A Despedida

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Enquanto eu escuto o barulho na cozinha, vou até o banheiro e tomo outra ducha pra tentar assimilar tudo o que acabou de acontecer. Coloco minha roupa e deixo os sapatos e a bolsa perto da porta. Ele me olha da porta da cozinha.

- Já vai? – pergunta encostando no batente.

- Acho que ferrei com o clima – dou um sorriso sem graça.

Ele se aproxima de mim e coloca meus cabelos pra trás dos meus ombros e encara meus lábios.

- Não precisa ir agora, até porque você não vai demorar nem 1 minuto pra atravessar o corredor. O café já vai ficar pronto. – ele encara meu olhos com esperança de que eu fique.

- Ta bom, mas só se você me mostrar seu trampo... – eu levanto as sobrancelhas.

Ele sorri e gesticula com as mãos apresentando os álbuns na prateleira – Fica à vontade.

Ele volta pra cozinha enquanto abro o primeiro álbum. Muitas fotografias de uma menina na multidão, depois algumas fotos de um casamento, outras fotos de uns amigos no bar. Todas extremamente espontâneas e que despertam bastante sentimento.

- Você é bom. Muito bom. – eu digo impressionada.

- Em qual das coisas? – ele coloca a cabeça na porta com um sorriso largo que PUTA QUE PARIU – Brincadeira, obrigado.

- Modesto também... – eu falo ironicamente com um sorriso no rosto.

Ele sai com duas xícaras de café preto e um potinho de açúcar, coloca em cima da mesa e senta na cadeira.

- Não resisti... – me entrega uma das xícaras com café preto. – Desculpa se eu te assustei. Eu já tinha reparado em você, na verdade é impossível não reparar. – ele disse com os olhos intensos.

- Ta tudo bem, eu só não esperava que você soubesse que éramos vizinhos, e depois fiquei me sentindo uma idiota...O problema não é com você – eu tomo um gole de café e viro mais uma página do álbum.

- Existe um problema de fato? Porque a gente acabou de se conhecer de verdade, e acho que perdi alguma informação... – ele diz.

Não tenho coragem de encarar seus olhos e continuo vendo as fotos, sem realmente prestar atenção no que vejo.

- Felipe, eu realmente não gostaria de falar sobre isso. Eu já to me culpando absurdamente pelo que aconteceu e eu não quero trazer você pra minha bagunça mental. – ao finalizar a frase eu olho em seus olhos que estão me analisando procurando por uma resposta.

- Ok, eu não quero te pressionar. Só não quero que isso seja um empecilho pra gente se conhecer melhor...e você me dar seu número de telefone. – Ele levanta uma sobrancelha e encara meus lábios novamente.

Se eu der meu número de telefone eu posso ignorar, se eu não der ele pode me procurar na porta da minha casa. ÓTIMO. Ta.

- Não vai impedir de eu te dar meu número. Mas isso não é garantia de um segundo encontro. – eu encaro ele.

- Sem pressão. – ele levanta e vai até o quarto e pega um álbum pra me entregar. – Quero que veja esse. – ele diz me entregando outro álbum.

Eu fecho o primeiro, coloco em cima da mesa e pego o que ele me entrega. Abro e vejo fotos de várias mulheres sem maquiagem, pouca edição, usando somente camisetas, ou nuas, ou com lingerie. Todas elas pareciam ter sido fotografadas em seus momentos íntimos de paz, nenhuma era sexualizada apesar de serem sexys pelo conceito.

- Caramba, você é incrível. – eu olho mais de perto os detalhes de luz e sombra.

- Você gostou? – ele da uma pausa. – Você é a primeira a ver. Acho que é mais fácil mostrar pra estranhos. Mas eu to dizendo isso porque eu tive vontade de te fotografar essa noite... – eu olho pra ele franzindo o cenho.

Será que ele faz isso com todas que ele come? Ta de sacanagem.

- Eu??? Ta doido? Porque eu? – eu digo incrédula.

- Porque você não é profissional como as dessas fotos. Eu convidei amigas que já fizeram outros trampos publicitários pra mim. A ideia é fotografar mulheres diferentes e de verdade, sempre espontâneas. – ele senta e coloca a cadeira mais perto.

Ok, menos mal. Respira.

- Vou pensar. Melhor eu ir... – eu fecho o álbum e me levanto. – Obrigada pelo café. – ele se levanta logo em seguida.

- Ta bom, pelo menos não foi um não... – ele ri e me segue até a porta e fica na minha frente antes de eu conseguir colocar a mão na maçaneta. – Obrigada pela companhia nessa noite. – ele diz colocando a mão na minha cintura e me puxando pra perto.

Eu dou um passo pra frente involuntariamente e encaro seu rosto deixando nossas bocas tão próximas a ponto de sentirmos a respiração um do outro.

Eu não resisto e beijo ele de novo colocando meus braços ao redor de seu pescoço, um beijo intenso e devagar, pra prolongar aquele momento que pra mim precisava ser uma despedida, e pra ele parecia uma súplica de que não fosse. Ele desce a mão até minha bunda e me aperta contra seu corpo e eu sinto ele ganhando vida novamente.

Eu paro o beijo e finjo que tiro algo da garganta e ele abre um sorriso como se tivesse ganhado uma batalha.

- Preciso mesmo ir – eu dou um selinho e desço minhas mãos pelo peitoral nu na minha frente. Abaixo pra pegar minhas coisas enquanto ele abre a porta e se apoia nela me olhando.

- Tudo bem – ele suspira, claramente chateado com a minha partida. – Bons sonhos! – ele diz enquanto ando pelo corredor de costas pra dar uma última olhada naquele corpo maravilhoso. Ele ri em resposta.

-Bons sonhos! – eu digo pegando a chave e me viro pra abrir a porta. MEU DEUS, porque tão gato?

Abro a porta do meu apartamento e fecho logo em seguida encostando na porta.

WHAT THE FUCK? QUE PORRA QUE ACONTECEU? Acho que nunca tive tanta química com alguém. ELE PRECISAVA SER MEU VIZINHO? Vou querer dar pra ele o tempo todo e ai não vai dar certo, ele pode se apegar, EU POSSO ME APEGAR, e não tem como evitar ele depois. SOCORRO.

Coloco meu celular pra carregar, troco de roupa e coloco uma camiseta pra dormir, deito na cama relembrando tudo dessa noite e minhas entranhas se animam.

SOSSEGA ESSE FOGO! Você não pode transar com ele de novo!

Abro meu celular no grupo das meninas e ignoro o assunto anterior. Mando um áudio contando o que tinha acabado de acontecer com detalhes e caio no sono.

Paixão & LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora