O meu nome é Emma

Amizade

Nos encaravamos por um tempo sem saber realmente como conversar, até que Kagami e minha mãe apareceram por trás, acabando com o clima incerto que se formava.

- Ainda bem que vocês voltaram - elas estenderam o braço um para a outra em um aperto de mão caloroso - Adrien está ali, aposto que ele também gostaria de te ver depois desse tempo todo! - minha mãe apontou na direção de meu pai, as duas saíram conversando e pude sentir um suave empurrão nas minhas costas fazendo com que eu desse alguns passos à frente, mais perto de Hiroki.

- Hm.... Feliz aniversário - sua voz grave e suave ao mesmo tempo ecoou meus ouvidos como a melodia de uma música calmante. Ele sorriu estendendo uma pequena caixinha em minha direção - Eu também senti sua falta, a propósito...

- Obrigada... - levei uma mexa do cabelo atrás da orelha e em seguida peguei o recipiente. Abri e dentro continha um delicado colar de borboleta, com pequenos traços coloridos preenchendo-a, em tons de roxo. - Hiroki... Eu... Eu amei!

- É sua cara não é? - ele estendeu a mão com um sorriso de satisfação plantado no rosto - É que você se parece com uma borboleta. Voa livre e solta sem se preocupar com o dia de amanhã e vivendo o hoje. A leveza também é parecida, talvez você só seja um pouco mais elétrica. Posso? - ele fez um gesto para que eu entregasse o colar e ele botasse em mim. Viver hoje sem se preocupar com o amanhã? Acho que de fato por muito tempo eu fui assim. Mas não posso mais fazer isso. Agora eu tenho uma responsabilidade maior do que meus anseios pessoais.

- Pelo menos terminaremos a escola juntos - ri, o lembrando que iniciaríamos o Ensino médio juntos naquele ano.

- Você sempre atrapalha meus estudos - ele respondeu em tom de brincadeira, rindo também.

E se fez silêncio. Ficamos apenas parados observando um ao outro, provavelmente refletindo sobre a falta que aquela simples presença fazia na vida. Nós não paramos de conversar durante o período que ele viveu fora, na verdade fazíamos chamadas de vídeo ao menos uma vez na semana e sempre contávamos as coisas um ao outro, mas não era a mesma coisa. Não era o mesmo sorriso e olhar caloroso, não era a mesma voz que fazia eu me sentir acolhida e protegida, não era a mesma coisa e naquele momento eu só conseguia ser grata por ter meu velho amigo ali na minha frente de novo.
Meu reencontro com aquele rapaz que era tão querido por mim me fez esquecer totalmente do presente dos meus pais e por consequência me atentar a Nooroo e foi esse pensamento que me puxou de volta para realidade.

- É... Eu preciso ir ao banheiro mas conversamos depois - encerrei acenando e caminhando rapidamente para dentro de casa, meu coração descompassado a cada passo que eu dava como se fosse rasgar meu peito.

Não gosto de viver apegada ao passado, não acho saudável manter o passado vivo. Eu gosto do momento atual, das pessoas que fazem parte desse momento. Não concordo com ficar tentando retomar laços mortos. Mas nossos laços nunca morreram e eles sempre foram mais fortes do que qualquer coisa, porém por algum motivo eu não conseguia ficar apenas tranquila com sua presença, eu queria abraça-lo com toda a força do mundo, com todo meu ser e manter esse presente pra sempre. Foi com esse pensamento que acabei por segurar o pingente sob minha pele sem me dar conta... Senti falta dele. Apenas senti falta. Ele significa tanto pra mim....

Segui com minha missão de ir até o banheiro, sentei com as costas encostadas na porta e permiti reclinar minha cabeça soltando um longo suspiro. O pequeno ser lilás parecia confuso e preocupado.

- Emma... Quero dizer... Mestra! O que passa?

- Por favor - ri baixinho - não precisa ser tão formal, nós somos uma equipe agora pelo jeito não é? - cerrei o punho e estendi em sua direção. A reação não foi exatamente a que eu esperava, ele se encolheu e fechou os olhos. - Ei, tudo bem?

- D-desculpe se te importunei...

- O que você está dizendo? Isso é um cumprimento amigável

- Perdão?

- Assim - cerrei ambos meus punhos e os choquei um contra o outro - Viu?

- Entendi que seria uma punição... Compreendo... - ele imitou meu gesto me fazendo gargalhar

- Vamos, experimente. - estendi mais uma vez o punho - Nova tentativa

- Sim... - ele encostou sua mão minúscula no meio do meu dedo médio - Acertei?

- Muito bom, assim mesmo. Somos uma equipe, entende?

- Equipe... Sim... Acho que compreendo a teoria...

- Tudo bem parceiro. Preciso voltar pra festa. - abri meu casaco pra que ele voltasse a se esconder no bolso - Se precisar me cutuque.

- Obrigado mestra...

- Sem formalidades.

- Obrigado... Emma...

- Melhor assim! Nao acha?

- Creio que sim... - e entrou no casaco se escondendo novamente.

Abri a porta me sentindo melhor e menos ansiosa e voltei para onde meus amigos conversavam animadamente, aparentemente sem ver que eu me aproximava. Eles estavam todos impressionados com Hiroki, ao redor dele, fazendo inúmeras perguntas e aparentemente sendo inconvenientes perguntando sobre nossa relação.

- Ah então você é o garoto que a E...- Ammy, minha melhor amiga e filha de Alya abriu a boca e eu corri para tapar já prevendo o restante da frase. "Então você é o garoto que a Emma vive falando! Não é a toa... Entendo porque ela está sob seus encantos."

- Que eu o que Ammy? - destapei sua boca segurando seu braço por trás pronta para belisca-la se fosse preciso enquanto mostrava um largo sorriso com uma pequena pitada de "cala a boca"

- Que a Emma era taaaaao amiga na infância! - ela encerrou me olhando com os olhos arregalados como se perguntasse "Qual seu problema?", respondi pressionando meus lábios e olhando para o lado, tentando indicar para irmos um pouco mais para longe

- Não fala nada do que eu já te falei sobre ele!

- Ué qual o problema? Você tá a fim dele por acaso? - ela cruzou os braços com um certo sarcasmo presente

- Não é isso! Ele acabou de voltar, tente ser mais receptiva.

- Ah sim então daqui um ano eu posso falar?

- Não! Não sei. Mas por enquanto esse assunto morreu. - fiz um gesto passando os dedos na frente da boca mostrando que era para fica calada sobre o assunto. Ela fez o mesmo e jogou a chave imaginaria longe com leve dramatismo.

Voltamos para a roda e Hiroki me encarava fixamente, sorrindo. Visivelmente não prestando atenção em uma vírgula que lhe falavam. Tudo corria maravilhosamente bem, todos foram para casa e combinamos de nos encontrarmos no dia seguinte para irmos ao cinema juntos e relembrar a velha amizade.
Estava tudo bom demais para ser verdade.
Estava.
Os portais abriram novamente e os monstros surgiram.

- Asas negras!