23 de novembro | RABIA

2 MÊSES

O primeiro mês de gravidez havia sido um misto de ansiedade e felicidade.

Quando Bianca saiu da sala de Marcela naquele dia, mal conseguia conter as lágrimas e a alegria de finalmente estar realizando um sonho. É claro que muitos meses ainda estavam pela frente, mas aquele instante de felicidade foi o suficiente pra deixá-la feliz por vários dias inteiros.

A maior surpresa foi dar de cara com Rafaella assim que saiu da sala da doutora. Ela ainda estava lá! Foi muito fofa e prestativa, disse que sentia que tudo ia dar certo, mas queria estar ali pra dar os parabéns. Depois disso, Bianca tinha certeza de que iam virar muito amigas. Agora o elo de ser mãe ligava as duas, e era bom compartilhar aquele momento com alguém.

Agora, com dois meses de gravidez, Rafa e Bia conversavam quase todos os dias. Conversas sobre memes de grávidas, recomendações de séries relacionadas à maternidade e até tinham feito um grupo com Marcela, só pra poder mandar atualizações diárias de como estavam se sentindo.

E, tirando toda a ansiedade, Bianca se sentia bem. Na verdade, bem demais. Nem parecia que tinha uma vida dentro de si.

O único problema era que ninguém havia mencionado que libido era um dos sintomas dos primeiros meses de gravidez. E era exatamente o que sentia nesse momento.

– Aparentemente o aumento da libido é normal na gravidez. – Miguel olhava para seu celular como se estivesse em frente a uma grande pesquisa sobre o assunto, mas Bianca sabia que ele apenas havia clicado no primeiro link que achou na internet – Acho que você está no lucro porque a falta de libido também é completamente normal.

– Como posso estar no lucro? Nem tenho ninguém pra transar. – ela revirou os olhos e Miguel riu. É claro que ele iria rir, não era ele quem estava sentindo. E, diferente de Bianca, se fosse ele que estivesse assim, já estaria com alguém nesse exato momento só pra saciar suas vontades.

– Nenhum contatinho falecido? É sempre uma boa hora pra baixar o tinder, amiga.

– Ninguém usa mais o tinder, Miguel. – ela só conseguia pensar: caramba, que gay chato – E você sabe que o mais próximo de "contatinho" que tenho é a minha ex que não vejo há oito meses. E que também não faz questão nenhuma de me ver.

– Mas também, amiga, a Bárbara conseguiu ser sua melhor e pior ex. É melhor morrer com vontade de transar do que se meter naquilo de novo.

Miguel tinha razão sobre as duas coisas e Bianca sabia. No começo, Bárbara era a melhor namorada do mundo, sempre correspondia às expectativas. Era, além de carinhosa, divertida. Era a melhor pessoa pra sair numa balada, como também a melhor companhia pra passar a noite assistindo filmes. Depois dela, Bianca tinha certeza de que nunca encontraria alguém que fizesse com que se sentisse assim. Porém, depois que Bárbara terminou com ela, quase sete anos depois e sem motivo nenhum, e apareceu namorando um mês depois, não existia vontade de transar que a fizesse ligar para a ex.

Por muitos meses, doeu demais. Um luto pós-término que doeu até o último fio de cabelo. Mas, com o tempo, foi passando. Bianca não beijou mais ninguém, mas também ocupou tanto sua cabeça que não havia mais espaço pra Bárbara e nem ninguém. E agora estava em outra: a maternidade era a única coisa que passava o dia pensando. Nem lembrava qual foi a última vez que chorou por causa da ex.

O celular de Bianca tocou naquele momento, a interrompendo de dar qualquer resposta a Miguel. A mensagem era de Rafa.

Jantar no Paris 6 hoje?

Bianca respondeu que sim e logo se arrumou para o jantar. Fazia tempo que não via Rafa, na verdade, desde o dia do exame. Percebeu naquele momento que tudo o que precisava era um jantar amigável entre duas mães.