TERRA

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Não acredito em forças divinas

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Não acredito em forças divinas.

Na verdade, costumo pensar que todos nós somos responsáveis pelas consequências de nossos atos. Portanto, nem os deuses nem o universo poderiam intervir em nosso destino.

Tendo isso em vista, decidi que eu construiria uma boa vida por mérito meu. Coloquei em palavras todos os meus objetivos, e planejei o que espero do meu futuro, para que nenhuma inconveniência pudesse ocorrer no meio do caminho. Tenho minhas decisões na ponta de meu lápis.

Quando a morte me alcançasse, eu estaria tão alto e forte que ela sentiria medo de me levar.

Fiz tudo o que precisava ser feito dia após dia até o dia de hoje. Nenhum imprevisto nunca me abalou. Nada de ruim que me aconteceu foi culpa minha. Percebo que todos gostam de culpar os outros quando algo dá errado, com um medo iminente de assumir a culpa, tentando manter uma imagem de que são honestos e perfeitos.

Alguns culpam os pais. Outros culpam Deus. Qualquer um que esteja próximo o suficiente, e ao mesmo tempo longe.

Quando não se acredita em Deus, é difícil achar alguém para culpar por todo o desastre do mundo. Não temos alguém para culpar quando sofremos e sentimos dor.

Devemos compartilhar nossas dores ou ignorá-las até que elas estejam pequenas o suficiente. Então, devemos andar no mesmo mundo que os fantasmas andam, porque o mundo é grande demais e ainda cabe muita coisa nele. Os fantasmas e nossas dores, e nós não poderemos ver nenhum dos dois, pois fingimos que não existem. E se fechamos nossos olhos pra alguma coisa, é como se essa coisa não estivesse lá.

Às vezes eu me sinto acompanhado quando estou sozinho. Terça-feira passada, enchi duas xícaras de café e coloquei na mesa; bebi uma, deixei a outra na frente da cadeira vazia da cozinha. Quando voltei, a xícara ainda estava lá.

Mas era de se esperar. O mundo é grande, e nada nunca sai dele. Nada nunca cai. O nosso planeta é uma caixa fechada, isolada. Todos os cadáveres de todos que já existiram ainda estão aqui, em algum lugar, abaixo de nossos pés.

Quando o meu pai morreu e eu precisei ir até o cemitério, o lar dos ossos, percebi que todo o nosso chão é apenas um cemitério coberto por cimento e asfalto. Nada muda de um lugar pro outro. Todos os lugares continuam vazios, banhados em corpos mortos e cinzas.

Alguns lugares ficam vazios mesmo com corpos vivos neles.

Os fantasmas andam em nossas casas como se fossem deles, e talvez sejam. Talvez nós sejamos os invasores. Talvez esse não seja o nosso lugar.

Mas o mundo é grande, imenso, e precisamos aprender a compartilhá-lo com tudo aquilo que não podemos ver.

Até mesmo nossas dores.

Até mesmo nossas dores

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