Parte II - Justiça injusta

37 7 53
                                    




— Vocês não têm Mahmia no coração! — acusava Dorian, completamente bêbado e cambaleando, enquanto era arrastado para fora da hospedaria, de volta para a neve e o frio da rua. — Não tem! — Nohra olhava a cena e ria, não porque o anão estava sendo preso, mas porque ele era literalmente arrastado por dois assistentes do xerife e estava com uma expressão hilária no rosto.

Os assistentes haviam algemado Dorian e o puxavam pelas correntes da algema. Arkon conseguiu ficar de pé, mas mal parecia entender o que se passava enquanto se apoiava na parede de madeira da casa e ria do escândalo que Dorian fazia. Aevelm observava do andar de cima, não entendendo o motivo da prisão. Na verdade, nem mesmo Dorian e Arkon entendiam. Os assistentes puxaram Arkon pelas correntes e finalmente os retiraram da estalagem.

Empurraram os dois pela tempestade de neve. Por sorte, não precisaram ficar no frio por muito tempo, pois a delegacia era próxima dali. Lá dentro, havia apenas duas celas, um homem velho estava em uma delas e observava os recém-chegados com um rosto derrotado. Arkon e Dorian foram colocados na cela vazia. Não se incomodaram em perguntar o motivo da prisão, o que mais queriam era dormir. Dorian se jogou na única cama da cela, se estatelando no colchão duro como se caísse no chão. Arkon sentou e se recostou na grade de ferro e abaixou o chapéu até cobrir os olhos.

Na manhã seguinte, despertou com a gargalhada de dois homens. Nenhum deles parecia o xerife, então Arkon deduziu que fossem assistentes, estavam ambos vestidos com casacos de pele de carneiro e sentados frente a frente, apoiando os cotovelos em uma escrivaninha e fumando. Um deles era muito branco e ruivo, com um rosto sardento debaixo de uma cartola cinza, a mesma cor do casaco. O outro era um moreno de cabelos longos e lisos. Além dos dois, apenas os prisioneiros estavam ali. Dorian ainda roncava e o homem velho na cela ao lado estava acordado, porém calado. Havia uma pequena janela logo ao lado da escrivaninha onde os dois assistentes estavam. Dali, Arkon conseguiu ver que a tempestade havia passado.

— Ei! — Arkon chamou os assistentes, se levantando com dificuldade, sentindo dores nas costas e na cabeça. — Ei! — O moreno o olhou com desdém.

— Cale a boca, prisioneiro!

— Exato, por que diabos eu sou um prisioneiro?

— Você sabe, desgraçado. — O ruivo se virou para olhá-lo. — Faça as pazes com Patro, Mahmia, ou seja lá que divindade você acredite, pois em breve estará balançando na forca.

— Estão cometendo um erro, não sou procurado por nenhum crime. — Arkon suspirou, imaginando em que tipo de mal-entendido havia se metido.

— Claro, ninguém nunca é! — O ruivo riu.

Arkon desistiu de tentar argumentar, caminhou até Dorian e lhe deu um pontapé. O anão deu um pulo, assustado.

— O que foi? — Ele olhou em volta e franziu a testa. — Ei, cadê a gordinha que estava tomando banho comigo?

— Aparentemente ela nos entregou — disse Arkon.

— Pelo quê? Fizemos alguma merda durante a bebedeira?

— Até onde me lembro, não.

— Ei! Sardento de merda! — Dorian chamou pelo ruivo, que suspirou e se virou de novo — Por que estamos presos?

— Cale a boca, desertor! — Explodiu em raiva o assistente.

— Desertor? Mas que caralho você está falando?

— Acha que não vimos os casacos militares em vocês? Santo Patro, vocês mentem mal!

— Isso não prova que somos desertores. — Arkon franziu a testa. — E nem poderia, a guerra acabou há um ano!

Negro e Pardo (Conto Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora