Nem dava para acreditar que só faltava uma semana para o casamento, agora só terminávamos de arrumar os últimos detalhes. A carta de Math não havia chegado, pois ele não havia recebido. Segundo a carta que recebi há uma semana atrás de Kiara, o garoto depois que fui embora ficou deprimente — ela achava isso patético, mas contou também que um ano depois perdeu a mãe em um acidente de carro e desde então foi para um orfanato e ela nunca mais teve notícias dele. Meu coração se apertava só de lembrar, lembrar que ela havia falecido e eu não estava lá, não estava lá para vê-la uma última vez e nem estava lá para confortar ele.
Voltei à realidade com o novo falatório que começava na sala de estar e sentados estava eu, minha mãe, meu pai e meus futuros sogros, o noivo só conheceria no dia do casamento. Ambos conversavam como seriam as coisas daqui pra frente, a mãe dele dizia:
— Acho que até eles começarem a ter alguma intimidade, seria interessante dormirem em quartos separados. — disse a mais velha, sensata.
— Eu preferiria que fosse assim mesmo. — concordei rapidamente.
— Um dia após o casamento o depósito será feito. — avisou o Sr. Navalles.
— Será muito bom para a nossa família também, assim ele parara de pensar naquela garota. — ela disse, se dirigindo ao marido.
Ótimo eu seria um tampa buraco, de um cara rejeitado... Se a garota não o quis, ele não é tão bom assim — quanto à mãe insiste em elogiar. Ela passou quase 1 hora e só parou de elogiar o jovem agora, segundo ela o individua é inteligente, bonito, simpático, prestador, bondoso, caridoso...
— Mas só um pouco teimoso. — lembrei-me dela o rotulando.
— Por quê? — questionou mamãe.
— Ele não gostou muito da ideia de casar, mas agora está muito mais aberto.
Acho que pelo menos nisso nós parecíamos, eu não estava nem um pouco a fim de me casar com o filho perfeitinho dela.
Ver-me dentro daquele vestido era estranho e uma vontade de chorar, correr sem rumo, rasgar ele me atingiu, mas eu precisava seguir firme ou perderíamos tudo e iríamos parar no olho da rua, eu perderia a chance de ir para fora fazer faculdade e nós perderíamos a nossa casa, mas conseguindo ter dinheiro até a faculdade poderia trabalhar no que eu realmente sonho e ajudar a cuidar da saúde das pessoas. Respiro fundo mais uma vez e peço para o estilista me deixar sozinha, dou uma volta e observo como o vestido ficou bonito em mim, a maquiagem muito bem feita, assim como o cabelo castanho médio que estava preso em um lindo coque despojado e enfeitado. Fiz meu melhor sorriso, abaixei o véu sobre o rosto, peguei o enorme buquê de rosas e segui rumo ao meu triste destino.***
O carro finalmente havia parado em frente à igreja escolhida para a cerimônia, as portas estavam abertas e assim que chegamos a frente da igreja a música tradicional começou a tocar e com o braço sobre o de meu pai seguimos em direção ao altar. Segui de cabeça baixa, pois a maioria dos rostos ali presentes eu nem conhecia — minhas amigas não estavam ali, pois seus pais ao saber da barbaridade que os meus estavam fazendo não permitiram a vinda delas. Finalmente a música parou e ouvi meu pai dizer para o jovem cuidar de mim, o mesmo provavelmente apenas acenou. Ouvi as habituais palavras do padre e quando ele perguntou se alguém era contra me vi olhando para trás e ao me virar percebi que ele também olhava —talvez esperasse que ela aparecesse, mas ninguém cruzou a porta.
E então finalmente depois de falarmos sobre os votos, ambos olhando para baixo, após a troca de alianças o padre disse:
— Agora já pode beijar a noiva.
E eu estremeci, sabia que pelo menos um selinho teríamos que dar, ele levantou meu véu colocando-o para trás, levantei a cabeça devagar encontrando olhos profundos cor de cacau, um rosto não muito simétrico, mas ainda assim lindo. Olhei como se o conhecesse de algum lugar e ele me olhava da mesma forma e então, ele sorriu e meu coração acelerou e minha mente se encheu de imagens.
— Você! — dizemos juntos.
— Ai meu Deus Math! — exclamei e lhe abracei, sentindo olhares sobre nossas costas.
— Meu girassol... — ele disse, em um sussurro.
Nos separamos e eu não sabia o que fazer ou como agir, era ele, o tempo todo era ele.
***
O rapaz o qual eu só lembrava-se do sentimento, mas seu rosto era oculto para mim, agora estava ali a minha frente e nós estávamos casados, depois de sentar em uma das mesas enquanto a galera aproveitava a festa, nós conversamos e ele me contava sobre a família Navelles ter o adotado, o ensinado a ser da elite, mas mesmo depois de tanto tempo ele ainda lembrava-se da promessa e da garota que ele nunca mais viu e então eu contei tudo, sobre a carta, a dívida, tudo e não esperava ouvir aquilo dele:
— Se você quiser a gente separa e nos conhecemos melhor, meus pais continuarão pagando a dívida, não é preciso garantia nenhuma, você não merece ser uma garantia.
— Eu não sei o que dizer Math, é tanta coisa para processar.
— Tudo bem, a gente pensa nisso depois, vamos dançar pequena Liza?
— Eu não sou pequena, mas aceito dançar.
E peguei em sua mão que estava estendida para mim e naquele momento o ditado popular “Deus escreve o certo, por linhas tortas”, fez todo sentido.
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O Destino
Short StoryA família Menezes faz parte da elite; sua casa luxuosa, seus carros importados e as muitas viagens que a família fazia delegavam isso. A família era típica de comercial de margarina, o pai um empresário, a mãe do lar - vivia para o marido e uma ún...