Evelyn
- Não vos chamo mais vez nenhuma! - gritou do andar de baixo. A sua voz elevada fez-me encolher nos lençóis quentes e suspirei. O cansaço venceu de novo, fechei os olhos enroscando-me ainda mais. As minhas costas estalaram e virei-me para o outro lado para melhorar a posição desconfortável, dei-me por vencida quando nenhuma delas resultou e apenas me fez perder o sono, que custou a adquirir na noite anterior. As cortinas correram o ferro que as sustém, causando um desagradável barulho, que apenas me fez revirar mais no sítio quente e confortável onde estava.
- Estamos a descer! - assim que elevo a cabeça para abrir os olhos, sinto que me foram removidos os cobertores. - Levanta-te. Vamos! - ela ri-se quando repara no meu estado exausto. - Pensei que uma noite de sono ia ajudar...
- Diz antes, horas. - reviro os olhos. A falta de sono atinge maioritariamente as manhãs, e digamos que preciso de me livrar da inatividade para concluir inúmeras tarefas. Hillary arruma a sua parte do quarto e eu acomodo a desarrumação perto da minha área de conforto. Mesmo debaixo da colcha, a minha mala encontra-se cheia de utensílios para as atividades de hoje. Os cartuchos e calibres estavam organizados, as armas limpas e arrumadas consoante o seu tamanho, e por fim as proteções, contudo faltava-me o essencial; o escorpião. O único objeto que tinha alguma referência parental para mim. A faca de exército do meu pai, a que ele usou para se defender de tudo e todos. Não sei quem a encontrou, ou afirmou que a mesma pertencera a ele, mas sinto como se fosse algo que me liga a ele. Mesmo não sabendo a verdade. Mesmo não me lembrando, como queria, da sua face. Ou sequer a sua cor favorita. Culpo os 8 anos que permaneci afastada e protegida do que realmente se passou.
- O treino é daqui a pouco. - ela toca-me no ombro tirando-me dos meus devaneios. - Está tudo bem?
- Sim, apenas estava a pensar onde deixei a minha faca. - ela assente. Caminha pelo quarto e ajoelha-se ao pé da mesa de cabeceira. Arranca o objeto de baixo da mesma e mostra-mo.
- Aqui. - ela sorri. Mas pela minha cara de confusão ela percebeu que tinha de se explicar. - Guardei aqui por segurança. Tens uma glock debaixo da tua cama, na quarta tábua do colchão.
- Tudo bem. - assenti e preparei a minha roupa para hoje. Trisha mais uma vez assobiou e praguejou, notificando-nos de que estávamos a alguns minutos da primeira tarefa. Corro até à casa de banho, preparando a água fria do duche para uma possível forma de acordar, ainda mais do que estou agora. Apetece-me desfazer a cama e deitar-me nela até que o meu corpo a rejeite.
- Cinco minutos. - a batida na porta desperta-me e saio rapidamente. Visto-me no closet, dando oportunidade a Hillary de apressar-se nos cinco minutos que ainda temos. Arrumo a restante roupa espalhada pelos cantos do quarto e quando me levanto uma forte dor de cabeça faz-me bater na porta do armário.
Olho para o meu reflexo, observando um líquido vermelho e denso a sair em cascata pelo nariz.
Sinto uma forte dor no lobo frontal. Deixo-me cair e a visão credível sobre o espaço em que me encontro deixa de ser a mesma, logo a seguir sinto o chão de madeira em contato com as minhas costas para escapar para a mesma escuridão de quando estava a dormir. A minha cabeça não deixa de doer, o que me faz massajar as têmporas.
Observei o espaço à minha volta, encontrava-me num beco escuro, tendo este um longo caminho sombrio e assustador. O ambiente era chuvoso, um clima negro sem cor alguma. Um ser pequeno percorria também este corredor, correndo alegremente ao meu lado. Mas o fim do caminho chega rapidamente, encontrando-se lá uma espécie de parque de estacionamento . A sombra do pequeno ser era projetada por uma luz fraca, apenas dando a perceber o cabelo longo e castanho escuro da criança. Tentei correr, na medida de acompanhar a criança, mas a força que tentar exercer sobre mim própria era fraca, quase nula. Apercebi-me de outro corpo, que caminhava na nossa direção. Senti curiosidade em saber quem seria, tentei aproximar-me, mas estava meio que presa ao solo, como se de repente tivesse algum tipo de super cola nos pés. Tentei mover-me. Desta vez senti um puxão nos pulsos. O objeto pesado que me prendia fazia-me puxá-lo para tentar soltar-me e fugir, mas nada parecia resultar.
E de repente soou um tiro. O meu corpo perdeu a vida caindo, e o corpo que anteriormente tinha uma arma na mão corria para longe, enquanto que o desconhecido que estava comigo tentava socorrer-me sujando as mãos de sangue e lançando gemidos de um choro compulsivo.
- Acorda, mamã. - pedia. Vidros caíram em cima de nós fazendo a criança gritar por socorro, mas a última coisa que vi foi ela a ser arrastada.
- Por favor, Evelyn respira! - senti soluços perto do meu ouvido.
Com dificuldade, abri os olhos e olhei em redor, estava agora deitada onde perdi os sentidos há uns momentos atrás. As minhas mãos agarravam fortemente os meus calções, tentando talvez dissipar a visão apavorante que contemplei. Podia sentir o pânico aglutinar-se nas minhas entranhas. Toda aquela divisão pareceu perder a sua cor, os sons tornaram-se inexistentes e senti as paredes encolherem. Perdi o controlo da minha respiração e senti aos poucos, o corpo desfalecer.
- Respira comigo. Por favor. - pediu Hillary. A morena, pele achocolatada e cabelos molhados devido ao banho, estava ofegante com vestígios de lágrimas pelo rosto. Instruía-me ao mesmo tempo a inspiração e a expiração numa aflição tremenda de me ter a respirar devidamente.
- Eu não...- tentei, mas ela apenas me dissuadiu.
- Simplesmente respira, Eve.- sussurrou-me ao ouvido, enquanto me acariciava os longos cabelos castanhos, sem vida. Fiz como ela me havia pedido, respirei fundo quantas vezes necessitei para me acalmar. Senti o coração abrandar enquanto que fui recuperando. Numa questão de mais alguns momentos a normalizar a respiração, finalmente o pânico desapareceu por completo dando lugar a alguma dormência.
- Estás melhor? - perguntou esperançosa. Pude ver preocupação nos seus olhos castanhos. Assenti em confirmação enquanto que me sentava. Os ataques têm sido inesperados e deveras similares, o que me confunde e aborrece. Antes apenas via pequenos objetos, nada durava mais que dois segundos, como pequenos flashes, nada de alarmante e que me fizesse desmaiar. - Precisas de alguma coisa?
- Água e um Loraz, por favor. - sorri levemente. A dor de cabeça estava defenitivamente a dar-me cabo do organismo.
- Ok. - ela sorriu de volta, para me deixar depois a pensar no quão agradecida estou em tê-la comigo. A sua história cativa qualquer um e faz-me torcer para que nada se repita, visto o facto de ela ser tão boa pessoa. Hillary é órfã de mãe, e infelizmente nunca conheceu o pai. A sua mãe devido à paralisia cerebral não pôde cuidar dela, e por isso deixou-a ao cuidado de uma instutuição a mesma para a que me levaram depois do desaparecimento dos meus pais. Mais tarde, fomos recrutadas, bem, adotadas por Trisha. Hoje fazemos parte da sua agência, visa a formarmo-nos para desempenhar o papel de agentes de campo, tropa especial e tática.
Pessoalmente, dedico-me mais ao departamento informático, mantenho-me aí por enquanto.
- Tens aqui. - ela regressa dando-me o copo de água e o comprimido.
- Obrigada, Hill.
- Começa a avisar antes de decidires pregar sustos como esses, ok? - ela penteia o meu cabelo. Acabo a água pousando o copo no meu colo. - Vamos. Os cincos minutos já acabaram. - riu-se. Saímos do quarto, descemos as escadas e entrámos na sala de tiro.
- Bom dia, meninas. - o seu sorriso acolhedor saudou-nos.
- Bom dia, Jack. - Hillary disse. Dirigi-me ao armário de armamento, pendurando lá o meu saco de tirei a primeira arma que me veio à mão, seguido de uns óculos e uns protetores auriculares.
- Alguém está cheia de vontade para começar. - ele goza. Mas parte de mim apenas quer descarregar no papel a sevir de mira, gastar quantas balas puder e ignorar tudo e todos.
- Vamos lá começar. - Hillary diz posicionando-se ao meu lado. O seu olhar mantêm-se concentrado no plano assim como o meu. Depois de três segundos, inúmeros estrondos ocuparam o silêncio da cave.
Decidi editar a história pois haviam imensas coisas sem sentido e com as quais eu não me identificava por isso, quero que saibam que irei fazer alterações consideráveis.
Obrigada.
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m.e.n.t.a.l | hs {slow updates}
Genç Kurgu- Foste tu que mataste os meus pais? - A voz arrastada fazia os meus olhos picarem. O metal no meu dedo pronto a ser puxado. - Porquê agora? - ele diz enquanto massaja o couro cabeludo. Os seus olhos gelados são como flechas na minha direção. - De...