DARK HORSE

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Ando pela calçada. Aquela sensação daquele sonho não me deixou. Harry me permitiu sair já que eu estava refém do pacto. Estou procurando um feiticeiro pra quebrar a ligação que eu tenho com aquele idiota. A ligação é forte, sinto isso. O feiticeiro deve ser muito habilidoso e poderoso.

Ando até um parque com uma fonte em seu centro. Hoje está nublado, por isso não há quase pessoa alguma. O glamour se dissipa assim que me aproximo e no fundo da fonte a água se turva. Olho em volta. Ninguém por perto. Me jogo na fonte. Os meus pés não tocam o fundo. Sinto a água me envolver e me torno parte dela.

É como viajar sendo ar. Sinto leveza. Atravesso a espécie de um portal.

A água passa pelos meus olhos e me deixa na frente de um portão dourado cravejado de joias. Reviro os olhos. Levanto meus olhos e um nome brilha em pó de fada e mini explosões: Tales.
Passo pelo portão. A minha frente está uma estrada de tijolos amarelos. Fadas são seres estravagantes e dizem gostar de satirizar as "bobas" ideias dos humanos, mas na verdade elas amam as histórias que os humanos criam. A maior prova disso é ter o nome da capital dos seres sobrenaturais como Tales - Contos, e uma estrada idêntica a que a Dorothy seguiu seu caminho em O Mágico de Oz. Não gosto de ter muito contato com coisas relacionadas aos humanos, mas tem coisas que se você está vivo - e eu estou há muito tempo, é difícil não saber sobre. Assumo, já li O Mágico de Oz e li Os Contos Originais dos irmãos Grimm - até fui eu que dei algumas ideias a eles, como a vingança da Branca de Neve contra a Rainha Má.

A capital é incrível à primeira vista, mas somente a entrada dá essa impressão. Conforme você entra percebe a segregação que existe entre raças que vivem aqui. O céu, conforme eu ando pelas trilhas e curvas da cidade começa a escurecer. Estou entrando no território dos meus. Somente as fadas tem o sol acessível. Os seres da noite ou considerado malignos, se quiserem morar aqui devem se acostumar com a escuridão quase que cem por cento do tempo. A estrada de tijolos amarelos aqui está encardida e, quando viro para outro portão - enferrujado e corroído, ela acaba. Bem, acaba não é a melhor palavra, o certo seria quebrada. Um vácuo está entre a estrada e o caminho que quero seguir, a estrada dos Feiticeiros. É como uma favela, que flutua no ar por magia, que provém dos feiticeiros porque se dependessem das fadas já teriam caído no vácuo há muito tempo.

A estrada dos Feiticeiros sobe e penetra na bagunça de casas e barracos amontoados que formam uma montanha. E no topo um castelo torto e caindo aos pedaços.

Espero a estrada se aproximar e pulo. Com um baque estou no outro lado. É aqui que vou achar o Grande Feiticeiro. Já ouvi falar dele. É uma figura muito famosa e, mesmo tendo dinheiro e status suficiente para morar em qualquer outro lugar, escolhe esse depredado.

Começo a andar pela estrada. Sinto e vejo olhos em mim. Me arrisco a olhar algumas vezes. Às vezes, vejo coisas deformadas, outras vezes figuras humanoides distorcidas. Os feiticeiros, a maioria, envelhecem e são deformados conforme usam seus poderes. A magia tem um preço. E quase toda a energia deles está sendo voltada para manter essa ilha funcionando. Aconteceu uma revolução séculos atrás organizada pelos feiticeiros que resultou na quebra e exilio de Tale. Eles vivem num vácuo. Essa ilha está dentro de um rasgo da realidade que as fadas fizeram. Um gesto simbólico que significa "Ei se vocês tentarem algo de novo nem a sua fraca magia poderá impedir essa ilha de cair no abismo da irrealidade". Porque não fogem? Os feiticeiros que participaram da rebelião foram presos a ilha devido a uma maldição, que drena a juventude e os poderes para mantê-la flutuante, não podem sair. Feiticeiros normalmente são imortais, mas devido a quantidade exorbitante de magia drenada, não sobra quase nada para mantê-los jovens.

E não só isso.

Devido estarem fora da realidade, criaturas vivem junto deles. Algumas pacificas, outras nocivas e ferozes e mortais. Elas não podem entrar na realidade devido um encantamento do Criador, que impede essas criaturas irreais passarem para a realidade mundana.

Minutos viram horas enquanto eu subo a montanha até meu objetivo: O castelo.

Enfim chego.

Bato à grande porta podre de carvalho. Ninguém atende. Bato de novo. Ouço um barulho vindo de dentro. Parece que alguém está tropeçando. A porta range e abre empenada e torta.
A primeira coisa que percebo sobre a figura a minha frente sãos os olhos. Írises anormalmente amarelas. Um olhar furioso. Maxilar travado. A pessoa me avalia e relaxa a postura. E um sorriso se espalha por sua cara. As írises passam de amarelo para castanho.

- Ufa! Pensei que fosse outra besta demoníaca. É só um vampiro.

- Grande Feiticeiro? - tento.

- Grande Feiticeiro? Agora me chamam assim? Antigamente era Profeta Satânico. Pelo visto estamos melhorando.

Ele me chama para dentro do castelo com o dedo indicador, percebo que ele usa luvas cortadas nos dedos, pintados de preto e azul intercalados. Enquanto acompanho ele, percebo que ele usa uma roupa vermelha bastante colada, não sei de que material, talvez couro.
Ele me guia por uma bagunça de livros espalhados pela casa, o cheiro de papel velho predomina o ar. Eu tusso. Ele senta numa poltrona e coloca uma perna em cima da outra.

- Então, em que posso ajuda-lo, vampirinho?

- É, Grande Feiticeiro...

- Por favor não me chame de Grande Feiticeiro. Sou grande, mas não nesse quesito. Ainda tenho vários segredos do universo para desvendar. Meu nome mortal é Liam Payne. Na verdade, meu nome é Lianus Pandolfo, mas eu o atualizei para os dias de hoje. Mais moderno, sabe.

- Claro, é, Liam. Eu vim aqui pra você quebrar uma marca de ligação.

- Marca de ligação? Simples, bastante simples. Qualquer maguinho de esquina conseguiria quebrar com alguns truques.

- O problema é que a marca de ligação foi feita por sangue e a outra pessoa que bebeu o sangue é um demônio.

Seu rosto revela surpresa e ele assovia.

- Uau! Isso complica um pouco mais as coisas. Ligações feitas por seres do inferno são bem mais difíceis de quebrar. E o lance do sangue dificulta mais um pouco. Você terá que morrer por alguns instantes.

- Eu não posso me matar. O demônio me fez fazer um pacto inquebrável.

- O que você realmente prometeu?

- Bom, eu prometi que não tentaria me matar.

- Você? Somente você?

- Sim, porque?

- Você disse que não mataria a si mesmo, mas e se, alguém lhe matasse?

A minha ficha cai.

- Contratos demoníacos devem ser muito bem feitos pra não terem nenhuma brecha. O que normalmente não são. Aliás, não são só brechas são rasgos gigantescos. Mas, a maioria das vezes, as vítimas estão tão desesperadas para conseguir um contrato ou se livrar de um que nem percebem que poderiam escapar pelas entrelinhas do próprio contrato. Demônios se aproveitam da ingenuidade dos seres humanos. - Finaliza Liam.

- Tá. Só seja rápido. Eu sinto os sentimentos do Harry e se ele descobrir que eu quero quebrar a ligação ele, só de sacanagem, irá tentar impedir.

- Mas não aqui. Esse local é protegido por minha magia e runas feéricas contra demônios e outros seres infernais.

- Pode se sentar aqui. - disse Liam se levantando e apontando para uma outra poltrona. Sento. É confortável. Relaxo.

- Olha, vou ser rápido - declarou Liam. Sua mão brilhou em fogo vermelho e verde e uma adaga é sumonada. Runas brilhavam em azul no cabo da mesma. - Não vou dizer que não vai doer, porque vai. Conta até três.

- Tá. Um...

Liam move sua mão com uma agilidade que mal consigo ver. A adaga perfura meu tórax, se alojando em meu coração. Tento gritar, mas não tenho forças. Minha vista começa a escurecer e a dor começa a se esvair, mas sei que logo, logo irá retornar com uma enorme força. Antes de minhas pálpebras fecharem sobre meus globos, tenho forças pra sussurrar pra Liam.

- Você disse até três Liam.

- Não quis te deixar nervoso - disse Liam com um sorriso sem graça.

Vejo a adaga brilhar dentro de mim. Sinto ela se aquecer em mim e se espalhar como fogo no meu interior. A marca no meu pescoço esquenta.

Apago.

BLOOD AND SOUL (LARRY VERSION)Onde histórias criam vida. Descubra agora