Cuatro | No, que no, que no, que no y no

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       Um dia sozinho nesse inferno de lugar é tudo o que eu mais quero.

Todavia, as circunstâncias apontam que terei que olhar para a cara da minha família por mais alguns dias.

Descobri da pior forma que existem pessoas mais insuportáveis do que os meus próprios parentes, e essas pessoas são a família do noivo perfeito Luis, seu irmão Marcus e companhia.

- Você trabalha para qual canal? - perguntou a chata da prima deles, afastando uma mecha de seu cabelo loiro para trás.

- Canal seis, do jornal matinal - comecei a encher o meu pratinho com a comida que nos fora servida.

- Ah... - ela pareceu pensar - Acho que nunca te vi na televisão.

- Claro, você não assiste jornal - debochou uma segunda loira de vestido vermelho parando ao lado da primeira - Não foi você quem fez a cobertura daquele roubo no shopping?

- Não.

- Tem certeza? Eu acho que era você sim... - levou o indicador até o queixo, franzido o cenho - Ele tinha cabelo preto, usava óculos fundo de garrafa...

- Esse é o Tawan do canal quatro - expliquei com um suspiro, contendo a revirada de olhos.

- Ah, sim... é que vocês são muito parecidos.

- Ele é Tailandês - reforcei, com um sorriso forçado.

- De qualquer forma, vocês orientais são todos parecidos - dito isso ela encarou a prima, que concordou com um aceno de cabeça.

- Sei... - soltei um riso forçado - Eu também acho vocês caucasianos todos iguais - apontei para ambas em tom de brincadeira.

- Está brincando, né? - indagou uma delas com um riso soprado.

- Não. São todos brancos, todos com o mesmo tipo de cabelo, eu particularmente nem consigo ver diferença em vocês duas além da cor do vestido.

Ela riram se entreolhando por um ou dois segundos.

- Não foi ótimo que sua irmã tenha pedido comida tradicional coreana para o café, Taehyung? - minha avó materna perguntou ao se aproximar, inclinando-se para poder observar dentro das panelas.

- Eu acho que ela não fez mais do que a obrigação dela - respondi, ouvindo sua risada, logo notando o olhar confuso das duas loiras.

Acho que não é natural para elas presenciar duas pessoas conversando em coreano, ainda que a família toda do noivo tenha passado uma semana inteirinha diante da família Kim e sua resistência em continuar conversando entre si na sua língua materna.

Esse casamento está mais para uma batalha entre inglês, espanhol e coreano.

- Você fala inglês tão bem... - comentou a de vestido vermelho.

- Eu tenho dupla cidadania - respondi, não aguentando mais o fato de eu ser coreano estar servindo para pauta nessa conversa.

- Então você é mestiço?

- E isso é da sua conta, criatura? - esbravejou minha vó, agora com o seu próprio pratinho de comida - Onde já se viu ficar perguntando da vida dos outros assim, sem ter nenhuma intimidade... - resmungou.

Contive o riso a encarando.

- É só curiosidade... - uma delas tentou amenizar a situação.

- Está mais para entrevista de emprego - levou um pouco de arroz frito até a boca - Eu disse que o Luis é a única pessoa descente nessa família - murmurou para que apenas eu pudesse entender.

Bésame | VhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora