Extra

3K 408 92
                                    


— Caralho, Deku, não enrola! — As palavras carregadas de nervosismo soaram pelas escadas do prédio.

O local normalmente era vazio, pelo simples fato de todos preferirem os elevadores do que as centenas de degraus que levavam até o oitavo andar, porém, naquele começo de tarde, os dois heróis não tiveram opções a não ser ir por aquele caminho. Os elevadores estavam cheios por conta do final de semana, e a urgência para Deku chegar em sua sala os fez subir os degraus, um por um, lenta e cautelosamente; irritando Bakugou no meio do caminho.

Ele havia ficado quieto enquanto o ajudava, sabendo que a necessidade de ir tão devagar era em parte por sua culpa, porém, quando estavam a poucos degraus para chegar no andar que queriam, a força do herói que só poderia fazer o trabalho de escritório naquele dia, fraquejou, assim como o resto da paciência do outro.

A breve discussão começou quando o herói explosivo fez uma sugestão, que fora prontamente recusada por Deku.

— É sua culpa — Izuku estreitou os olhos. — Agora não venha querer bancar o nervosinho.

Bakugou riu com deboche ao descer um degrau, para olhá-lo melhor.

— Eu estava dormindo quieto, não estava?

Ambos permaneceram em silêncio; um com um sorriso irônico enquanto o outro permanecia com as sobrancelhas juntas. Não havia quem culpar cem por cento pelo exagero de terem passado a madrugada muito bem acordados e entre altos gemidos. A maneira intensa que Bakugou o envolveu repetidas vezes após ser acordado fora espontânea, mas Midoriya o havia incitado do início ao fim. Eles sabiam que não havia motivo para aquela discussão, mas nenhum dos lados quis ceder, desta vez, com Deku sendo o mais teimoso entre eles, querendo manter o seu orgulho.

As vozes ecoaram ainda mais pelo prédio, evitando as palavras que mostrassem o motivo da tola briga, o que alertou de maneira errada o terceiro herói que também optara pelas escadas. Todoroki juntou as sobrancelhas no momento em que reconheceu o timbre bastante grave de Bakugou, e arregalou os olhos brevemente ao ouvir a voz Midoriya se misturar naquela discussão.

Ele subiu as escadas rapidamente, já julgando o que ouvia sem nem mesmo saber o assunto entre ambos. Bakugou era o culpado, sempre era, e Todoroki se aproximou sem dúvida alguma de que Midoriya sairia com os sentimentos machucados de novo por causa do herói boca suja.

— Se afaste, Bakugou — Todoroki ordenou com seriedade, mas mantendo sua calma ao ficar ao lado do surpreso Midoriya.

Os olhos de Katsuki rapidamente se mostraram verdadeiramente nervosos ao encará-lo de baixo; a raiva era tanta, que Deku pôde ver faíscas trepidarem pela íris. Aquele olhar era extremamente perigoso, ele sabia bem, assim como Todoroki, que ainda assim, devolveu a atenção com intensidade parecida.

— Está tudo bem, Todoroki-kun — Modoriya desceu o degrau com dificuldade enquanto gaguejava. O que menos queria naquele momento era uma briga de verdade no prédio, e sabia que Bakugou era mais do que capaz de iniciar uma por conta de seu bobo ciúme. — Ele está me ajudando a subir.

Todoroki rapidamente desviou a atenção para Midoriya, e os olhos se tornaram preocupados enquanto explicava com certa vergonha que não estava muito bem naquela manhã, e estava usando Katsuki como apoio para chegar no oitavo andar.

Deku era agradecido pela preocupação que sempre surgia, mas, ela o irritava ás vezes, e aquele era um destes momentos. Ele escondeu o descontentamento enquanto se desculpava pelos gritos, e por tê-lo assustado, mas em momento algum quis agradecê-lo quando ofereceu sua ajuda, como se a de Bakugou fosse dispensável. Ele sabe o quão forte sou, e ainda assim me trata desta maneira, como se precisasse de cuidados o tempo todo. Ás vezes não consigo entender o que Todoroki-kun pensa.

A ajuda foi dispensada com educação, fazendo o herói estremecer pelo ciúme que tentava controlar a todo o momento, em especial desde que vira Bakugou puxá-lo pelo braço no dia anterior. Midoriya não o impediu ou o repreendeu, não ao menos em sua presença, e a raiva de Todoroki sobre o herói explosivo só aumentou.

O olhar vitorioso de Bakugou só piorou os sentimentos de Todoroki, que ainda hesitou por um instante.

— Você pode dar o fora, meio a meio — Katsuki sorriu de maneira estranha ao dizer com a calma que não era o seu normal. Mas, ainda assim, recebeu um rápido olhar sério de Midoriya, que foi completamente ignorado.

Todoroki não quis ceder a raiva, evitando agir como Bakugou, que se sentiu ainda melhor o vendo se afastar de maneira forçada.

Katsuki finalmente virou a cabeça para o lado, vendo Deku ainda o encarando com seriedade, porém, nada disse. E como se a discussão anterior nunca tivesse existido, fez o que havia sugerido, mesmo sem ter o consentimento da outra parte.

Midoriya soltou um som surpreso quando suas pernas foram tocadas, e sentiu o rosto esquentar com intensidade ao ser levantado. Os braços se apoiaram nos ombros e pescoço de Bakugou, que subiu as escadas um pouco mais rápido por tê-lo em seu colo, no lugar de apenas apoiá-lo.

Deku escondeu o rosto em seu peito ao ouvi-lo rir em tom baixo e zombeteiro, enquanto evidenciava que, se tivessem feito daquela forma desde o início, já estariam no oitavo andar, e ele poderia voltar para térreo, onde uma nova missão o esperava.

Foram apenas dez degraus até enfim chegarem, e Midoriya se sentiu ainda mais envergonhado ao ver as costas de Todoroki subindo a comprida rampa. Por favor, não olhe para trás! Ele pediu repetidas vezes em seu interior, porém, sua atenção fora desviada por Bakugou, evitando que descobrisse Todoroki fazendo o que menos queria naquele exato momento.

Katsuki o colocou no chão devagar, e completamente ciente do olhar surpreso e enciumado longe dali, segurou o pulso de Midoriya, para fazê-lo se virar em sua direção. Os lábios tocaram os outros com simplicidade, porém, fora o suficiente para Bakugou se esquecer completamente de seu plano infantil e principalmente, de Todoroki.

Os olhos piscaram devagar e o fraco sorriso se abriu com sinceridade ao ver o rosto sardento corado. Ele sentiu o coração se agitar como quando o ouviu durante a madrugada, e decidiu se desfazer do único arrependimento que ainda carregava, ainda que fosse difícil falar daquela forma.

— Eu também te amo — Bakugou sussurrou as palavras que ensaiava desde o momento em que as ouvira sair pelos deliciosos lábios de Izuku.

Fora difícil como havia imaginado, mas a recompensa era maior do que o seu orgulho. O largo sorriso e a coloração vermelha ainda mais intensa no rosto à frente o fez estremecer levemente, e não resistiu em repetir o rápido beijo antes de se afastar de forma definitiva por aquela hora. O trabalho o esperava, e já estava atrasado porque o havia acompanhado até ali, e se apressou para descer os degraus.

— Tome cuidado, Kacchan! — A voz de Midoriya o fez parar por um momento, e a clara preocupação com o trabalho de campo daquele dia foi vista nos olhos verdes, que o encaravam de cima.

Bakugou voltou a se mover ao abaixar a cabeça, e segurou o sorriso que queria abrir.

— Cuide-se você, caralho! — Ele exclamou com falso nervosismo, notado rapidamente pelo outro herói. — Porque vamos continuar hoje — o aviso saiu em tom baixo, mas sabia que podia ser escutado.

Bakugou finalmente sorriu ao ouvir a baixa risada maliciosa ficar para trás, sabendo que nenhum dos dois aguentaria repetir aquela madrugada por algum tempo, mas tendo certeza de que estaria ao lado de Izuku naquela noite.

Não Me Chame Pelo Meu NomeOnde histórias criam vida. Descubra agora