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 — King! — Luz gritou, escondendo sua exaustão com um sorriso. — Já está na hora de voltar para casa, não é?

O pequeno demônio observou a garota limpar algumas gotas de suor que escorriam pela sua testa com a palma da mão.

— Eu juro que é só mais essa vez! — King disse ao soltar a bolinha rosa que segurava com os dentes aos pés da humana.

— Está bem, — ela disse — só mais essa vez.

A garota abaixou-se para pegar a bola e lançou-a, King correu como se não tivesse corrido a tarde toda. 

Algumas horas antes, Luz achou que seria divertido para os dois, pois tinha certeza que King gostaria de brincar como um cachorro (desde que não soubesse desse detalhe) e sentia falta de jogar objetos por cima do muro de sua casa para que a cadela da vizinha pegasse, quando ainda estava em casa...

Em casa. Tinha saudades de casa, mas não estaria lá agora de qualquer forma. Será que sua mãe mandara mais alguma mensagem? Aproximou a mão do bolso, onde estava seu celular, mas hesitou em pega-lo.

Preferiu olhar para trás e imaginar o caminho de volta para a Casa da Coruja, já começara a escurecer e estavam longe, pelo menos vinte minutos de caminhada. Luz esteve naquela floresta alguns dias antes, era o mesmo lugar onde ela e Amity tinham enfrentado o monstro Grom com uma dança.

Sentiu um formigamento estranho em seu estômago. Não era a primeira vez que aquela estranha sensação a atingia, acontecia com frequência principalmente na escola, ela tinha vontade de ir até a enfermaria como fazia no mundo humano, mas nenhuma enfermeira de Hexside seria capaz de entender seu corpo, o qual não tinha um saco de bile no coração e ainda contava com orelhinhas redondas.

Esqueceu-se de todas essas coisas quando viu King se aproximando, mais uma vez, ele soltou a bolinha rosa em seus pés, encarando-a com a sua expressão mais fofa.

— Não, King, está mesmo na hora de voltar.

Pegou a bolinha do chão.

— Aposto que se fosse Willow ou Gus você jogaria mais uma vez! Até se fosse aquela antipática do cabelo verde, você gosta mais deles do que de mim.

— King.

— É verdade, não negue.

— Não, essa não é nossa bola, King. É uma folha de papel rosa amassada, olhe.

Inegavelmente a coloração do papel e do brinquedo eram muito parecidas. Luz compreendeu que ele pegara o objeto errado por engado.

— Nossa bolinha ainda está por aí?! Perdida?! Devo busca-la! — O demônio disse, antes de sair correndo de novo.

A garota encarou o papel amassado por alguns instantes, ele tinha algo de familiar. Seu estômago formigou quando desamassou o achado o máximo que pode, revelando uma caligrafia encantadora que escrevia:

"Luz,"

A Vez de Luz - Lumity SurtosOnde histórias criam vida. Descubra agora