5 - Essie

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Minhas pálpebras estão pesadas e grudadas. Solto um grunhido cansado e me viro na cama. Quando finalmente abro os olhos cansados dou de cara com o relógio que aponta sem remorso o quanto estou atrasada.

— Droga!

Levanto aos tropeços, jogando o cobertor de lado e procurando meus óculos na mesinha de cabeceira por instinto.

— Está tarde! Acorda! — grito para Ally, minha colega de quarto. Ao me virar, noto sua cama perfeitamente arrumada e vazia. Sequer me lembro de tê-la visto na noite anterior antes de pegar no sono. Será que ela não dormiu em casa?

Se fosse esse o caso, não sei se daria certo dividir um quarto com ela se esgueirando depois de festas no meio da madrugada. Talvez eu deva tentar trocar de quarto para ficar com uma pessoa mais focada na vida acadêmica.

O que estou dizendo? Nem sequer consigo chegar na hora certa no primeiro dia, eu é que preciso me concentrar na vida acadêmica.

Odeio me flagrar no meio de pensamentos julgadores. Havia prometido a mim mesma que largaria tal hábito no ensino médio, onde, não por acaso, não tinha nenhum amigo.

Arranco meus pijamas e visto minhas calças jeans e um suéter grosso de lã antes de sair correndo para o outro campus.

Apesar das características do meu animal de Transformação, correr não é um dos meus fortes. Correr na neve é uma tarefa ainda mais difícil e complicada. Caio duas vezes pelo caminho, em parte agradecida pela maciez da neve amortecendo minhas quedas. Chego no outro campus ofegante e ainda assim com frio por ter saído sem agasalhos. O rosto úmido com um suor gelado e neve derretida.

Subo os degraus — dois por vez — até chegar ao corredor correto. Seria mais fácil se pudesse ir direto para a aula, mas deixei meus livros novos no armário junto com o laptop.

Poucos alunos caminham por ali, a maioria já está em suas salas ou, no caso dos mais espertos do que eu, em seus quartos, dormindo sem ter que se preocupar com suas aulas que só começariam mais tarde.

Tenho dificuldade em achar o meu armário, o que me deixa ainda mais nervosa e ainda mais atrasada. Os armários são daqueles compridos, estilo ensino médio americano, perfeitos para o velho clichê de enfiar os não-populares dentro — experiência pela qual tive que passar algumas vezes — e se não soubesse melhor, diria que objetos inanimados podem sim, rir da minha cara.

Suspiro depois de finalmente encontrar o meu número estampado em letras miúdas na porta de metal e pego o pedaço de papel com a combinação no bolso da frente da mochila. Felizmente, tinha colocado ali quando o peguei na secretaria na manhã passada.

9,5,8,7...

Puxo a porta para fora e tomo um susto quando um peso se despeja por cima de mim. Caio para trás e dou um grito apavorado que se segue de outro quando percebo o que me derrubou. Uma pessoa! Não, um corpo!

Sangue quente suja minhas roupas e sacudo os pés tentando sair debaixo do corpo inerte. Sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto e o coração pular em meu peito.

Um novo grito arranhado escapa da minha garganta quando noto os cabelos castanhos e o suéter de gatinho que me parece familiar. O corpo é a minha colega de quarto: Ally.

Grito de novo e de novo, sentada no chão, incapaz de me mover, agitando as mãos com desespero como se o movimento pudesse levá-la para longe.

Uma eternidade parece ter se passado quando duas mãos me põem de pé, me livrando do peso de Ally, e viram meu rosto para frente. Só então, reparo o aglomerado de gente que se juntou no corredor e me observa. Alguns espantados, outros enojados, uns com pena, outros com ar questionador.

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