3 - Faith

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Sinto a adrenalina correr por meu corpo como eletricidade formigando em minha pele. Jogo o cabelo para trás e me posiciono para atacar Teddy, o garoto pássaro. Ele já está fraco por causa da luta anterior e, mesmo que não estivesse, ele não é páreo para mim.

O grito da torcida dos meus colegas se torna um eco no fundo da minha mente. Só consigo ver o meu adversário e sentir o frio molhado da neve atravessando minhas botas e meias.

Transformo minha boca em um focinho e rosno de forma intimidadora. Thomas sinaliza o começo da luta e Teddy pula em minha direção. O bico afiado passa a centímetros do meu rosto e eu aproveito para puxar seu braço humano e torcê-lo para trás. Eu o empurro, fazendo-o perder o equilíbrio.

Ele não vacila, aproveita que caiu no chão para me dar uma rasteira e eu bato a cabeça na neve fofa. Com um grunhido, me ponho de pé e fico em posição de ataque de novo. O garoto pássaro faz o mesmo. Nos movemos pelo círculo como em uma dança, sem tirar os olhos um do outro.

É minha vez de investir em um ataque, então pulo para frente e tento imobilizá-lo. Os segundos passam como borrões de golpes e desvios, suor e gemidos, neve e poeira, mas eu consigo vencer. De novo.

Thomas ergue o meu punho e os Transmorfos me ovacionam enquanto arfo com violência. Uma mistura de calor e frio me deixa com a pele grudenta e arrepiada.

Vejo uma das novatas que conheci mais cedo sacudir um monte de notas de dinheiro para mim e depois bater palmas. A garota coruja é realmente sábia. Ela apostou em mim, afinal.

Ganhar lutas nunca fica velho para mim. As sensações de conquista e vitória nunca me cansam. Não importa se eu sou baixinha e se meu cabelo é volumoso, em momentos como esse, sou apenas a vencedora.

Peço para que Thomas dê as lutas como encerradas por hoje. Duvido que alguém queira me enfrentar de qualquer forma. Não hoje. Em questão de segundos, o ringue improvisado se dissipa e o alvoroço da torcida se torna conversas indistintas.

Alguém me entrega uma cerveja e eu aceito de bom grado depois de calçar minhas luvas para segurar a garrafa gelada.

— Boa luta — Jane bate de leve o ombro dela no meu em um cumprimento.

Ergo a garrafa para ela em agradecimento.

— Foi incrível! — A garota coruja...Alisha aparece atrás dela. — Aprendemos a lutar assim aqui na Academia?

Ollie bufa se juntando a nós. O sorriso branco contrastando com sua pele negra é como a luz da lua no céu desta noite.

— Aprendemos o básico disso. Já essa daqui, não sai do campo de treinamento, e o saco de pancadas é o seu melhor amigo — diz ele, se referindo a mim e me passa um pequeno montinho de dinheiro. 30% do lucro das apostas para o vencedor.

— Cala a boca! — Dou risada, empurrando seu braço de leve. — Eu treino um pouquinho a mais — admito para a coruja com um dar de ombros e uma modéstia fingida.

Não muito mais tarde, me surpreendo com sua figura saindo de trás das árvores enquanto caminho de volta para dentro do campus. Alisha tem o corpo cheio de curvas que são notáveis ainda que por baixo das roupas pesadas de frio. Minha garganta fica amarga ao imaginar como as pessoas me enxergam ao lado de garotas como ela, como o meu corpo deve parecer ainda mais reto e magro.

— Faith! — chama, se aproximando com uma corridinha abafada pela neve.

Sinalizo para que Ollie e os outros sigam sem mim e espero ela me alcançar.

— Sim? — Junto as mãos na frente do corpo, tentando ignorar o sentimento anterior.

Ela tira um cacho pesado da frente dos olhos e morde o lábio superior, hesitante.

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