Após daquele dia, Nicole parecia mais atenta ao seu redor. O lugar onde estávamos em Bora Bora não era tão grande e podíamos facilmente nos encontrar sem planejar até pelo menos três vezes ao dia, a não ser que eles decidissem sair para um passeio de escuna, o que sou obrigado a dizer que, se fosse uma vítima fugindo de um assassino desconhecido, não acharia essa atividade uma boa ideia.
Meu rosto parecia estar bem marcado na memória da última Jones. Uma simples aparição, mesmo que longe, mas em seu campo de visão, era o suficiente para fazê-la se aproximar. Quem não gostava da ideia era seu companheiro intruso, o tal do John, que me mandava olhares desconfiados e nervosos sempre que nos encontrávamos. Como todas as vezes que o encontro acontecia, suas caretas não me afetavam; ele não era minha prioridade, por mais que, nos dias de menos paciência, minha vontade de meter uma bala no meio de sua testa aumentasse consideravelmente. Um dos principais ensinamentos para um assassino, é a virtude da paciência. Quando se conquista esse dom, a espera se torna até divertida, como um gato que brinca com o rato antes de devorá-lo.
Três dias para a execução.
Meu plano já estava formado. Por mais que os seguranças da casa aonde os dois estavam morando tivessem o tamanho e o armamento suficiente para espantar qualquer um de perto da casa, para mim era apenas questão de jogo de cintura. Como alguém cuja prioridade não é matar mais do que o necessário, eu sempre deixava a decisão na mão deles, a de morrer ou não. Na maioria das vezes, eles eram ensinados a entender de que colocar sua vida em jogo à frente de alguém que o contratava era uma virtude. Pelo bem da virtude da família deixada para trás, seria bom se pelo menos eles fossem bem pagos, o que dificilmente acontecia.
Por volta das sete da manhã, passava, como sempre, próximo à casa em roupas de ginástica. Uma bermuda e uma camiseta, com os óculos de sol e fones de ouvido. Um funcionário me parou para perguntar as horas; gentilmente respondi. Aproveitei para pedir sugestões de outros caminhos, já que aquele era o "único que conhecia".
Diferente dos seguranças profissionais, aqueles foram gentis em me dar as dicas como se eles fossem os donos de um bar e eu, um turista em busca de um calor local.
Quinze minutos depois, me afastava com um sorriso.
Eu já não era mais um alvo para eles.
Dois dias para a execução.
Eu estava aproveitando o final da tarde para verificar o movimento da praia onde eles estavam localizados. Não chamar atenção é um dom que os Lord têm na hora da ação. Estava tudo a meu favor. No fim da tarde a praia já não estava tão cheia, pelas minhas contas, umas poucas cinco, seis pessoas. Casais caminhando à beira-mar. Estupidez. Após terminar a última checagem, coloquei as mãos nos bolsos de minha calça e passei a andar sem rumo. Não havia mal algum aproveitar o serviço extra, para também emendar uma folga.
Sentei em um banco de madeira de frente para o mar, sentindo uma leve brisa refrescante bater em meu rosto. Aquilo, sim, era clima para um assassinato. Chuvas, tempestades, tempo nublado, escuro e sem energia? Clichê de filmes de terror. Além de atrapalhar o plano, fazendo com que as vítimas talvez mudassem seus trajetos originais, ainda fazia com que eu tivesse de usar roupas pesadas e tivesse uma visão ao menos 30% pior do que se estivesse cumprindo o serviço em um tempo bom. Além de que, por mais que as pessoas neguem, elas sempre ficam mais receosas e atentas ao que acontece ao redor com o tempo ruim. Principalmente se elas já são alvo de algo ruim, como minhas vítimas.
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Weak
RomanceAos 30 anos, ele achou que havia aprendido tudo o que precisava para sobreviver. Parte de um clã composto de assassinos de aluguel, seu conhecimento ia além das formas de matar. Para fazer um bom trabalho, era preciso jogo de cintura, boa lábia, cha...