O espelho nunca fora tão necessário para Midoriya naquela noite. Ele gastou um bom tempo no chuveiro, porém, o espelho ganhou sua maior atenção enquanto se trocava devagar, encarando cada pedaço do corpo — e acabando descobrindo partes que nunca havia olhado de verdade.
Ele suspirou pesadamente ao parar em frente ao seu reflexo, não sabendo direito o que pensar. Sua beleza era destaque nos comentários nas redes sociais, onde seus fãs se juntavam para amar suas sardas sem julgamentos. Sempre diziam que ele era bonito e fofo, e era isso. Bonito e fofo. Não sexy ou "gostoso" como costumavam chamar Todoroki, e principalmente, Bakugou. Porém, as palavras nunca o incomodaram tanto quanto naquele instante. A insegurança sobre sua aparência nunca o havia tomado daquela forma, e o sentimento hesitante o fez se vestir um pouco mais lento.
Eu entendo completamente quando falam essas coisas do Kacchan. Ele pensou, enquanto arrumava os cabelos com os dedos. As cicatrizes no braço o envergonharam pelo reflexo, e soltou outro suspiro. O que ele poderia ver de sexy em mim?
O convite para aquela noite não havia sido feito por qualquer coisa. Bokugou havia deixado suas intenções claras ao envolvê-lo daquela forma, assim como sua irritação com Todoroki. A ideia de Katsuki sentir ciúme pareceu absurda quando recobrou o juízo que havia sido espantado com o longo beijo, e demorou horas para que suas analises apontassem os motivos dos comportamentos do herói com o outro.
O coração acelerou quando as bochechas esquentaram ao se dar conta do segundo significado daquele olhar quente ao pedir que não fosse treinar com Todoroki, e no lugar, fosse para a casa dele. Mas, Deku continuou sem querer acreditar. Se iludir daquela maneira aos vinte e seis anos era idiota demais, ele sabia, e por isso tentou imaginar que Bakugou só não queria estar no mesmo ambiente que Todoroki. Porém, sua resistência não durou muito ao se lembrar da maneira excitada com que fora pressionado sobre o corpo maravilhosamente tentador, e sem notar, segundos depois já estava na sala de Todoroki, desmarcando o treinamento para aquela noite.
Ele voltou para casa ainda sem saber se realmente iria para o endereço que nunca havia visitado, mas o banho, a troca de roupas e a maneira que ainda se olhava no espelho indicava que sua decisão já estava tomada, só precisava aceitá-la para sair de uma vez.
E se ele não me quiser na hora? E se me deixar sozinho, como fez da outra vez? Ele fechou os olhos com força enquanto se perturbava em pensamento.
Bakugou havia mudado com o tempo, ele sabia, e a maneira que a relação de ambos vinha melhorando — até demais —, o fazia rebater as perguntas pessimistas, equilibrando os dois lados que prendiam os seus pés em frente ao espelho.
Faltava pouco para ficar tarde demais, e Deku analisou as possibilidades para as duas escolhas que tinha no momento, e o arrependimento por ficar em casa se destacou de imediato ao se encarar com seriedade, mas levemente envergonhado.
— Você vai até lá, Izuku — ele apontou para o espelho. — Você não é mais uma criança medrosa. Se ele tentar brincar de novo, é só rebater a altura, como sempre faz — o herói inflou o peito ao assentir, mas logo curvou as costas. — Eu não quero rebater nada, só quero ficar com ele. Mas que droga!
O coração acelerou com a confissão dita em tom alto pela primeira vez em toda a sua vida. Ele queria Bakugou, naquele momento fisicamente, porém, no geral, de todas as formas possíveis, e por isso temia fazer aquele caminho. Seu amor por Bakugou não só fora reanimado como também alimentado pelos últimos meses, e não sabia como lidar se houvesse uma decepção parecida com a do passado.
Ainda doía se lembrar da maneira urgente com que Katsuki limpou seus lábios após ter entrado em contato com os seus, e o que estava prestes a permitir era de um nível ainda maior. Mas, o seu desejo ganhou a discussão interna, que fora tomada pela lembrança da maneira com que Bakugou o beijara horas atrás.
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Não Me Chame Pelo Meu Nome
FanfictionBakugou passou boa parte de sua vida escutando a voz irritante que proferia o apelido ainda mais odioso. Por anos, foi apenas "Kacchan" para o garoto insistente, e com o tempo, ele passou a não ligar mais para o apelido; por puro costume, sabendo qu...