EvelynO tilintar talheres era o único barulho que se ouvia naquela divisão, para além de um silêncio incomodativo e desconfortável.
Escolhi por entre cenoura, ervilha e peixe assado, remexer na comida existente no prato, fingindo que comia. Hillary olhava-me de vez em quando, em reprovação e abria os olhos severamente, incentivando-me, a comer. Eu simplesmente revirava os olhos. Decidi pegar no copo, e dar pequenos tragos na limonada.
Passaram quatro dias desde que comecei o meu trabalho de pesquisa, a única coisa nova que descobri é que um dos acusados na lista que tirei do escritório, é uma identidade falsa. Tirando isso, os outros membros da lista são suspeitos de roubar um projecto militar e têm ligações entre si. Principalmente, os membros do gangue para onde a Hillary será infiltrada. Ninguém me disse nada, até mesmo ela, não me adianta nenhumas informações mas eu sei que faz parte da política de agentes de campo. É apenas muito bom ser um génio de informática e aceder a qualquer tipo de ficheiro da Organização. É tudo muito confuso e tento agir com a maior cautela, para ninguém descobrir no que andando a trabalhar.
- Vou sair amanhã. Marquei encontro com o Niall, temos alguns aspectos a discutir. - Hillary rompeu o silêncio, tirando-me dos meus pensamentos.
Trisha bebia vinho branco, enquanto que fazia sinal com a mão para que esta não se levantasse. Pousou o copo, cruzou os talheres e apoiou os cotovelos em cima da mesa. Cruzou os dedos e olhou para Hillary franzindo as sobrancelhas.
- Esse encontro não pode ser aqui em casa?- perguntou.
- São assuntos importantes e confidenciais sobre a missão. Mas se quiser pode ser-
- Não é necessário. - interrompeu. Trisha levantou-se, pegou no copo levando-o consigo até ao armário sofisticado que havia mesmo ao lado da porta da sala. Hillary olhou para mim com o olhar interrogativo, eu apenas encolhi os ombros. A adulta abriu umas das gavetas, e tirou de lá uma caixa preta. Voltou para junto de nós e bebericou o seu vinho. Atirou a caixa para cima da mesa, caindo mesmo ao lado do prato meio vazio de Hillary. - Abre. - ela diz.
Os olhos de Hillary brilharam e num instante ela abriu a caixa. Assim que a abriu, a sua boca copiou a ação. Hillary abriu os olhos e de seguida guinchou alegremente. - Uau. Muito obrigada, eu não sei o que dizer. - Na sua mão estava posicionada uma arma preta com pequenos detalhes a dourado. Era uma arma linda. No cano da arma, havia em itálico flores desenhadas perfeitamente. Ela passava os seus dedos pelo engenho e rodava-o nas suas mãos.
- É mesmo bonita.- exclamei sorrindo para ela.
Hillary rasgou ainda mais a sua cara achocolatada com um sorriso brilhante assentindo, fazendo-me lembrar uma criança na manhã de Natal.
- Obrigada. - agradeceu hesitante, não tendo a certeza se abraçava Trisha. Ela nunca gostou de demonstrações de afecto entre pessoas ao pé de si, e se fosse consigo ainda pior. Ela nada disse e acabou o resto do vinho no seu copo.
- Vai arrumar as tuas coisas. Depois de amanhã à noite, partes para Londres.- proferiu.
O sorriso na cara da morena caiu instantaneamente e esta pestanejou inúmeras vezes, olhando para o vazio. Olhei para Trisha e esta olhava para o seu copo enquanto que o enchia novamente.
Hillary esfregava as mãos rapidamente e cravava as unhas nas palmas uma da outra, um ato inconsciente que adquiriu há um tempo. Encarei-a compreensiva e levantei-me. Subi as escadas e fechei-me no escritório, continuando com a minha pesquisa.
Eram duas da manhã. Os meus óculos teimavam em descair a cada quinze segundos e eu não podia com o cansaço. Pensei em tomara algum café, mas vi os meus planos desfalecerem quando o computador reiniciou. Apaguei as luzes e subi até ao meu quarto. Hillary estava deitada na sua cama com papéis por todo o lado. Olhou-me triste e eu não me contive, abracei-a e soltei as minhas lágrimas. E a ideia de a ter longe atingiu-me fortemente. A sensação de ser deixada era sufocante, engatava-me a respiração e procava-me um nó na garganta. Tudo o que vivemos juntas até hoje é fortemente importante. Tanto para mim como para ela. Todas as nossas tentativas de fuga secretas, todas as noites de planeamento, todas as extensas horas de pesquisa sobre o nosso passado, todas as visões e descargas de energia que tive tentando descobrir o passado de uma de nós. Tudo é demasiado importante. Separar-me dela vai ser mais díficil do que eu imaginava.
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m.e.n.t.a.l | hs {slow updates}
Teen Fiction- Foste tu que mataste os meus pais? - A voz arrastada fazia os meus olhos picarem. O metal no meu dedo pronto a ser puxado. - Porquê agora? - ele diz enquanto massaja o couro cabeludo. Os seus olhos gelados são como flechas na minha direção. - De...