Capitula 6

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- Não podemos mais ficar com ela. - ouvi uma voz feminina dizer - Apaixonada por um escravo? Dá para acreditar? - ela suspirou - Pense no que a nossa vizinhança irá pensar!

Abri os olhos com um pouco de dificuldade. Já estava de dia. Pude ouvir duas pessoas conversando na sala de jantar, apesar da grande porta de madeira, que dividida os dois cômodos, estar fechada. Levantei-me e fui em direção à porta, para poder ouvir melhor o quê as duas pessoas conversavam.

- Eu sei, eu sei, Abigail. - reconheci a voz do Tio Max - Mas o que podemos fazer? Não é como se pudéssemos lançá-la na rua. Iria pegar mal para nós do mesmo jeito.

- Sim, mas... - Tia Abigail não terminou sua frase.

- O quê foi? - Tio Max perguntou - No que está pensando Abigail?

- Max... - Tia Abigail disse - Tive uma ideia genial! Podemos vendê-la como escrava no leilão da vila! - não pude acreditar no que acabara de ouvir .

- Hmm - Tio Max parou um pouco para pensar - É.. Me parece uma boa ideia, mas não impede os nossos vizinhos de descobrir.

- Impede sim! - Tia Abigail, pela primeira vez em anos, parecia feliz - Pense bem, nossos caros vizinhos são esnobes demais para irem até a vila, para comprar escravos. Seus escravos são entregues por encomenda. Assim poderíamos ir a vila para vendê-la. Eles nunca descobririam!

- Bem.. É uma boa ideia mas... - eu estava rezando para que Tio Max não concordasse com a ideia - O que vamos dizer se perguntarem por Paige?

- Podemos dizer que ela estava na floresta... - Tia Abigail deu a ideia - E foi morta por um urso!

- Abigail... - Tio Max disse - Mande os escravos arrumarem a carruagem e os cavalos agora. Eu vou ver se deixei meu paletó na cozinha, e depois ver se a garota ainda se encontra desacordada.

Corri para o outro lado da sala, em direção à porta do corredor. Trancada. Olhei para todos os lados, e percebi que todas as janelas e portas estavam fechadas. Mesmo de dia, até a lareira estava acesa, para evitar uma possível fuga pela chaminé. Eu estava presa. Eu não sofria de claustrofobia, mas comecei a me sentir mal, e ficar sem ar. Coloquei a minha mão sobre meu peito, e de repente me dei conta de que ele estava "vazio".
"O medalhão! - pensei - Droga! Onde coloquei aquele maldito medalhão?" Comecei a procurar por toda a sala, em cada canto, em cada mesa, todos os lugares. Foi quando vi a ponta de alguma coisa dourada, refletindo a luz do sol, de dentro do bolso do paletó preto de meu Tio. "Achei!" Fui até o sofá, e tirei de dentro do bolso o medalhão que Dylan me dera antes de morrer. Quando puxei-o, também caiu de dentro do bolso um papelzinho, na qual estava escrito: "In coniunctione solis et lunae, sacramentum hoc revelatum est".

Fiquei confusa. Eu não consegui entender o que estava escrito ali. Então, ouvi o barulho de uma chave entrando na fechadura e sendo girada. Tive que pensar rápido, então coloquei o papel de volta no paletó, e enfiei o medalhão no meu espartilho, para que ficasse escondido no meu peito. Corri de novo, em direção à porta do corredor, e fiquei parada lá, até que Tio Max entrou e disse:

- Oh, Paige! Você está acordada!

- Sim, eu estou. - eu disse.

- Parada aí, ao lado da porta do corredor... - ele me olhou de cima a baixo - Não estava tentando escapar de novo, não é? Por que... Bem... As portas estão trancadas... - ele disse e deu um sorriso maldoso.

- Eu ouvi sua conversa com Tia Abigail. - eu falei depressa - Por que vocês vão fazer isso comigo? - eu estava indignada - Só por medo do que os outros vão pensar?

- Não "só" por causa disso. - ele desviou o olhar - A coisa é bem maior. E se os vizinhos desconfiarem de alguma coisa...

- O quê? - eu já não estava entendendo mais nada - Que coisa? E do que os vizinhos vão desconfiar?

- Não posso revelar a você Paige. - ele disse secamente - Você não precisa saber. Então pare de fazer perguntas.

- Tudo bem. - bufei - Mas, por favor Tio Max, vocês não precisam fazer isso. Não precisam me vender! - eu me aproximei dele - Se vocês me deixarem ir, eu prometo que nunca mais ouvirão falar de mim outra vez!

- Sinto muito, Paige. - ele suspirou - Mas não posso confiar na sua palavra. E depois do ocorrido, você não pode mais ficar aqui.

- Mas por qu... - eu comecei a dizer, quando ele me interrompeu.

- Nada de "mas". - ele me encarou - Eu disse, SEM PERGUNTAS.

Então, ele puxou meu braço e praticamente me arrastou para o lado de fora da mansão, até os estábulos, o que me trouxe muitas lembranças. O dia em que conheci Dylan, ele me trazendo lírios brancos, quando ele pediu que eu fugisse com ele, a nossa tentativa de fuga, a sua morte... Naquele momento, senti vontade de chorar de novo, mas então, Tia Abigail nos viu, e deu um sorriso sarcástico para mim. Isso me fez querer gritar.

- Ora, ora... - ela disse - Se não é a fugitiva que tem uma queda por escravos... - ela começou a rir zombeteiramente, enquanto caminhava em minha direção.

Apesar da maquiagem, e o lindo vestido bordô, sua aparência não era das melhores. Seu cabelo louro quase grisalho, encaracolado e cheio de pontas ressecadas, fazia parecer que ela tinha uns 10 anos a mais do que realmente tinha. E seu rosto também não ajudava. Quanto mais ela chegava perto, mais dava para ver suas rugas e pés de galinha. Seus olhos tinham uma profunda cor âmbar e sua esclera era levemente amarelada.

- Abigail. - eu disse secamente - Que desprazer vê-la de novo.

- Desprazer? - ela quase pareceu indignada - Oh, por favor. TIA Abigail. Tenha um pouco de respeito. Eu sou sua tia e quase mãe.

- Uma mãe não vende sua filha como escrava, por medo do que os outros vão pensar, por causa de um "amor proibido". - eu senti a raiva crescendo dentro de mim - Além disso, eu jamais consideraria você como minha mãe.

- É... Tanto faz. - ela disse, e então virou de costas. Ela se dirigiu até um armário velho e empoeirado, e pegou uma algema e um pequeno pano de limpeza. Aí se voltou para mim e sorriu sarcasticamente - Max, por favor, segure Paige.

- O quê? - eu disse - Não, fique longe de mim!

Tio Max veio por trás de mim, e me agarrou, segurando meus braços contra meus peitos. Então, Tia Abigail pôs as algemas em mim, e amarrou o lenço em minha boca, para me impedir de falar ou gritar. Eles me seguraram, e então me jogaram dentro da carruagem, fechando a porta e se preparando para seguir até a vila onde eu seria vendida como uma mercadoria.

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⏰ Última atualização: Jan 13, 2015 ⏰

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