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— Ai que susto que você me deu. — Resmunguei com o susto que levei.

— Foi mal menina especial. Aceita um Dry Martini? — Perguntei

— Ah, a gente veio aqui falar sobre o Josh certo? ou você pretende me embebedar e tentar me beijar a força ou algo do tipo? — Perguntei nervosa com a situação

— Calma, eu só ofereci uma bebida. E não, acredite eu não sou desse tipo.

— Olha, eu sinto muito, mas eu acho que confundiu as coisas. E, eu você deve me achar uma idiota por ter acreditado que um homem me chamaria para esse lugar para falar sobre outro homem. Na verdade eu é que acho estúpida por isso. — Falei baixo

— Acho melhor eu ir embora.

{Narração}

Quando me dei conta do quão burra eu tinha sido por acreditar nele, a única coisa que pensava, era em ir embora. Não sabia onde enfiar a minha cara. E foi isso que eu fiz, até sentir alguém segurando meu braço com força, pedindo para que eu não fosse, e claro que era ele. Resmunguei algo que nem eu mesma entendi, puxando o meu braço para que ele soltasse e me deixasse ir. Não estava com forças o suficiente para vencer a dele, que conseguiu me puxar colando nosso corpos e segurando a minha cintura com força para que eu não saísse. Quando me dei conta do que estava acontecendo percebi que ele estava tentando me beijar a todo custo e a única coisa que pensei no momento foi em pegar a garra que tinha na mesa e dar na cabeça dele, e foi isso que eu fiz, não satisfeita dei um chute no meio de suas pernas e sai correndo e chorando.

Eu estava indo para minha casa de Uber, que por sorte era uma mulher, eu não pude evitar de chorar o caminho inteiro. E a moça da Uber deve ter percebido embora eu tentei disfarçar, chegando em casa eu paguei e ela me perguntou se estava tudo bem, e eu respondi que iria ficar.
Entrei, e me dei conta de que Any e Sabina estavam lá sentadas, pareciam preocupadas, provavelmente comigo.

— Sina, até que enfim você apareceu. Por que não retornou minhas ligações? e onde você foi parar a gente te perdeu de vista e achamos que tinha ido embora. — Disse a Sabina

— É, poderia ter nos avisado, ou pelo menos procurado nós duas.

De tudo o que elas falaram eu não ouvi absolutamente nada, na minha mente ficava repassando aquela cena horrível, e minha única reação foi olhar para elas e chorar feito um bebê.

— Meu Deus, Sina, o que aconteceu? — Any perguntou preocupada enquanto deitava minha cabeça em seu colo.

— Não pergunte, só me ajuda a esquecer, por favor. Me ajuda a esquecer. — Falei entre choro e soluços

— Sina, nos conte o que aconteceu. Se foi algo tão grave temos que resolver agora. — Sabina falou acariciando meu cabelo, e limpando meu rosto borrado de rímel.

— Ele me agarrou, e tentou me beijar na frente de todo mundo. — Falei entre soluços.

— Oh, meu Deus. Calma, vai ficar tudo bem, Shh. Respira. — Any falou tentando me acalmar, enquanto Sabina se afastava com uma cara de assustada.

— O pior foi ver que todos estavam ali e, não fizeram nada. — Foi horrível. Respondi mais calma.

— Eu menti. — Sabina disse olhando para Any, com os olhos marejados.

— Saby, do que você tá falando?? — Any perguntou desentendida.

— Quando eu te disse que conhecia o HP, e que eramos amigos, eu menti.

— Ah, por mim tudo bem. — Suspirou aliviada

— Não Any. Não está tudo bem, ele não era meu amigo e estava longe de ser. Aquele dia que eu deveria ter saído com você, inventei uma desculpa qualquer, para sair com ele. Fomos pra casa dele, pro quarto... Assistir "filme", meu filme. E ele tentou... Engoli a seco tentando falar. Tentou me estuprar, Any. Eu era só uma criança, com o corpo de uma mulher. Só uma criança. — Falei segurando o choro

— Saby, porque não me contou? Eu podia ter te ajudado, ela já poderia estar preso! — Any fala chateada

— Por que eu não consegui, eu não sabia como, por isso me afastei, e quando voltei, pensei que meu passado não voltaria. Mas cá estamos nós.

— Gente, ele é um babaca, que tem que ser preso, isso é fato! Mas, eu acho que foi um dia bem cansativo e merecemos descanso. — Sina fala tentando acalmar todo mundo.

— Saby, eu sinto muito mesmo, pelo o que aconteceu, eu entendo perfeitamente o que você está sentindo. — Abraça Sabina, que retribui.

— Não, Sina, não sabe. Por que eu não sinto o mesmo que você, eu sinto raiva, vontade de me vingar. Apenas isso. Não é mais um assunto que me machuca, eu só o trouxe átona porque me senti na necessidade de ser verdadeira com vocês, porque eu realmente quero que de certo. Também, sinto muito por você. E não quero mais falar sobre isso.

— E você está melhor? — Any pergunta.

— Não. Mas ficarei, se vocês dormirem aqui comigo. — Sina, fala quase implorando com os olhos

— Tudo bem, a gente faz esse sacrifício. — As duas respondem e riem juntas

{Narração}

Passamos a madrugada toda jogando conversa fora, folheando revistas da Vogue, criando looks diferenciados com as minhas roupas, fizemos maquiagem, muito brigadeiro, Brownies, risadas e por fim assistimos muitas séries, como se não houvesse amanhã. Quando eu tive uma brilhante idéia.

— Meninas. — Eu gritei em tom de entusiasmo.

— O que??? — Disse Any assustada

— Cade a Sabina? — Eu perguntei confusa

— Deve ter ido no banheiro.

— Sabina, você não sabe a idéia genial que eu tive.

— Ai lá vem, pois bem, diga.

— E se... A gente trancasse a escola por um tempo, e nesse tempo a gente podia viajar. Só nós três.

— Sina, você acabou de mudar pra cá e já quer viajar? — Any pergunta, torcendo o bico

— E você já se deu conta do que acabou de acontecer com ela??? — Pergunta Sabina irritada.

— Eu sei. Mas ela está querendo fugir da realidade e pra eles ela vai parecer fraca. — Argumenta Any.

— Foda-se, a gente sabe da sabe da nossa verdade e é isso que importa.

— Somos mulheres e temos que nos opor, não podemos deixar ele sair assim ileso, e simplesmente fugir da situação como se nada tivesse acontecido. — Any tenta convencer Sabina

— Exatamente por isso, somos mulheres. Visto que quando argumentamos não vale de nada, quando damos queixa na delegacia, por ter sido estuprada, espacada, esfaqueada ou coisa do tipo, não vale de nada a nossa luta. E a Sina está certa, esse momento é nosso, o que ele fez vai ser pago, pela própria vida, e garanto que será dez vezes pior do que uma prisão, ou uma morte poderia lhe proporcionar. Eu sei que nós mulheres temos que lutar, mas infelizmente nós ainda não temos vós o suficiente para isso.

{Narração}

Enquanto as duas discutiam, eu estava apenas tentando prestar a atenção no argumento de cada uma, e rever meus conceitos, sobre o que era certo ou o que era errado, para uma mulher. Por um momento pensei que estivesse nos anos 80.

— Chega. As duas estão certas, não podemos nos esconder diante disso, e fingir que nada aconteceu porque aconteceu. Mas a Sabina tem razão quando diz que não temos voz para eles, e Any também tem razão quando diz que só porquê não temos voz, que não devemos correr atrás do que também é nosso por direito. Mas nesse momento não, Any está certa, eu quero fugir da realidade. E o que há de errado em fugir da realidade um pouco??? Nós merecemos. — Respondi quase sem fôlego.

As duas se encaram, por uns segundos e depois disfarçam.

— Então, para onde vamos? - Any, perguntou sorrindo para Sabina.

— Bom, estive pensando sobre, talvez fazermos um intercâmbio.

— É uma boa, sem contar que iriamos aprender inglês. — Sabina responde concordando comigo

— E teríamos um bom motivo para trancar a faculdade, que no caso é a escola. — Any completa.

— E então, topam?

— É claro. — As duas concordam.

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⏰ Última atualização: Aug 21, 2020 ⏰

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