O inicio do fim

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Sam

Após Paul ter ido embora, ainda fiquei pensando em como ele se tornou uma pessoa boa, mas o que ficava martelando na minha cabeça era aquele nome. Cássia.

Então esse era seu nome, não sei ao certo de onde é, mas sei que não é comum por aqui. Tento descobrir de onde ela seria, mas não consigo. Enfim desisto e fico pensando apenas nela, naquele cabelo encaracolado da cor ruiva, lindos. Em seu sorriso, não lembro da ultima vez que falei com ela e se eu falei com ela, mas seu sorriso aparece em minha mente, em meus sonhos. Aquela garota estava em tudo.

– O jantar está pronto Sam!

Me disperso de meus pensamentos quando escuto o grito de minha mãe lá de baixo.

– Já estou indo Mãe!

Desço as escadas, e me sento na mesa. Meu pai está todo alegre contando de como estão indo bem os seus negócios e que já estava planejando férias de família para a Grécia ou Egito.

Já minha mãe estava contando de como foi seu dia com as amigas, passeio para tomar sorvete, ir ao Shopping , enfim , aqueles dias apenas de mulheres. Mencionou também a vinda de Paul em casa e de como o adorou conhecer e queria mais visitas dele em casa.

– Aquele seu amigo é adorável! É bom saber que meu filho está com boas companhias – ela pega o prato com pedaços de frango e me oferece – Mais filho?

– Com certeza – solto um risinho pra minha mãe – Paul é uma boa pessoa, pena que não tem nada de interessante pra se fazer aqui né mãe.

– Como não amor? – ela bate com a mão no ar – Bobagem, ele pode vir aqui as quartas à noite, quando fazemos nossa maratona de filmes. Não é mesmo Charlie?

– Claro querida, acho que ele iria adorar minhas narrações – meu pai da uma piscadela pra mim – você gosta não é filho?

– Ai meu Deus pai – começo a rir –Não vou trazer ele pra assistir filmes aqui, aliás, suas narrações são péssimas.

– Isso é verdade amor – minha mãe solta uma risadinha – Já sei!

– O que? – eu e meu pai perguntamos ao mesmo tempo.

– Ele pode ir pescar com vocês amanhã.

– Claro! Um final de semana apenas para homens! – meu pai aperta meu ombro com entusiasmo.

Desde que voltamos a ser uma família normal e alegre, meu pai vai pescar todos os finais de semanas comigo, converso muito com ele sobre a escola e oque estava acontecendo na minha vida e claro de garotas, mas eu nunca prolongava demais esse assunto, até porque não tinha ninguém especial. E o resultado da pescaria era um peixe grande – me esqueci do nome – que comíamos no dia seguinte no jantar.

– Isso seria ótimo, e com a ajuda de Paul vamos ter um peixe extra pra comer no jantar – dou uma risada para meu pai.

Eu nunca imaginei que o Paul sairia com meu pai e eu no dia de pescaria, justo aquele Paul que me odiava e sempre arranjava confusão comigo, mas agora era diferente. Já estava me acostumando com a ideia de ter um amigo desde o momento em que conversávamos no meu quarto. Pude perceber que ele estava realmente interessado nos meus assuntos e prestava atenção no que eu falava , soltando algumas piadas e depois ele dava a gargalhada e é claro, era contagiante.

– Então está combinado – meu pai me aponta o dedo – Sam, amanhã cedo você vai na casa de Paul e o convida para nossa pescaria.

– Ok, mas pai, que horas vamos sair daqui?

– Depois do almoço, às 13 horas.

– Tudo bem, irei avisá-lo.

O jantar segue muito alegre, meu pai começa suas narrações assim que mamãe começa a comer desajeitadamente a coxa do frango, depois ela faz uma cara emburrada de brincadeira para meu pai, e depois desemburra com o selinho que ele dá nela. Nunca imaginei que voltaríamos a ser assim novamente, felizes , como uma família normal, mas estava acontecendo. E eu estava amando cada segundo daquilo.

***

O despertador toca as oito da manhã. Vou para o banheiro me preparar pro novo dia que começa. Terei que ir a casa de Paul convidá-lo para a pescaria de hoje e quem sabe ficar por lá para saber mais sobre Cássia. Não que eu esteja obsessivo, mas aquela garota não sai da minha cabeça. Com esses pensamentos, fico com mais pressa para ir a casa de Paul e demorar o que fosse necessário.

– Mãe, estou indo na casa de Paul - digo descendo as escadas rapidamente.

– Pelo menos tome café da manhã filho!

– Não mãe, tenho que ir por que a casa dele é longe – mentira – Até na hora do almoço, beijo te amo.

Pego a bicicleta na varanda, mas antes lá vem ele todo contente, Smille , meu cachorro morde e puxa o cadarço de meu tênis.

– Para Smille! Olha só você desamarrou tudo seu pestinha! – pego meu cachorro no colo e brinco o jogando pra cima – Agora chega amigão, tenho que ir.

O coloco no chão e percebo que ele está com as perninhas um pouco bambas, tadinho , toda vez que que brinco assim ele fica tonto.

Pego minha bicicleta e vou em direção a casa de Paul. Quando viro a terceira esquina seguida a esquerda, passo por uma casa de dois andares e percebo que tem alguém na varanda. É ela. Cássia.

– Cássia! – paro a bicicleta e grito da rua.

Ela me olha por um segundo e depois entra para dentro de sua casa. Talvez ela não queira conversar, ou apenas me ignora. Então resolvo ir embora.

Chego na casa de Paul, uma casa simples com um quintal de flores à direita, e muitos brinquedos para cachorro jogados no quintal e é claro lá estava o cachorro acorrentado, é um cachorro grande, porém não consegui distinguir sua raça.

Subo os degraus da varanda e bato na porta.

Uma mulher me atende. Com seus cabelos longos louros – feito luzes – olhos castanhos de pele clara, aparenta estar cansada , e percebo que na mão direita ela segura um pano sujo e na esquerda um desinfetante, então ela encosta com braço esquerdo na porta.

– Pois não? – ela limpa o suor da testa.

– O Paul está?

– Não ele saiu a alguns minutos, gostaria de deixar um recado?

– Bom, diga a ele que o convidei para uma pescaria, irá meu pai, eu e Paul – dou uma pausa – Claro, se a senhora permitir que ele vá.

– Claro, como é seu nome?

– Sam

– Sam? – ela fica meio confusa – Você não é aquele garoto que namora a amiga dele... como se chama mesmo... Ah, Cássia?

Minha respiração para por um instante. Como assim namorado de Cássia? Ele já estava espalhando mentiras sobre mim?

– Namorado?

– Desculpe, terminaram? – ela coloca o pano no ombro e depois coloca a mão sobre o meu – Sei como isso é difícil rapaz.

– Não... – estou sem palavras – Ele disse isso?

– Claro que não – ela passa a mão atrás da orelha esquerda – É que outro dia eu o escutei falar no telefone com esta garota.

– O que eles falavam? – precisava saber mais sobre esta história que ele não me contou.

– Não precisa ficar com ciúmes , eles são só amigos – ela me lança um sorriso – Bom, pelo o que eu entendi , estava relacionado a ter alguém de volta, recuperar a memória e sobre um livro de família.

Então, os flash dos sonhos voltam. Uma floresta densa que parecia estar queimando, ao longe vejo a sombra de uma garota jogando um livro na fogueira e depois eu, inconsciente no chão.

– De-desculpe – digo gaguejando, pois estou muito nervoso e confuso – Tenho que ir... avise o Paul sobre... obrigado.

Me retiro com a mão sobre minha têmpora, uma dor de cabeça aguda começa. Estou com muita dor, tento pegar a bicicleta mas minha tentativa é vã pois logo em seguida desmaio.

A saga Sorcière - DesterroOnde histórias criam vida. Descubra agora