O vento batia no meu rosto bruscamente, e às vezes, alguma folha de alguma árvore baixa roçava em minha bochecha. Estávamos fugindo pela floresta, e a única iluminação que tínhamos era a luz da lua, que brilhava graciosamente no céu escuro e sem estrelas. A única coisa que se podia ouvir era o som de cascos batendo no chão, e latidos. "Espere... O quê? - pensei - Isso são cães??"
- Dylan! - gritei para poder ser ouvida através do vento - Você está ouvindo esse som?
- Você se refere ao som de cães latindo? - ele disse e quase não pude ouvir - Sim. Acredito que seus Tios tenham os soltado para nos farejar. - ele suspirou - Parece que temos problemas.
Eu me apertei contra ele, e rescostei minha cabeça em suas costas grandes e fortes. Fechei meus olhos, e me concentrei em tentar não pensar na possibilidade de nos pegarem. Mas não pude, pois logo depois, ouvi o som de um tiro, e de repente estávamos todos caídos no chão.
- O que aconteceu? - eu disse ofegante.
- Sinto muito, Paige. - ele disse, mas estava olhando para Diana, que agora estava deitada no chão - Acertaram na coxa esquerda da sua égua.
Ela estava caída, em uma enorme poça de sangue, e parecia inconsciente. Eu queria chorar, quando Dylan pegou em meus ombros e disse:
- Ela está muito machucada Paige. Pode sobreviver, mas provavelmente nunca mais poderá andar. - ele dizia enquanto me ajudava a levantar - Eu sei o quanto ela era importante para você, mas não podemos fazer nada por ela, e se ficarmos aqui, certamente seremos pegos.
- Tudo bem. - eu fechei os olhos para segurar as lágrimas - Está certo. Ainda temos chance de escapar, se corrermos.
Dylan se abaixou para pegar minha bolsa, e eu peguei a sua, que era menor. Ele a colocou sobre o seu ombro, e depois me deu a sua mão livre. E então, corremos o máximo que pudemos. Olhei para trás para ver se tinham nos alcançado, e não vi ninguém.
- Para onde vamos? - perguntei.
- Não podemos ir para a vila, pois lá seremos facilmente encontrados. - ele parou de falar um pouco, para pensar - Temos que, de algum modo, despistá-los.
- Podemos ir em direção às montanhas. - paramos um pouco, para tomar fôlego, atrás de uma pedra grande - Acredito que lá tenha cavernas, e poderíamos nos refugiar em alguma delas.
- É uma boa ideia docinho. - ele disse e deu um sorriso. Senti que ele estava prestes a dizer mais alguma coisa, quando ouvimos um tiro se chocando contra a pedra.
- Eles nos acharam! - eu disse - CORRA!
Pegamos as coisas e saímos em disparada. Desta vez, não estávamos de mãos dadas, e por isso, eu ficava olhando ele, de vez em quando, para me certificar de que ele ainda estava ao meu lado. Continuamos correndo, mas quando olhei para ele de novo, não vi o barranco na minha frente e despenquei de lá de cima. Pude ver que Dylan tentou me segurar, mas ouvi outro tiro, e ele despencou junto comigo.
Fomos rolando até embaixo, e quando me recobrei da queda, senti uma imensa enxaqueca. Comecei a chamar por Dylan, pois não conseguia vê-lo, até que meus olhos pararam em uma silhueta de alguém deitado, nas margens rio.
- DYLAN! - gritei e corri em sua direção.
Me agachei ao seu lado. Ele estava virado de costas pra mim, e havia uma poça de sangue embaixo dele. "Não... Não, não pode ser!" - pensei. Então, delicadamente, virei ele de barriga para cima, e vi o sangue escorrendo do seu abdômen.
- Não! Dylan! - meu coração se apertou. Ele ainda estava vivo, então rasguei um pedaço de meu vestido, e pressionei contra seu ferimento. Ele se contorceu de dor no chão, e seus olhos encontraram os meus.
- Pa-Paige... - ele disse com muita dificuldade.
- Não, não diga nada, meu amor. - eu disse, ainda pressionando o machucado - Você perdeu muito sangue, e tenho que estancar o ferimento. Poupe oxigênio.
- Na-não... Sua... Cabeça... - ele disse, e então tossiu um pouco - Está sangrando.
- Está tudo bem. - eu disse - Eu vou sobreviver, e você também. Vou pegar um pouco de água para você.
- Não. - ele disse e agarrou minha mão - Por... Por favor, fique comigo.
- Tudo bem. - eu disse, voltando a sentar.
- O.. O medalhão.. - ele tossiu - On-onde está?
Olhei para os lados, até ver o lindo medalhão de ouro caído ao lado de uma pedra. Me levantei para pegá-lo, e depois voltei, sentando ao lado dele e pegando sua mão.
- Está aqui. - eu disse, segurando o medalhão e mostrando para ele.
- Paige... - ele disse em meio a dor - Fique com ele. Proteja-o. - desta vez, ele tossiu um pouco de sangue - Não deixe que caia em mãos erradas...
- Por quê? - fiquei confusa - Por que ele é tão importante?
- Isso não importa agora. - ele parecia sem fôlego - Só não deixe que saibam que você o tem. Por favor. Faça isso por mim.
- Tudo bem. - eu disse - Eu o protegerei com a minha vida. Eu prometo.
- Meu anjo... - ele colocou uma de suas mãos em meu rosto.
- Sim? - lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.
- Eu... Eu... Te amo.
E então ele fechou os olhos, e morreu.
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Escrava da Paixão
Teen FictionPaige Foster é uma garota de 17 anos que vive na pacata cidade de Deadwood - Dakota do Sul, Estados Unidos - com os tios, no ano de 1839. Desprezada pelas pessoas e, maltratada pelos tios, Paige acaba se apaixonando por Dylan, um escravo que trabalh...