Amor. Quatro letras que formam uma palavra de significado tão forte. Toda história deve ter um final feliz, como manda o script, com muito amor.
Porém, essa palavra não consta em qualquer lugar do meu dicionário. Amar, se apaixonar, cair em amores são coisas que outras pessoas sentem, não eu. Não é permitido. Não é bem-quisto. Não é algo que eu tenha curiosidade em sentir. Assim foi a maneira como fui educado. Viver minha vida sem nada positivo. Ninguém para me proteger, para se preocupar comigo. Ninguém para cuidar de mim ou me amar. Viver sozinho foi, desde quando eu ainda era um feto, a previsão da minha vida. E assim será até meu último suspiro.
Aos 4 anos, quando chorei por atenção, fui mantido dentro de um armário por uma semana inteira. Alimentado com água e pão, quanto mais eu gritava, mais tempo permanecia lá. Ao final da semana, disseram que a situação dentro do armário era precária. Meus pais conseguiram exatamente o que queriam. Uma criança séria, sem drama, que chegasse à expectativa que eles esperavam.
Viver sempre com a sensação amarga de pensar como seria se eu fosse uma pessoa normal, com pensamentos normais, família normal. Ter um sonho, um objetivo. Tudo isso não passa de uma mera e insignificante ilusão que jamais se tornará concreta.
Na escola, a única criança que se atreveu querer me tirar das trevas à qual eu havia sido remetido pela minha família, acabou acidentalmente caindo dentro de um poço de água. Foi o que disseram os funcionários da fazenda onde a família passava as férias de verão. Vi os funcionários dentro de casa no dia seguinte à morte dele, recebendo uma bolsa de couro do secretário de meu pai.
Foi meu primeiro contato com a morte. A partir desse dia, soube que minha família era relacionada à decisão de quem viveria ou quem morreria. Achei que aquilo, sim, era poder. Não o que as crianças e, mais tarde, os jovens ao meu redor diziam ter. Dinheiro, carros, mansões... nada importava quando sua vida estava em jogo. É aí que víamos quem era verdadeiramente poderoso.
Amargura, vingança, escuridão. Morte. Para os medrosos, a vida seria um inferno, mas para mim já não é lá grande coisa.
Lucas Lord. 31 anos. Assassino de aluguel.
A família Lord sempre foi considerada a melhor máfia assassina que já existiu no mundo. Temido por todos, Martin, meu pai e atual líder, sempre disse que o comportamento demonstrado por aqueles inferiores a nós era respeito. Ao virar as costas para ele, ri. Quem ele queria enganar? Eu sabia que era medo. Quando se mata todos os tipos de pessoas, sem distingui-las boas ou ruins, existe um momento em que você consegue distinguir medo de respeito.
Fui concebido por obrigação. Porque meus antepassados tiveram filhos para herdar o negócio da família. Foi uma decepção quando vim homem. Meu avô, Drew, achava que a mulher sempre foi mais adequada a esse negócio, do que os homens. Isso porque minha avó, Elizabeth, a verdadeira Lord, assassinou o irmão mais velho em um momento de grandeza da família.
– Ela disse que ele não passava de um covarde – Drew, com seus olhos brilhantes de orgulho, relembrava de sua esposa com respeito. – Thomas era um tolo, de fato. Ninguém esperava que um homem que não cumpria as missões pessoalmente e mandava a irmã mais nova em seu lugar, fosse chegar longe. E claro, não chegou. A gata lhe comeu a língua. – riu.
Ele adorava brincar com o assunto, pois foi exatamente o que aconteceu. Após receber um tiro no meio da testa, uma cortesia de Elizabeth, disse Drew, ela lhe cortou a língua; a mesma que a ordenava seduzir homens e mata-los em seus momentos de glória, e alimentou os animais da casa com o pedaço da carne.
Desde então Drew tem a esperança de que alguma linhagem de Lord seja liderada por uma mulher. Elizabeth morreu devido à uma doença, a única causa que poderia derrubá-la, disse ele no funeral. Por essa mesma razão, sou filho único, assim como meu pai.
Eu estava a caminho de mais uma missão, ou seja lá como se chama a atividade de "saber quem será a próxima vítima". O lugar em que moramos sempre foi o mais escondido possível, no meio da Normandia. O local foi escolhido, simplesmente porque Martin quis. Quando a responsabilidade do clã é passado para a próxima geração, o líder pode escolher entre as diversas moradias espalhadas pelo mundo, para tornar oficial a nova base da família. Martin sempre gostou da França e de lugares que ele possa controlar. A Normandia era perfeita para ele, e continua sendo até então.– Lucas, preste atenção – Kamila, minha mãe, me manda um olhar repreendedor, me fazendo voltar a atenção a Drew, que não me dava um de seus melhores olhares. Eu e ele sempre tivemos problemas de nos desentender, apesar dele sempre confiar em mim os melhores casos da família, apenas porque gostava de minha crueldade.
– Ele lembra a mim – disse, um dia. Quase o matei por isso.
– Voltando ao assunto. – Drew diz, virando sua cadeira para um telão, onde um dos funcionários se responsabilizava em mudar os slides. – A família Morgan nos contratou para exterminar a família Yard, dona da maior empresa petrolífera do mundo.
– E por que deveríamos matar toda família? – perguntei, sem interesse, brincando com uma faca pequena. Matar uma família inteira é trabalhoso demais.
– Parece que os chefes da família induzem os filhos a cuidarem dos negócios no futuro, por isso, mata-los é essencial para que a empresa entre em falência de uma vez.
Uma decisão sensata, mas incompetente. A morte de uma família não significa a quebra de uma empresa.
– E quanto a família Morgan quer investir nesse plano? – Jace, o idiota que cuida da contabilidade do clã, diz, empurrando os óculos de grau com as costas do dedo indicador. Um hábito que ele tinha de agir quando questionava sobre valores.
Os integrantes da família Lord nunca ligaram para quantias de dinheiro, apesar de sermos milionários. Nosso trabalho nos faz assim. Mas não era assim com aqueles que não dividiam do mesmo sangue que o nosso. Para eles, todos nós trabalhávamos por dinheiro. Quanto maior o valor, maior a força de vontade. E matar uma família inteira significava a necessidade de muito incentivo por parte do cliente, o que aumentaria, no mínimo, 2 ou 3 dígitos em nossa conta bancária que, honestamente, já passava dos nove dígitos.
Olhei preguiçosamente para a pasta com todas as informações que a família contratante nos passou, mais o que nossa equipe de pesquisa reuniu. Contas, dados de amigos, seguranças, horários fixos que todos os integrantes costumavam seguir.
O dia perfeito para o plano era na noite de natal, onde os Yard se reuniam como uma família comum para celebrar um feriado qualquer. Todos iam para a propriedade da família principal em uma fazenda na Espanha, e lá ficavam até o ano novo, quando a maioria decidia passar em outro lugar. Poderia haver pessoas que não eram da família, mas em uma missão em que a ordem era a exterminação de uma família, amigos tampouco eram importantes vivos.
Meus olhos caíram na página dos herdeiros da família. Três filhos saudáveis e adultos. Parei para analisar, especificamente, a caçula. Victoria Yard. Aos 27 anos, apesar de não ser a favorita a herdar a empresa, devido à posição na linhagem, tinha o melhor currículo profissional, com experiência em empresas importantes e atividades que deixariam muitos profissionais que lutam por um lugar no mundo, de queixo caído. A primeira coisa que me veio à cabeça, foi em como ela era um desperdício. A segunda coisa foi que Drew amaria tê-la como neta, o que me fez bastante satisfeito ao saber que eu era o responsável por cortar o pescoço daquela belezinha.
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Nota da autora: Obrigada à todas as leitoras maravilhosas que me incentivaram a repostar essa história. Depois de um milhão de anos ~literalmente~ enrolando para voltar a postar Weak, acabei tomando coragem para reler e reescrever a história.
Irei, aos poucos postando os capítulos de volta. Faz um tempo que não posto nada em andamento aqui no Wattpad, e apesar de essa história já estar escrita por completa, ainda assim parece que é como se fosse a primeira vez. Espero que aproveitem!Postarei um novo capítulo todo final de semana (sábado ou domingo)!
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Weak
RomanceAos 30 anos, ele achou que havia aprendido tudo o que precisava para sobreviver. Parte de um clã composto de assassinos de aluguel, seu conhecimento ia além das formas de matar. Para fazer um bom trabalho, era preciso jogo de cintura, boa lábia, cha...