter-se o mais longe possível do homem irado. Ele começa com gritos altos, vibram pelas paredes e chegam até Billy como facas, mas ele já esperava algo assim no começo da semana, ele espera todos os dias, independente de estar ou não no caminho do pai, ele sempre o buscaria e o arrastaria para a merda, para baixo. Neil agarra sua camisa e o empurra na parede, seu rosto está vermelho de raiva, seus olhos parecem bolas de basquete. Todas as veias em sua testa e pescoço estão expostas, saltando a cada grito, todos os insultos jogados no filho com a força de uma batida. Billy permanece em silêncio, ele espera que isso termine rápido o suficiente para ele tentar dormir um pouco para o dia seguinte; ele terá que buscar as peças do uniforme que usará na piscina, felizmente recebeu a ligação que tanto esperou.

Bicha. Bicha.

Dessa vez ele ouve perfeitamente bem, em bom som. Raramente acontece, geralmente quando ele tem um encontro e Max precisa estar em casa em um horário específico, ele sempre se atrasa, independente do seu esforço e Max tem muitos assuntos a discutir com os seus amigos, ela sempre demora para entrar no carro. Então, Neil diz bicha porque é sempre a sua culpa, todas as vezes. Ou ele se arruma demais, ou ele passa tempo demais com alguma garota para provar alguma coisa, e essa garota nunca é boa.

Billy pensa assim, ele quer se explicar sem entender o que ele fez dessa vez, mas Neil não permite.

O primeiro soco é desferido em seu maxilar, sem cuidado algum, são nós dos dedos frios contra sua pele quente. Arde, queima. Ele aperta os dentes e leva ambas as mãos para o local, é como se algo tivesse quebrado, partido. Ele cospe sangue no chão e antes de poder se recuperar está sendo puxado mais uma vez para cima pela gola da camisa. Ele se nega a olhar nos olhos do pai e esse mesmo ri, é estrondoso. O aperto dos seus dedos faz o tecido fino da camisa ceder aos poucos, ele o solta de uma mão, tira algo do bolso e joga na cama. As notas verdes espalham entre a bagunça do lençol e a tempo de ver a expressão indiferente ele se vira.

"Isso veio do pai daquele muleque rico, como se chama? Hm, Billy? Como chama?"

Steve. Ele consegue imaginar o homem que ele viu na casa de Steve, o que os pegou no hall de entrada, pagando seu pai por algum trabalho sujo. Ele não precisa imaginar muito para deduzir o que está acontecendo, para entender a expressão quase desumana no rosto do seu pai, depois de todos esses anos sobrevivendo ao lado dele, ele sabe quando deve se preparar para algo mais pesado que o normal, maior e mais doloroso que as comparações que Neil faz entre ele e sua mãe, como se ser como ela fosse algo ruim. Ao contrário da sua mãe, ele não tem para onde ir.

O segundo soco acontece. É um baque surdo, um zumbido alto invade a sua audição, seus olhos lacrimejam quando um filete de sangue escorre de uma das narinas, atravessando por entre os seus lábios. O gosto de ferro do sangue invade o seu paladar, ele busca aliviar a dor levando ambas as mãos para o rosto, os joelhos cedendo aos poucos até ele estar no chão. Neil lhe acerta com chutes, a ponta da bota suja e pesada encontram um caminho doloroso nas costelas do rapaz e é exatamente o que Neil procura, ele ri todas as vezes em que Billy engasga, choraminga.

Ele não quer um filho bicha, ele não quer que a cidade fale sobre a criação que ele lhe deu de uma forma ruim. E Billy, ele sabe. E ele tentou, tentou arrancar de si aquela parte que nunca está satisfeita com um belo par de peitos em seu banco traseiro ou uma casa pequena com cercas brancas. Aquela parte em que Steve é muito mais que um saco de pancadas, alguém para ele descontar suas frustrações e usar sua força contra para impressionar o resto dos jovens caipiras ao seu redor. E ele quer Steve, ele o deseja de todas as formas boas.

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⏰ Última atualização: Apr 03 ⏰

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